04/08/2013, domingo
Belgrado, Sarajevo
Chegou ao fim o congresso Pan-Europeu de jovens adventistas em Novi Sad. A participação no congresso foi a razão principal da nossa viagem até ao Balcãs. Foram muitas as experiências que aqui vivemos e certamente o melhor que levamos de toda esta epopeia. As memórias são muitas, marcantes e pessoais, dignas de registo num outro contexto que não o de um simples viajante. Por essa razão são omissas no relato desta expedição.
Saímos de manhã cedo pelas 7:00 do dormitório Car Lazar em Novi Sad, onde um mini-bus da organização do congresso nos aguardava pra nos levar até ao aeroporto de Belgrado. Tínhamos o carro de aluguer reservado para as 13:00, por isso à hora que chegamos ainda não havia viatura disponível. Comemos alguma coisa pelo aeroporto enquanto pusemos os emailsem dia. Recebi uma mensagem no facebook de um amigo na Roménia, o Adrien, que nessa madrugada, às 5:00, me dizia que ia ter connosco a Novi Sad para nos visitar! À hora em que li a mensagem, 09:00, já ele devia estar a caminho e eu não tinha forma de o contactar. Ainda liguei para Portugal para ver se algum dos nossos amigos em comum tinha o contacto telefónico dele, mas nada. A última vez que eu tinha tido alguma notícia do Adrien, foi no final de julho, ainda antes de vir para os Balcãs. Ele realmente tinha-me dito, que no sábado ou no domingo ia visitar-nos mas como nunca mais disse nada, pensei que ele já não tivesse planos de ir de Timișoara, a sua cidade, até Novi Sad . Mas não é que foi!!! E agora como contactar com ele? Respondi-lhe logo à mensagem do facebook, sabendo que ele só a iria ler quando estivesse de volta à Roménia. Disse-lhe que já estava no aeroporto, de partida para Sarajevo e pedi-lhe para me dar o número de telefone para eu lhe ligar mais tarde.
Estivemos a fazer tempo com outos amigos Portugueses do congresso que esperavam pelos seus voos. Facto interessante é que nenhum dos Portugueses que ali estávamos iria apanhar voo de regresso a Portugal Um grupo ia para Milão, outro para Istambul para continuar a sua odisseia, e nós para Sarajevo. Apesar de irmos duas vezes ao aeroporto de Belgrado, na íamos apanhar aqui nenhum voo.
Ao fim da manhã lá conseguimos levantar o carro e desta vez não tivemos a mesma sorte que em Zagreb. Não houve upgradee o veículo que nos calhou foi exatamente o que reservamos: Chevrolet Spark, azul metalizado! Mas tudo bem, cá nos iriamos arranjar e no final acabamos mesmo por nos acomodar muito bem. Saímos do aeroporto em direção ao centro da cidade, onde o Pablo e a Rita nos esperavam. Como eles ainda não tinham estado em Belgrado, aproveitaram a manhã para uma visita relâmpago, enquanto nós aguardamos pelo carro. Encontramo-nos na catedral de St. Sava, o tal templo ortodoxo que da última vez não tínhamos tido tempo para visitar. O templo é deveras imponente no exterior e uma marca indiscutível na cidade, mas a beleza exterior não reflete o interior. Na verdade, apesar de parecer um edifício histórico, o templo ainda está em construção. O interior ainda está “despido” de ornamentação, totalmente cru. Também se pode tratar de uma remodelação, mas se assim for é muito profunda. Com a pressa, nem nos lembramos de perguntar a alguém. Mas não me parece, estou mais inclinado de que se trate de uma nova construção.
Depois de sairmos de Belgrado, tivemos de nos fazer à estrada. Tínhamos uma longa viagem até Sarajevo, na Bósnia. Pelo caminho paramos numa área de serviço para almoçar e descansar um pouco. Afinal já estávamos a pé desde as 7:00. A Sérvia, fora de Belgrado tem pouco de atrativo, pelo menos na região por onde passamos que são só planícies, plantações de milho e pouco mais. Depois de sair da autoestrada ainda tivemos de dirigir alguns quilómetros por estradas secundárias até à fronteira de Loznica, que se situa sobre o rio Drina. O rio forma uma fronteira natural entre grande parte do território Bósnio com a Sérvia. Passamos a fronteira sem problemas, o que era à partida um bom prenúncio, pois durante esta parte da expedição ainda viríamos a cruzar fronteiras muitas vezes.
