Depois de termos explorado a capital Tailandesa durante alguns dias, é chegada a altura de partirmos à descoberta de outras paragens menos movimentadas. O nosso primeiro destino é a cidade histórica património da UNESCO de Ayutthaya, a 85 quilómetros a norte de Banguecoque.

Bang Sue parece uma estação parada no tempo. Situa-se num descampado mas não deve permanecer assim por muito tempo, pois ao redor já se prepara terreno para qualquer construção. Provavelmente mais um shopping! Apesar do aspeto descuidado e de certa forma esquecido pela cidade encontramos um ambiente simpático. Dois oficiais dos caminhos de ferro esperam-nos no guiché para comprarmos os bilhetes. Explicamos para onde pretendemos ir. Conversando num Inglês muito perceptível dizem-nos que podemos ir em 2ª classe ou 3ª classe. Estes comboios não têm 1ª classe!. A diferença da 2ª para a 3ª é que uma tem lugares marcados (2ª classe), a outra não. Claro que optamos pelo bilhete em 3ª classe e será o salve-se quem puder. O pior que pode acontecer é termos de fazer a viagem de 3 horas em pé. Pagamos a módica quantia de 14 Baht por pessoa (0.42$).
Todas as recomendações que temos visto sobre viajar na Tailândia dizem para se evitar os comboios porque não são fiáveis em termos de horários, são demorados nas viagens e não são tão flexíveis como os autocarros ou os minibus. São apenas mitos urbanos! O comboio é um fantástico meio de transporte até na Tailândia. Se não vejamos… Claro que não chega à hora marcada. O nosso chegou com cerca de meia hora de atraso. Entramos no comboio e procuramos um lugar para nos sentarmos. No comboio veem já muitos turistas que entraram em Hua Lamphong a estação central de Banguecoque e que provavelmente vão para os mesmo sitio que nós. Lá encontramos lugares para nos sentarmos e passado pouco tempo de nos instalarmos aparece um oficial de bordo (o pica) que em alta voz avisa todos os passageiros que seguem para Ayutthaya para mudarem de comboio! Não somos os únicos a achar estranho mas lá vimos um comboio na outra linha e mudamos todos, seguindo a informação que nos chega do simpático senhor. Voltamos a procurar lugares para nos sentarmos para a longa viagem e lá nos instalamos à vontade. Finalmente iniciamos a marcha. Saímos da cidade passando pelo aeroporto de Don Mueang após o que entramos num ambiente mais rural, mas ainda assim pautado pela construção do que parece ser uma estrada que acompanha a linha do comboio.
Ao longo da viagem vamos parando em alguns apiadeiros pelo caminho, num dos quais entram duas enhoras que se sentam ao nosso lado. Os bancos em que estamos, de frente um para o outro, dão para uma pessoa se sentar à larga, mas para duas pessoas já fica à justa, mas as senhoras não se importam, pois querem é sentar-se. Compreensível, pois sabe-se lá quantas horas de viagem têm pela frente! Uma mais nova que a outra, talvez mãe e filha, a mais velha senta-se ao meu lado e em menos de nada ferra-se a dormir sem se incomodar com a minha presença. Ajeito o meu ombro esquerdo não vá a senhora precisar de um amparo e lá seguimos viagem enquanto apreciamos a paisagem pela janela. A refrigeração do comboio é feita pelas janelas abertas com o auxílio de umas ventoinhas penduradas no teto da carruagem. Nada que nos impeça de fazer uma viagem tranquila e confortável.

No lado oposto da estação tem uma rua que vai dar ao rio, que separa a parte da cidade que fica numa ilha e onde estão concentrados a maior parte dos complexos de templos. Sabemos que há um pequeno barco que faz a travessia por uma irrisória quantia mas nessa mesma rua também tem vários restaurantes que alugam bicicletas e motas. Acabamos por alugar uma mota para o dia para termos maior mobilidade e perdermos menos tempo. Desta vez escolhemos uma scouter Honda Fino. Passamos a ponte que dá acesso ao centro de Ayutthaya e as placas informativas com os nomes dos vários complexos sucedem-se ao longo das largas avenidas da cidade. Não temos tempo para visitar todos os templos por isso temos de fazer uma seleção do que queremos ver. No local onde alugamos a mota deram-nos uma folha com um mapa feito à mão com as principais atrações.

