11, 12 e 13/08/2013, domingo, segunda, terça
Ljubljana, Eslovénia
Estamos perto de conhecer o último país da nossa expedição e apesar da quantidade de quilómetros que já percorremos, a viagem para lá chegarmos não se compadece do nosso cansaço e assim dificultar-nos de granjear mais este alvo no nosso planisfério.
Saímos da estação de autocarros de Belgrado às 00:40 e vamos aproveitar a noite para descansar (pensamos nós …). A hora prevista de chegada a Ljubljana é às 9:00, perfeito para aproveitarmos todo o domingo para passear.
Quando saímos de Belgrado ao início da noite o cansaço acumulado das viagens anteriores rapidamente se apoderou de nós e subitamente caímos no sono. E assim permaneceríamos até ao destino Eslavo se não fosse o tormento das fronteiras. Uma viagem que se esperava revigoradora, acabou por se tornar uma grande chatice (“a real pain in the ass”), não tanto pela distância que percorremos, mas pelo tempo descomunal que se perde na travessia das fronteiras.
Para ir de Belgrado para Ljubljana na Eslovénia, passamos pela Croácia. Apesar do nosso destino estar à distância de um país, nunca pensei que para lá chegar de autocarro tivéssemos de passar por esta tão entediante e traumática experiência. Ao chegarmos à primeira fronteira (Sérvia/Croácia), quando estávamos imersos num sono profundo, eis que nos esperava uma longa fila de autocarros para fazer o controlo fronteiriço. Depois de largos minutos à espera pela nossa vez, chega a pior parte!
No meio de bocejos e ramelas nos olhos, somos obrigados a sair do autocarro e a juntarmos a uma fila de passageiros para mostrarmos o passaporte ao guarda fronteiriço que está confortavelmente sentado no seu guiché, desempenhando o seu papel nas maior das calmas, pois ele tem mesmo de estar ali toda a noite! Ali estamos desconfortavelmente plantados no meio da noite em fila indiana, como se de refugiados nos tratássemos à espera da nossa vez para recebermos o tão desejado carimbo no passaporte. Depois de todos os passageiros terem passado, o autocarro é revistado e só depois atravessa a fronteira. De seguida lá entramos nós, já do outro lado para voltarmos aos nossos aposentos, que naquela hora nos pareciam os mais confortáveis do mundo. Afinal de contas, qualquer coisa é melhor do que dormir em pé numa fila indiana numa encruzilhada de fronteiras algures nos Balcãs.
Tudo isto seria ainda minimamente tolerável se tivesse ocorrido apenas uma vez. Mas não… Quando saímos da Croácia para entrar na Eslovénia lá voltamos ao mesmo ritual e aqui nem se percebe a razão uma vez que se tratam de dois países da União Europeia!
Fiquei com um pó às fronteiras e a todos os que lá trabalham que ainda hoje, cada vez que me lembro, ainda me dá-me voltas ao miolo. No fundo talvez estejamos é mal habituados. Se a União Europeia não servir para garantir a paz, estabilidade e prosperidade, para evitar crises financeiras, para facilitar a exportação de produtos, promover equidade entre os povos, enfim … se não servir mesmo para nada, pelo menos deixa-nos dormir em paz ao cruzarmos os vários estados membros. Já não é nada mau e isso a mim traz-me muita paz!
Enfim chegados a Ljubljana!
Chegamos à estação de autocarros pela manhã e seguimos de imediato para o Hotel Park, onde iriamos ficar nos próximos dias. Da estação ao hotel não são mais do que 10 minutos a pé e com o auxilio do GPS encontramos rapidamente o hotel. Uma vez que estava cheio, não podemos fazer logo o check-in mas deixamos as malas no hotel e fomos logo à descoberta da cidade. O Hotel Park fica localizado na zona de Tabor, muito perto do canal que serpenteia a cidade e a walking distance do centro, para onde fomos logo.
Passamos pelas famosas pontes da cidade, Dragon Bridge, Butchers’ Bridge, Triple Bridge, só para mencionar as mais conhecidas. As pontes ligam a zona medieval de Ljubljana à parte moderna da cidade, onde se concentra todo o comércio e grande parte da atividade local.
Ao longo de todo o canal proliferam restaurantes, cafés e bares onde se pode tomar alguma coisa desfrutando das vistas magníficas da cidade. A cidade é pequena e consegue-se visitar praticamente toda a pé e foi o que fizemos durante os dois dias que passamos em Ljubljana.
Começamos a visita fazendo um reconhecimento geral à cidade onde rapidamente nos apercebemos que já não estávamos nos Balcãs. Aqui respira-se uma atmosfera mais europeia, um ambiente calmo e mais organizado, centro europeu, leia-se. A comparação melhor que tenho é com algumas cidades alemãs. De facto em Ljubljana parece que estamos na Alemanha, longe das balbúrdias que vimos na Sérvia e mesmo na Croácia, aqui estamos a anos luz dos Balcãs. Ljubljana foi praticamente o nosso único contacto com a Eslovénia mas pelo que nos apercebemos, a Europa aqui já chegou à muito tempo, ainda antes da União Europeia.