Já em território Bósnio, começamos a descer para Sarajevo, sempre acompanhando o curso do rio Drina numa paisagem invejavelmente tranquila que nos surpreendia a cada curva da estrada. Nesta parte da viagem, na qual aproveitei para dormir um pouco (importa referir que não era eu que estava ao volante), lembro-me de ter aberto os olhos por breves instantes e ver uma vaca ao meu lado, na janela do carro. Na altura não percebi bem se estava a sonhar ou se era realidade. Mas parece que se tratou mesmo de um momento da realidade rural Bósnia. E assim entre os sonhos e a realidade fomos descendo até à capital.
A aproximação à cidade faz-se por um desfiladeiro entre as montanhas que cercam Sarajevo, pelo menos do lado em que chegamos, a norte. Vamos muito bem a apreciar as montanhas e de repente, quando damos por isso, estamos no centro da cidade. Como de costume, procuramos logo o hotel onde iriamos pernoitar para descarregarmos o carro e só depois fomos conhecer a cidade. Chegamos já ao fim da tarde ao hotel Itália que fica a cerca de 3 Km do centro de Sarajevo. No hotel disseram-nos que a melhor maneira de irmos ao centro era de táxi, pois o estacionamento é todo pago e difícil de encontrar. Para além disso, o táxi fica por volta de 3€, o mesmo que pagaríamos pelo estacionamento. Como o carro tem matrícula Sérvia, também não sabíamos se seria muito seguro deixá-lo no centro. Deixamos o carro na garagem do hotel e fomos de táxi. Antes de sair do hotel ainda perguntamos se era seguro andar por Sarajevo de noite, ao que o recepcionista nos respondeu: “Claro que sim, isto aqui não é Beirute!”. Ficamos todos mais descansados, afinal não sabíamos bem para o que vínhamos. O pouco que sabíamos sobre a Bósnia era sobre a guerra do início dos anos 90 e não era muito atrativo.
Em menos de 10 minutos chegamos ao centro da cidade e como não tínhamos marcos Bósnios para pagar o táxi, pagamos com euros e devolveram-nos o troco em marcos. Aqui toda a gente aceita euros (1€ = 2 Bam) e a taxa de conversão torna as contas simples. O que interessa é fazer negocio, independentemente da moeda. Descemos do táxi junto ao BB shopping center, um dos pontos de encontro na cidade. Para começar a visita, o shopping é completamente moderno, em tudo semelhante ao que estamos acostumados na Europa Ocidental. Na breve passagem que fizemos pela cidade, antes de carro e agora de táxi, encontramos uma cidade muito moderna e organizada, com arranha-céus, edifícios modernos ou imperiais à mistura. Na verdade não sei bem que expectativas tínhamos para Sarajevo, mas o que acabávamos de ver certamente contrariava algumas delas.
Do shopping caminhamos em direção à “Old Town”, a zona mais fervilhante da cidade. Rapidamente passamos de uma arquitetura moderna para uma cidade de fortes traços Otomanos, uma espécie de mini Istambul. Parece que viajámos no tempo. Pessoalmente prefiro esta parte da cidade mais carregada de história. Ali encontramos o pequeno comércio tradicional, alguns pequenos bazares, mesquitas, igrejas, sinagogas, enfim, de tudo um pouco. No fundo este é um reflexo do cruzamento fervilhante de culturas da Bósnia e em particular de Sarajevo. E é aqui, precisamente, o epicentro de todo este turbilhão que por agora me parece bastante saudável e atrativo. A ver vamos se assim permanece por muito tempo.
Na primeira incursão que fizemos pela “Old Town”, percorremos logo todas as ruas e ruelas apinhadas de gente que se dividiam pelas mesquitas, pelos inúmeros restaurantes da cidade ou simplesmente deambulando pelas ruas, no fundo como nós. Encantados com tudo o que íamos encontrando, cruzávamos cada rua com uma ingénua expectativa do que viria de seguida. Grande parte do comércio já estava fechado aquela hora da noite, o que é sempre agradável pois permite-nos economizar tempo e dinheiro. Ainda assim algumas lojas teimavam em não fechar, desviando a nossa exploração cultural para as bugigangas, em tudo semelhantes ao que encontramos em qualquer bazar de Istambul, mas a uma escala mais reduzida.
Depois de andarmos algum tempo a passear, decidimos sentar para comer alguma coisa e como não podia deixar de ser, tivemos de experimentar o tradicional Ćevapi Bósnio, acompanhado por uma limonada natural que não estava tão fresca como merecia, face ao calor que ainda se fazia sentir à noite.
Finalmente voltamos ao hotel para descansar de um longo dia. Ainda voltaríamos ao centro de Sarajevo no dia seguinte para vermos a cidade à luz do dia.