O Wat Maha That fica junto a um grande parquet verde com um lago que só por si merece uma visita. Passamos pelo parque onde encontramos mais algumas ruinas “perdidas” que devido à fartura nem sequer merecem uma referência e onde encontramos mais umas geocaches. Encontramos várias pela cidade.
Como não temos muito tempo, passamos por outros complexos mas não entramos. Conseguimos ter uma ideia só vendo por fora e também acabam por ser todos parecidos. Para ver todos os templos com calma é necessário passar pelo menos um dia só dedicado a essa atividade. Temos meio dia para visitar toda a cidade e queremos visitar outras coisas para além dos templos.
Fazemos um passeio de mota pela cidade até ao palácio dos elefantes, nome no mínimo irónico.
Ora aqui está uma daquelas atrações turísticas que nunca o deveriam ser, mas claro está, os maiores culpados são os turistas que alimentam estas atividades. Uma das imagens de marca da Tailândia são os passeios de elefante que se fazem um pouco por todo o país.
Esta cidade como um dos principais destinos turísticos do país, não pode deixar de disponibilizar esta atividade. Então encontramos os elefantes amestrados a andar de um lado para o outro no passeio à beira da estrada com os turistas “ao colo” numa espécie de trono com um chapéu de sol para não aquecerem. Quando não estão com os turistas estão com o seu “chofer” que passa o dia a dormir em cima do elefante à espera de mais turistas. No “palácio” ainda vimos um elefante pequeno que está preso pela perna a uma corrente no chão e que faz as delícias dos turistas que por ali passam. Esta é a forma de educarem os animais para quando forem crescidos se manterem submissos, pois na realidade se quisessem rebentavam a corrente com a maior facilidade do mundo. Pessoalmente não acho piada a esta exploração dos animais, ainda que digam que os animais não são mal tratados. Não posso dizer se maltratam os elefantes ou não, mas isso depende do que consideramos “maus tratos”. Para mim isto já é “mau trato” que baste. Mas enfim, há quem pague para isto!
Depois de passearmos um bom bocado pela ilha voltamos para o lado da estação de comboio e fomos até ao mercado flutuante de Phra Nakhon. Na realidade é mais do que um mercado é uma aldeia flutuante. A aldeia fica num complexo do qual faz parte também um parquet de elefantes, onde se pratica exatamente a mesma atividade que atrás referi. Esquecendo os elefantes, passemos ao mercado.

Enquanto caminhamos pelas plataformas de madeira os barcos atracados fazem de lojas vendendo de tudo um pouco. Num dos barcos compramos uns bolos que o rapaz faz ali na hora. Prepara-nos um sortido com vários sabores, banana, coco e chá verde, que ainda vêm mornos. Servem-nos de snack enquanto passeamos pela aldeia.


