Dia 25 e 26 de Agosto
Maputo: antiga Lourenço Marques!
Saímos do hotel e já se sentia um calor tremendo na rua. Nas notícias tinham previsto 33º C. Fomos apanhar o barco para a Catembe, onde tínhamos duas opções: o ferry que saía de hora a hora (aproximadamente) ou uns barcos pequenos que estavam sempre a circular. Nos barcos pequenos a viagem era o dobro do preço (10 meticais) e as pessoas iam como sardinha em lata. Enquanto esperávamos no ferry pela partida, fomos vendo as pessoas a entrarem nos barcos pequenos. Parecia uma cena de desenhos animados. Não conseguimos perceber como é que tanta gente cabe num espaço tão pequeno. Um dos barcos até ia inclinado, mas a política parece ser a de que “cabe sempre mais um” à semelhança dos táxis. Assim que chegou a nossa hora lá zarpamos do porto no Ferry muito mais confortáveis (pelo menos assim parecia). A viagem é rápida, cerca de 15 minutos. A ideia de ir à Catembe era para irmos ver o restaurante do meu bisavô e conhecer este sítio de que tanto ouvi falar. Este restaurante foi o primeiro a abrir aqui e na altura não havia praticamente mais nada na Catembe. Quando o meu avô nasceu, foi criado aqui durante algum tempo. O restaurante, segundo conta o meu pai, é logo à saída do porto. O edifício que encontrei era praticamente uma ruina, apesar de as edificações estarem todas presentes. Parece que depois do meu bisavô mais ninguém quis saber do lugar. Andamos então a passear um pouco pela zona que só tem praticamente barracas de venda e tascas. Senhoras a venderem peixe “fresco” à saída do porto e lixo por todo o lado. Mas ainda assim o barco vinha cheio e a azáfama era grande.
Não chegamos a ir ao famoso Marisol, que fica afastado do porto e é necessário ir de carro.
Depois do passeio pela Catembe, voltamos a atravessar a baia de Maputo em direção à cidade. Fomos visitar a fortaleza de Maputo edificada pelos portugueses, que conta um pouco da história da cidade. Um local interessante, bem cuidado e em bom estado ao contrário de grande parte da cidade. Junto à fortaleza está um mercado de artesanato de rua, onde toda a gente quer vender qualquer coisa. Tem coisas interessantes, mas muita coisa que vimos aqui, também se vê na África do Sul e na Suazilândia. No final do dia, vem tudo dos mesmos lados e depois é distribuído por esta gente para ser vendido nestas feiras. Aqui somos “perseguidos” pelos vendedores que vão baixando os preços a cada passo que damos. Todos eles fazem “bom preço” e chegam a andar connosco durante imenso tempo na tentativa de nos venderem alguma coisa que seja.
De seguida fomos visitar a cassa de ferro e a catedral de Maputo, onde estava um coro a ensaiar. Passamos pela grande estátua do Samora Machel que está sempre de dedo em riste. A seguir fomos procurar as antigas casas da nossa família. Fomos em direção ao Alto Maié onde passamos por uma das casas onde ele morou, ou pelo menos assim no parece. Seguimos a estrada que levava a uma das casas do meu pai. A meio da rua acaba o cimento e começa a terra e as casas começam a degradar-se enquanto avançamos no caminho. Tiramos fotografias no local que o meu pai me indicou para depois confirmarmos se a casa dele ainda lá está. A partir do Alto Maé para cima, a cidade transforma-se num monte de casas velhas e barracas, mas é engraçado porque parece que tem uma vida própria, à margem do centro de Maputo.
Depois do Alto Maé, descemos para a Polana para encontramos a casa da mãe da Marisa. Esta foi mais fácil de encontrar, porque fica mesmo ao lado do antigo Automóvel Touring Clube, que ainda hoje existe mas sobre o nome de Associação dos empresários de Moçambique (ou qualquer coisa do género). A casa lá estava, de cor amarela em obras, enquanto que ao lado na associação estava a decorrer um casamento. Ainda espreitamos pelos muros e vimos se dava para entrar, pelo menos no jardim, mas estava tudo fechado.
Fomos então para a Costa do Sol, pela marginal. Até chegarmos ao famoso restaurante “Costa do Sol” foi uma aventura. A berma da estrada estava repleta de carros e de gente que faziam uma festa de arromba. Música em altos berros, geleiras com “bejecas” e grelhadores com frangos a assar por todo o lado. O pessoal que já estava quentinho estava dentro de água. A praia estava também cheia de gente. Paramos pelo caminho para irmos molhar os pés e tirar umas fotografias ao pôr do sol. O restaurante esta também cheio de gente. Demos a volta e voltamos novamente pela marginal. Fomos então ao Hotel Cardozo para apreciar a vista, mas já era de noite e não conseguimos chegar a tempo do pôr do sol, que nos tinham dito ser um espetáculo digno de se apreciar. No entanto, deu para perceber a beleza do espaço. O hotel com traços coloniais é um dos mas bonitos da cidade. Seguindo a rota dos hotéis, fomos ao majestoso Hotel Polana. De fora o hotel é realmente bonito, mas por dentro e na zona das piscinas atrás é qualquer coisa de especial. Uma vez que o hotel termina numa encosta que dá para a marginal, da piscina têm-se uma vista para o oceano Índico fantástica. Este edifício colonial é seguramente o maior símbolo do requinte Português na antiga Lourenço Marques. Certamente uma atração a não perder na visita a Maputo.
Fomos então jantar a um restaurante perto do Hotel Avenida, quase em frente à embaixada de Portugal que é um prédio enorme mesmo em cima da marginal.
No dia seguinte fomos visitar o mercado do Xipamanine. Quem conheceu ou conhece o Xipamanine, pode facilmente visualizar a confusão deste mercado. Para já, para lá chegarmos tivemos de conduzir algum tempo em estrada de terra com casas a caírem e barracas por todo o lado. Chegamos à confusão do mercado e espreitamos lá para dentro pela janela do carro. Nem sequer tentamos entrar. Demos a volta um pouco mais à frente e voltamos para a baixa. Fomos então ao bazar, que é onde fazem o mercado. O edifício esta em obras para restauração, mas a parte que já estava aberta é muito agradável a fazer lembrar os mercados típicos Portugueses.
Antes de sairmos de Maputo, passamos mais uma vez pelo Hotel Polana para tirar umas últimas fotos. Foi então que encontramos a igreja da Polana, no formato de um chapéu de chuva, que tínhamos andado a procurar no dia anterior. Fica situada no antigo bairro de Sommerschield, que era, e ainda é, uma zona nobre na cidade. A igreja estava fechada mas deu para espreitar pela janela o interior. É uma verdadeira obra de arte da arquitetura erigida nos anos 60 e recuperada nos anos 90. Sem dúvida uma das igrejas mais interessantes que já vi.
Saímos então de Maputo em direção à fronteira de Resano Garcia. Pelo caminho ainda passamos pela Matola. Visto da estrada, pareceu-me mais arrumado do que Maputo e sem tanto lixo. Chegamos então à fronteira e voltamos a entrar na África do Sul. Parece que voltamos à civilização, mas ficou a sensação de deixarmos para traz uma parte de nós, da nossa história e da nossa gente. Agora compreendo melhor quando ouço as pessoas falarem com tanto carinho dessa já longínqua Lourenço Marques.
Chegamos a Komatipoort, onde dormimos num local com vista para o Kruger.