
A viagem
Saímos de casa por volta das 06:00 para apanharmos o autocarro no centro da cidade às 07:00. O autocarro saí do mercado central de Phnom Penh e como não reservamos Tuk Tuk, não sabemos se encontramos algum com facilidade a essa hora. Em último caso vamos a pé numa percurso que leva cerca de 30 minutos. Mas não estivéssemos nós no Camboja, à hora que saímos de casa temos pelo menos dois Tuk Tuk’s à porta. Alguns dos motoristas dormem mesmo no Tuk Tuk. Segundo ouvi dizer, algumas destas pessoas vêm da província para ganhar algum dinheiro aqui na cidade e nem sequer têm casa. A vida deles é toda feita no Tuk Tuk. Mas este não parece ser o caso dos dois motoristas que encontramos. A vida começa muito cedo na cidade e é preciso começar a ganhar dinheiro logo aos primeiros raios de sol.
Saímos de Toul Kork em direção ao centro e nas principais artérias da cidade o trânsito já é intenso. Na avenida da confederação Russa, junto ao ministério da defesa encontramos vários grupos de pessoas a fazerem exercício. Uns jogam uma espécie de badminton com os pés (um desporto popular aqui pela cidade em que um grupo de pessoas se juntam num circulo e chutam uma pena de um lado para o outro), outros fazem jogging e veem-se inclusivamente grupos organizados a fazer aeróbica. Impressionante tanta agitação em tão tenra hora da manhã!
Chegamos ao mercado central onde se fazem os preparativos para mais um dia de intenso comércio. Esta é uma das zonas de onde saem os transportes para todo o país, mas existem outras zonas espalhadas pela cidade. Aqui não existe uma estação central de autocarros. Existem muitas companhias privadas de transporte de passageiros, para além dos táxis, minibus e operadores turísticos. É portanto uma rede pública de transportes anárquica, onde cada um faz o que quer e pratica o preço que quer, o que não é necessariamente mau, pois a oferta é vasta, quer nos horários, quer na qualidade.
A nossa ideia inicial é apanhar o autocarro da Sorya, uma das companhias mais conhecidas do país, que sai às 7:00. Quando chegamos apercebo-me porém do movimento em torno das carrinhas de passageiros, aqui chamadas de minibus, onde muitos locais se dirigem. Para além dos minibus também é possível alugar um táxi privado, mas esta opção evidentemente que é mais dispendiosa. A viagem de minibus para Kampong Cham fica a metade do preço do autocarro e estou certo de que mesmo assim este valor ainda pode ser negociado. Da pesquisa que fiz, diz-se que por vezes a viagem é mais rápida de minibus e os horários são mais flexíveis. Depois de falar com uma senhora que geria uma das carrinhas que nos disse o preço e o horário lá decidimos embarcar nesta aventura. A carrinha não tem mau aspeto, uma Toyota Hiace que em Portugal está homologada para 9 passageiros. Escusado será dizer que aqui qualquer carrinha tem uma lotação superior a 9 lugares. Esse número vê-se por vezes compactado num qualquer carro ligeiro. Bom, mas pela contagem de assentos que fazemos, a lotação deve ser para 15 pessoas. Porém dois dos assentos da última fila estão ocupados com bagagem. A senhora manda-nos para a penúltima fila e instalamo-nos confortavelmente à espera da partida. Somos os primeiros passageiros a entrar. Enquanto esperamos apreciamos o movimento de vendedores na rua que vão de carrinha em carrinha a para que os passageiros possam apetrechar-se para a viagenm. Vende-se de tudo, fruta, bolos, relógios e bijutarias (os mais concorridos pelas senhoras Khmers que não querem sair da cidade sem um berloque), jornais locais(até uma edição em inglês do The Cambodia Daily), bebidas, … Outra das rotinas de angariação de fundos são os monges que passeiam “humildemente” pela rua nos seus trajes cor de laranja com uma espécie de assessor. Este carrega uma sacola laranja e vai passando pelas carrinhas a pedir dinheiro para o sustento do monge. No curto espaço de tempo que esperamos pela partida obtemos logo vários sabores desta cultura.
Chegam as 7:00 e novos passageiros no minibus. Já somos para ai uns sete para além do motorista e da senhora ainda tenta aliciar fregueses de última hora. Pouco depois das 7:00 partimos. Ainda paramos junto à ponte japonesa para apanhar mais alguns passageiros, onde a senhora nos deixou. Seguimos viagem com o motorista e mais 10 pessoas. Estamos confortáveis com o ar condicionado e com espaço para as pernas.


A distância para o nosso destino, Kampong Cham, não é muito grande, mas as condições das estradas e o movimento tornam a viagem demorada. Uma parte significativa do trajeto é em terra batida, com buracos e gravilha solta. Eu não teria feito o percurso em menos tempo, a não ser talvez com o Nissan Patrol que ficou em Portugal e que certamente se ia deliciar por este caminhos. Talvez ainda o mande vir cá ter! Num dos troços de terra batida vimos um aglomerado de gente com paus nas mãos junto a uma fábrica de sapatos, sinal de uma qualquer manifestação que ou ia ter lugar ou já se estava a dissipar, pois mais à frente vimos policia armada e militares. Foi um momento de curiosidade geral no minibus, que seguiu o seu caminho pelo “estradão” até à próxima paragem para entrada de mais passageiros. Assim que estes últimos entraram gerou-se logo uma animada conversa e apesar ainda não dominarmos o Khmer, percebemos que estavam a explicar o sucedido. Talvez um patrão que tenha o ordenado em falta, ou um pedido de aumento de salário. Enfim, quem sabe o que motiva a agitação popular por estas bandas!
Com todas as peripécias e diversidade de gente a entrar e a sair do minibus a viagem acabou por se fazer bem e depois de 3 horas e meia lá chegamos felizes e contentes ao nosso destino, a simpática cidade de Kampong Cham.