Depois de alguma espera para além da hora marcada, eis que chega o comboio. Antes do nosso que segue em direção a norte já passou o comboio com destino a Banguecoque que levou uma pare dos passageiros. O movimento na estação ainda é grande com turistas e estudantes devidamente fardados que regressam a casa depois de um dia de aulas. Parece que agora vamos todos no mesmo comboio. Quando entramos já o comboio está praticamente cheio. Seguimos para a carruagem que temos no bilhete de 2ª classe e procuramos o lugar que nos está reservado (pelo menos a um de nós). Encontramos o lugar ocupado por uma jovem acompanhada de um jovem no lugar ao lado. Dizemos que um deles é o nosso lugar. Pelo menos um de nós vai sentado, a Marisa claro. A jovem rapidamente muda de lugar e o jovem que ia no lugar ao lado simpaticamente cede-me o seu lugar. Assim vamos os dois sentados juntos. Á minha frente em pé, vai o simpático jovem. Á minha frente e na nossa fila. Sorte que as filas são largas e tem espaço para todos. O comboio segue viagem apinhado de gente, uns em pé, outros sentados, uns à janela, outros à porta a apanhar ar. Sim porque aqui as portas do comboio não se fecham automaticamente. Isso são procedimentos de segurança ocidentais que aqui nesta parte do mundo fazem pouco sentido. Ao longo da viagem estão constantemente a passar pessoas a vender tudo e mais alguma coisa para comer e beber. Entram numas estações e saem nas outras e o que é facto é que ninguém precisa de passar fome no comboio. Ora fruta, ora noodles, ora espetadas de sabe-se lá o quê, há fartura de comida e bebida para toda a minha gente.
Durante a viagem conhecemos um jovem casal Francês que seguia nos bancos ao nosso lado. Contam-nos que andam a passear/viver pela Ásia à um ano. Estão uma temporada num local, arranjam trabalho que lhes dê alimentação e dormida e quando se cansam ou quando o trabalho termina seguem para o próximo destino. Já correram todo o sudeste Asiático e ainda não tem planos de voltar à europa. O próximo destino depois da Tailândia é Phnom Penh. Trocamos contactos, pode ser que ainda nos encontremos por lá. Chegamos à estação de Muak Lek e não fora o oficial de bordo, íamos tão entretidos na conversa que continuávamos a viagem.
Saímos do comboio já era noite fechada e temos um contacto de uma jovem de Phnom Penh, a Keo Sophany, que ficou de nos vir buscar à estação. Conhecemo-nos através de amigos e ela ficou de nos arranjar alojamento na Asia-Pacific International University (APIU) onde ela estuda e onde vamos passar o dia com outros jovens do Camboja e não só. Os passageiros que saíram connosco vão às suas vidas mas o nosso contacto não está. Tentamos ligar para ela, o número chama mas ninguém atende. Depois de algumas tentativas decidimos pôr-nos ao caminho e tentar apanhar um tuk tuk ou um táxi para o campus. A cidade está praticamente deserta e nem sinal de uma coisa ou outra. Caminhamos pela estrada principal na direção do campus mas sabemos que não podemos fazer o percurso a pé porque são pelo menos 5 Km’s. Seguimos na esperança de encontrar algum tuk tuk. Paramos num pequeno restaurante Japonês, um dos poucos locais que parece ainda estar em funcionamento e perguntamos onde podemos apanhar um meio de transporte. O rapaz que nos atende diz-nos que aqui não há Tuk Tuk’s. Isso só nas grandes cidades e que táxis também não, muito menos a esta hora da noite. Passa pouco das 20:00! Explicamos então para onde vamos e o que nos tinha acontecido e como podemos chegar até à APIU. Os únicos clientes do restaurante são um jovem casal que por sinal estudam na universidade mas não se mostram muito interessados em ajudar-nos. Pelo contrário, o rapaz do restaurante diz-nos que nos pode lá levar mas temos de esperar até às 20:30, hora a que ele fecha o restaurante. Não temos muitas alternativas e o sitio até é agradável. Sentamos numa das mesas pedimos umas bebidas e ligamos a WI-FI tentando enviar uma mensagem à Keo Sophany, desta vez pelo Facebook. Enquanto nos refrescamos esperamos por um contacto de volta, mas o mesmo nunca chega a acontecer. Já perto da hora do fecho do restaurante decido ir novamente até à estação para ver se lá está alguém à nossa espera. Quando chego vejo um casal de jovens que parecem estar à espera do comboio, mas a estas horas já não deve haver comboios. O único contacto que tive com a jovem foi através de chat e as fotografias nas redes sociais nem sempre nos ajudam a reconhecer as pessoas, por isso não tenho a certeza se alguma destas pessoas é o meu contacto. Para além do mais são duas pessoas. Tento mais uma vez ligar para o número dela quando finalmente vejo a jovem na estação a tirar o telemóvel da mala. Afinal são mesmo eles que estão à nossa espera. Atrasaram-se e depois como vinham de mota ela não conseguiu ouvir o telemóvel. Seguimos para o restaurante para apanhar a Marisa e agradecemos ao rapaz a amabilidade em nos ajudar. Queremos pagar a conta mas ele recusa o dinheiro e diz que é oferta da casa. Por momentos ele foi a nossa única luz nesta terra longínqua. Felizmente que ainda há muita gente boa no mundo.
Depois das peripécias da chegada lá fomos para a APIU que ainda fica longe da cidade. Seguimos nas motas pela estrada deixando a pequena cidade de Muak Lek para trás. O campus fica no meio do nada e como chegamos de noite não temos percepção do meio envolvente. Levam-nos para uma das casas de hóspedes do campus e depois de deixarmos as malas fomos até à casa do professor Ted Chew onde um grupo de jovens estava reunido. O professor Chew é proveniente da Malásia mas de origem Chinesa. Recebe-nos simpaticamente na sua casa com a sua esposa onde somos apresentados e contamos como chegamos até aqui para passar o dia com esta gente muito amável. Depois de alguns bons momentos de conversa recolhemos à nossa casa para descansar.
No dia seguinte acordamos com o barulho dos pássaros, coisa que já não acontece desde que saímos de Portugal. Em Phnom Penh temos o barulho das motas e dos carros e em Banguecoque o ensurdecedor barulho dos Tuk Tuks que mal nos deixam dormir. Aqui estamos no céu, ou quase. A Keo Sophany leva-nos até à cantina onde tomamos o pequeno almoço. A APIU como o próprio nome indica é mesmo uma universidade internacional, nada como grande parte das universidades em Phnom Penh que de internacional só o nome. Durante o dia que passamos na APIU tivemos oportunidade de conhecer jovens da Tailândia, do Camboja, de Myanmar, da Malásia, da China, do Egito e até do México. Conhecemos ainda um casal da Costa Rica, o marido é professor temporário na universidade. Ao longo do dia passeamos pelo campus, participamos em algumas das atividades e ainda tivemos tempo de fazer uma caminhada pelo bosque.
Ao final da tarde voltamos a Banguecoque de mini-van. Chegamos ao Victory Monument sem hotel marcado. Vamos até um café com WI-FI para tomar qualquer coisa e reservamos um hotel para as próximas noites. Desta vez vamos ficar na zona de Sukhumvit. É para lá que seguimos no Sky Train.
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