Marrocos 2012 – Em Fès 2/3

Em Fès

Fès é a segunda cidade mais visitada de Marrocos, depois de Marraquexe, e uma das mais importantes no país. É famosa pela sua Medina, uma das maiores do mundo, e das universidades, as mais importantes de Marrocos. Para além da Medina, a parte nova da cidade também é muito grande. A riad em que ficamos, mais uma vez situa-se bem dentro da Medina. Deixamos o carro num parque junto ao hotel Batha. Pagamos ao “guarda” 40 Dirhams (< 4€) para nos guardar o carro durante dois dias, mas antes tivemos de negocia porque o senhor queria 50 Dirhams. A riad é gerida pela mãe Fatima e a filha Khadija, as pessoas mais simpáticas que conhecemos em Marrocos. Depois de nos instalarmos fomos até ao terraço da riad, onde nos deram as boas vindas à boa maneira Marroquina, com um gostoso chá de hortelã-pimenta quentinho. 

Partimos então à descoberta da Medina, que é um complexo emaranhado de ruas assustador, onde ao contrário de Chefchaouen, o mais provável é perdermo-nos em cada esquina. Já tínhamos sido avisados em relação aos labirintos da Medina e à confusão de gente que importuna os turistas para vender ou para servirem de guias, ditos “oficiais”. Na altura em que chegamos estava na hora das orações e por isso havia menos movimento nas ruas. Na riad explicaram-nos a organização das ruas e como chegar à rua principal da Medina, onde se concentra grande parte do comércio. Fizemos o reconhecimento da rua, mantendo-nos sempre que possível em linha reta. Quando era necessário virar numa rua, memorizamos pontos de referência para podermos voltar atrás. Recorremos também ao GPS para traçar o percurso que íamos fazendo, para caso nos perdêssemos podermos voltar a trás. Muito do comércio ainda estava aberto e depois das orações algumas lojas voltaram a abrir e o movimento nas ruas aumentou.

Algumas pessoas com quem fomos falando ao longo da viagem e antes, recomendaram-nos que andássemos sempre com um guia em Fès para não nos perdermos e principalmente para não sermos “assediados” por outros trafulhas. Este não é bem o nosso estilo de conhecermos os lugares que visitamos, pois gostamos de partir à descoberta por nós próprios, normalmente com o suporte de um mapa e algumas informações locais. Em Fès o mapa de pouco serve no labirinto da Medina. A “contratação” de um guia neste cenário era algo a ser seriamente considerado. Mas para o primeiro dia estávamos bem: fizemos um primeiro reconhecimento, fomos jantar e depois descansar na riad.

No segundo dia em Fès partimos à aventura pela Medina … sozinhos. Os verdadeiros guias conhecidos pela riad estavam todos ocupados e com os guias “ditos” oficiais contaram-nos que muitas vezes são interceptados e levados pela policia local, deixando os turistas sozinhos na Medina. Assim sendo, decidimos ir sozinhos sempre com atenção (tanto quanto possível) às ruas por onde íamos passando. As ruas da Medina exuberam cores e aromas de especiarias por tudo quanto é loja. Aqui todos os cubículos servem para vender qualquer coisa, desde bolos, cerâmica, bijutaria, especiarias, curtumes, esquentadores, …, enfim, tudo o que se possa imaginar, vende-se na Medina. Afinal de contas, estes são os centros de comércio das cidades. Os preços, como se diz por aqui, são sempre democráticos. Fomos pois andando por entre tamanha “democracia” apreciando este cenário tão medieval, mas ao mesmo tempo tão consumista.

Rapidamente chegamos à zona das tinturarias de peles, a tannerie, a qual deu sinal à distância, quer pelo “agradável” aroma que emana para os transeuntes, quer pelo tráfego de burros que carregam as peles e aliás quase tudo dentro da Medina. Por aqui são chamados os “táxis” da Medina, só que estes não transportam passageiros, apenas mercadorias. Se em Portugal temos um problema de extinção com esta espécie tão acarinhada, por aqui os burros abundam por todo o lugar. Bem, mas ainda assim, na terra de Camões também deambulam muitos “burros”, mas esses andam por outras Medinas. Voltando às peles… O cheiro do local era realmente mau, mas nada que não se suportasse. No verão, com o calor, deve ser bem pior. Assim que chegamos, os locais tiveram logo a “amabilidade” de nos oferecerem um raminho de hortelã para disfarçar o cheiro e convidaram-nos para irmos aos terraços, passando pelas suas lojas. Recusamos! Quisemos ir diretos à imundície onde decorria o verdadeiro labor da pele. O chão molhado e escorregadio, bem como a defecação dos burros compunham um cenário idílico. Chegamos junto dos poços onde as peles são tingidas e um senhor de galochas veio logo ter connosco para nos fazer uma visita guiada (10 Dirhams p/ pessoa). Levou-nos por entre os poços e escadas minúsculas que desvendavam várias seções onde o trabalho das peles se desenrolava e onde as condições de trabalho dos homens eram indescritíveis.  O trabalho da tinturaria em Fés é feito desta forma, dizem, à 7000 anos. Dizem que desde então pouco mudou no processo de produção e que mantêm o sistema hierárquico que diferencia os vários tipos de trabalho com a pele. No final do “tour” fomos então a um dos terraços com vista para a tannerie, onde pudemos apreciar uma vista panorâmica com uma multiplicidade de cores característica. As peles secavam pelos terraços em várias cores, mas hoje o amarelo era a cor predominante.

Depois das peles continuamos o passeio tranquilo pela Medina. A zona da tannerie foi o local onde os Marroquinos foram mais persistentes. A partir dai acalmaram! Seguimos para a Medersa Bouinania próxima da porta azul. Almoçamos num dos restaurantes mais conhecidos pelos turistas e que nos tinha sido recomendado: o café clock. Aqui é possível comer algumas iguarias marroquinas, fugindo às tajines que o mais comum em quase todos os restaurantes. Durante o restante passeio pela Medida sempre fomos parando aqui e ali, umas vezes só para apreciar as lojas, outras vezes para nos lançarmos num alegre regateio por qualquer coisa que nos interessasse. Uma coisa que aprendi, faz já algum tempo, é que por muito bom que o negocio nos pareça, o vendedor sai sempre a ganhar… e bem. Nada de ilusões, o regateio faz parte da arte do negócio e sai sempre a favor do vendedor exímio nesta arte. Ninguém pense que consegue dar a volta a esta gente! Feito o balanço no final do dia, o percurso no GPS marcava para cima de 15 Km. Depois de comermos um pão marroquino com merguês, ou kofte (carne picada), ou galinha, cada um por 10 Dirhams (< 1€), fomos descansar para a riad.

No dia seguinte iriamos para Meknès, mas antes tínhamos a oração das 5:00 na mesquita mesmo à nossa porta para despertar.

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