A Dragon Bridge contem quarto dragões que segundo a lenda, cada vez que uma virgem passa na ponte, eles abandam as suas caudas. Não vimos nenhum dragão a abanar a cauda, mas talvez fosse porque não esperámos tempo suficiente. Tivemos sim tempo para fazer uma geocache, que se tornou uma aventura interessante. Passo a explicar. Quando nos dirigimos ao local apontado pelo GPS, estavam umas obras a decorrer no local. Dois dos trabalhadores tinham acabado de encontrar uma pequena caixa a qual estavam a apreciar com muita curiosidade. Nós percebemos logo do que se tratava e eles aperceberam-se também de que nós estávamos exatamente à procura daquela caixa. Então lá fomos ter com eles e explicamos que se tratava de um jogo. O encarregado da obra, muito simpático entregou-nos a caixa e depois ainda ficamos uns momentos à conversa. Explicamos do que se tratava o jogo e ele traduziu para o outro trabalhador de origem Bósnia, o qual disse que na Bósnianão havia esse jogo. Poi muito se engana o senhor, mal ele sabe que a Bósniaestá carregada de geocaches. Feito o registo no logbook tivemos de encontrar um novo esconderijo para a geocache. Mais tarde informamos o proprietário da nova morada para que ele atualize o registo no site. E assim salvamos o dia de uma geocache, cujo destino mais do que certo era o lixo.
Seguimos junto ao canal, passando pelo mercado ao ar livre que estava a encerrar e fomos até outra ponte, a Butchers’Bridge com as suas esculturas da Grécia antiga e também do Cristianismo. Mas a sua fama deve-se aos inúmeros cadeados que se alinham pelos cabos ao longo da ponte como símbolos de declarações de amor eterno que os casais apaixonados vão deixando ali, à semelhança da famosa Pont dês Arts em París. Coloca-se o cadeado e atira-se chave para o rio para garantir um amor eterno! Os únicos cadeados que tínhamos estavam no hotel a guardar as malas, mas também não precisamos de um cadeado para declarar o nosso amor! Julgo que temos conseguido ser mais criativos do que isso e nos dias que correm, um cadeado dá sempre jeito para guardar alguma coisa.
Seguindo pelo canal chegamos à Triple Bridge(Tromostovje) que conflui para a praça Prešeren um dos pontos centrais da cidade que recebeu o nome do famoso poeta esloveno France Prešeren, onde está uma estátua sua erigida no centro da praça. Este é um ponto central para visitar a cidade, uma vez que a partir desta praça se chega rapidamente ao pontos fulcrais da cidade: o castelo, a parte antiga da cidade, museus, universidade e zonas comerciais.
Depois de feito o levantamento pelas ruas, fomos às Galerias Emporium, um dos locais mais exclusivos de compras da cidade situado junto à praça Prešeren.
Voltamos ao hotel da parte da tarde onde aproveitamos para descansar durante alguns momentos antes de sairmos já mais para o final do dia.
Jantamos no famoso “Falafel” um dos restaurantes budget mais famosos da cidade, perto da Dragon Bridge. A fama não lhe faz jus, já que é um espaço minúsculo onde os clientes se amontoam só para levar comida para fora. Só tem 3 mesas pequenas para se comer portanto quase nem dá para sentar. Por acaso tivemos sorte que estava um casal a terminar quando chegamos. Mas a verdade é que os falafel são belíssimos e daí tamanha afluência.
Depois do jantar voltamos a passear pelas ruas da cidade, mas desta vez pela parte antiga que dá acesso ao castelo. Uma vez que já começava a ficar tarde, deixamos o castelo para o outro dia de manhã. O aceso ao castelo faz-se de carro, de funicular ou a pé. Nessa manhã como ainda estávamos frescos subimos até ao castelo a pé. A subida foi dura apesar das vistas que proporciona o trilho. O castelo de Ljubljana é um dos pontos mais turísticos da cidade e merece a visita. Tem várias secções, de onde se destacam as torres, a penitenciária e as exposições permanentes. Passamos parte da manhã a explorar o castelo. Voltamos à cidade, onde fomos almoçar uma gostosa salada num restaurante à beira do canal. Da parte da tarde fomos visitar o Tivoli Park, o principal e maior parque verde da cidade.
A passagem por Ljubljana ainda incluiu a visita ao Museu de Arte Moderna, e ao Museu Nacional da Eslovénia onde encontramos a Divje Babe Flute, que é considerado o primeiro instrumento feito pelo homem de Neandertal.
Uma visita a Ljubljana não fica completa sem passar pela Metelkova City, um centro cultural autónomo e alternativo, acrescento eu, que fica situado nas antigas instalações militares da armada Jugoslava. De forma a não nos assustarmos com o quadro, começamos por ir durante o dia. O local é composto por vários edifícios velhos todos “graffitados” e cheios de instalações artísticas. É aqui que se encontram muitas das galerias de arte e ateliers da cidade. É frequentado principalmente por artistas do underground que se reúnem nos vários bares e clubes noturnos para se inspirarem para as suas obras. É no entanto à noite que a Metelkova ganha vida, quando abrem os bares e as ruas se apinham de gente, na sua maioria a fumar e a beber. Nesta altura o quadro pode tornar-se assustador, mas no fundo é tudo boa gente, cada um na sua onda.
Terminamos assim a nossa estadia em Ljubljana, a pequena capital dos Balcãs que parece deslocada no espaço e no tempo quando comparada com as outras cidades que visitamos. É chegada a hora de apanhar o comboio de volta a Zagreb. Chegados à estação de comboios central de Zagreb, pegamos nas malas e fomos a pé até à estação do autocarro que nos levou ao aeroporto, de onde voamos de volta para Lisboa.
O percurso de 15 minutos a pé entre o comboio e o autocarro fez-nos reviver a recente estadia na capital Croata e pelo caminho encontramos uns graffitis que nos transportaram de novo de volta à Metelkova na Eslovénia. E foi assim nesta encruzilhada de povos e sentimentos que nos despedimos daquela outrora Jugoslávia, reino dos sérvios, croatas e eslovenos, agora espartilhada ao longo dos Balcãs.