Expedição aos Balcãs 2013 – Dia 2

27/07/2013, Sábado

Gospic, Jablanec, Zadar
Um dia de sábado pode ser igual em qualquer parte do mundo. A missão Adventista estende-se também aos Balcãs e o dia de sábado aqui difere pouco do sábado passado em casa. Visitamos pela manhã a igreja de Gospic, numa localidade perto da costa Adriática. O serviço segue a liturgia habitual e tivemos a amabilidade do irmão David Ciplic que nos traduziu a mensagem, que foi apresentada pelo seu tio. Durante o serviço ainda houve oportunidade de partilharmos um momento de louvor na língua de Luís de Camões, num momento especial apresentado pelo Pablo e pela Rita, que para estas andanças vêm sempre preparados com “alguma na manga”.
 
No final do serviço de culto fomos convidados para o almoço em casa do David. Quando nos sentamos à mesa, notamos que grande parte da igreja também ali estava sentada. Para além da família do David que frequentam a igreja de Gospic, também estavam outros familiares provenientes da Sérvia, entre outros que julgo não pertencerem à família Ciplic. Durante o almoço tivemos oportunidade de conhecer um pouco da história desta família, que se instalou na Croácia quando o avô do David veio da atual Sérvia e ali fundou a igreja de Gospic. Depois o seu pai montou um negocio (já lá vamos mais à frente) e ali permaneceram até ao despertar da guerra dos Balcãs. Nessa altura, devido à perseguição que os Sérvios sofreram por parte dos Croatas, a família foi obrigada a fugir do páis para a Alemanha, deixando tudo o que tinham para traz. Ali permaneceram durante três anos, após os quais decidiram voltar à Croácia. O receio de voltar era enorme e decidiram que só permaneceriam na Croácia se ainda tivessem ali os seus bens. Para seu espanto, apesar da destruição de quase todas as casas de Sérvios na cidade, a casa da família Ciplic mantinha-se praticamente intacta, só com os vidros partidos. E assim ali permaneceram até ao presente com o seu negocio em florescimento.
 
Ora bem, voltemos agora ao negocio da família Ciplic. No final de um longo e almoço recheado de iguarias vegetarianas tradicionais da Croácia/Sérvia e acompanhado de uma boa conversa, quer em Inglês, quer em Croata ou Sérvio (que é praticamente a mesma coisa), o David foi nos mostrar os escritórios da empresa da família. O negócio familiar dos Ciplic é de pedras fúnebres, sim, aquelas que ornamentam os cemitérios! Fizeram-nos uma visita guiada pelas instalações da empresa, mostrando-nos os vários modelos de pedras disponíveis, de acordo com a preferência dos clientes e as últimas tendências da moda fúnebre… sim porque parece que neste ramo de negocio também existem modas, e os cemitérios transformam-se em passerelles de mármores, travertinos e outras  pedras vistosas. O mostruário é vasto do qual se podem escolher uma variedade de modelos em vários tipos de pedra disponíveis. Todo o trabalho de preparação da pedra é feito ali e a empresa tem um artesão que faz as esculturas nas pedras. Achei muito interessante este negocio, primeiro porque na verdade nunca conheci ninguém ligado a este ramo que partilhasse comigo os meandros da arte fúnebre, do género, “Olha tenho um amigo, o João, que faz pedras para campas de cemitérios. Hoje vai-me me mostrar os últimos modelos que chegaram! Queres vir!?”; e em segundo lugar porque nunca pensei que este negocio pudesse ser tão rebuscado. Para mim, até hoje, uma campa é uma campa e ponto. Pode ser escura ou clara, nada mais. Mas afinal parece que é muito mais do que isso. A partir de hoje, nunca mais vou olhar para um cemitério da mesma forma!
De facto, pelas várias povoações que temos passado, temos visto sempre indicações para os cemitérios e até no GPS estes fazem parte das atrações turísticas (groblje era a palavra que teimosamente nos aparecia nos locais de interesse!). Depois da introdução ao negócio da família Ciplic, tudo isto ficou mais claro. Parece que na Croácia as pessoas dão um grande calor aos cemitérios e levam isto muito a sério. No escritório da empresa são disponibilizados ainda alguns livros gratuitos para dar conforto espiritual às famílias  enlutadas. Não deixa de ser uma boa “estratégia” de marketing espiritual.
 
Depois dos momentos alegres passados com a família Ciplic, partimos em direção ao mar adriático. Nesta altura importa referir que a média das temperaturas tem rondado os 30 graus e que só conseguimos estar confortáveis graças ao ar condicionado do Skoda Octávia. Chegamos ao vilarejo de Jablanac na costa do Adriático e a primeira coisa que fizemos foi entrar dentro da água azul turquesa (depois de estacionarmos o carro…). É irresistível e mesmo perturbador ver tanta água e sentir tanto calor e desta vez não fizemos a coisa por menos e não molhamos apenas os pés, mas todo o corpo, desde a ponta mais ínfima do cabelo até à extremidade mais remota da unha do pé. Este foi o primeiro banho, o qual viria também a ser a nossa “ruína” futura, isto porque a partir daqui deixamos de tolerar o calor e só pensávamos no refrigério  do Adriático. A verdade é que se tivéssemos preparado esta expedição só para este fim, já teria valido a pena.
 
As águas límpidas do Adriático servem de abrigo a uma diversidade fascinante de fauna marítima, da qual só conseguimos ter um pequeno vislumbre. Até a olho nu e à distancia se conseguem ver os peixes a nadarem felizes e contentes por entre as rochas. Uma da coisas que coloquei em primeiro lugar na lista de itens a trazer na expedição foram os óculos de snorkeling. Definitivamente é algo que é obrigatório trazer, pois permite-nos apreciar as profundezas deste mar “com outros olhos”. Isto é, apenas alguns metros de profundidade, até os pulmões aguentarem. Uma das particularidades destas praias, para além de não terem areia e o fundo do mar estar repleto de rochas, quando nos afastamos alguns metros da costa, o fundo do mar precipita-se rapidamente numa profundidade imensurável e imperceptível, o que causa alguma apreensão aos banhistas menos afoitos. Mas mesmo junto à costa é possível avistar um colorido folclore de peixes.
Dedicamos a tarde à natureza e em particular à exploração marítima (tanto quanto possível) e depois do primeiro spot de mergulho passamos para o próximo e assim fomos de mergulho em mergulho. Depois da água, demos um  passeio pela pequena vila de Jablanac e em seguida partimos para a cidade de Zadar.
Chegamos já ao início da noite e fomos diretos a uma das maiores atrações da cidade o Morske orgulje, órgão do mar em português. Trata-se de um órgão, obra arquitetónica, que toca notas musicais ao sabor da água do mar. Á medida que a água entra pelas suas “entranhas” são produzidas várias notas musicais, sendo que aqui a natureza é o único compositor. É interessante apreciar o som produzido pelo mar ao passar por este instrumento engenhosamente construído. Depois da música do mar, seguiu-se uma visita à cidadela, a parte antiga de Zadar, rodeada por muralhas e onde tem lugar grande parte da vida da cidade. Ruas animadas por vários “street performers” e muita gente a passear, a comer gelados e pizzas, são a imagem de marca da cidade. Visitamos a igreja de St. Donat, do século 9 DC. na praça central e passemos pelas várias barraquinhas de bugigangas espalhadas pela cidade. 
 
No fim da noite, após um refresco com um mix de granizado voltamos para Korenica, naquela que foi a nossa última noite nesta região da Croácia.

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