Laos, no coração da Indochina – Vientiane

Depois de mais um dia de trabalho, partimos de novo. A viagem de Phnom Penh a Viantiane é uma das mais curtas que já fizemos no sudoeste asiático. Apesar do Laos fazer fronteira com o Camboja, a capital Viantiane, mais a norte, fica na fronteira com a Tailândia, onde o rio Mekong serve de fronteira natural. A viagem de 1:05 de avião passa rapidamente e só há tempo para a refeição que a Vietname Airlines serve a bordo. As companhias low cost ainda não voam para o Laos, por isso tivemos de voar “à antiga”.

A capital

À chegada ao aeroporto de Vientiane tratamos do visto de entrada e apesar de este ser o mais importante aeroporto do país não há mais movimento nenhum de gente a não ser os passageiros que vieram no nosso voo. Ficamos com a sensação de termos chegado a qualquer cidade provinciana da Ásia. Saímos do aeroporto de táxi para o hotel situado junto ao rio Mekong. Tratamos do check-in e saímos para ir dar uma volta nas redondezas. Próximo do hotel fica o “night market” (dito em português soa estranho) onde os vendedores montam as suas barraquinhas ao longo do parque público numa zona verde muito agradável junto ao rio. Entre o artesanato local e as chinesices do costume lá se vai fazendo o negócio. É assim iniciamos a sessão das compras.

Depois do mercado fomos procurar alguma coisa para comer. Apesar da boa vontade da companhia vietnamita, a refeição que nos serviram não dá para a cova de um dente. O hotel fica bem situado, na zona mais turística da cidade e a variedade de restaurantes é vasta. Começamos logo por sentir uma ainda forte presença colonialista com várias “parisseries”, restaurantes franceses e baguetes por todo o lado. Apesar da diversa oferta internacional acabamos por escolher um tasco, daqueles improvisados numa tenda com mesas de plástico e com a confecção logo ali à vista de todos para sabermos o que estamos a comer. Ao contrário do Camboja, os tascos aqui ainda conseguem ser convidativos. Apesar da relutância inicial da Marisa, lá nos sentamos. Não éramos os únicos estrangeiros! Aliás até estavam mais estrangeiros que locais. Aqui sim podemos provar as verdadeiras iguarias locais. Ou vinha agora para o Laos para comer baguetes!? Na mesa atrás de nós estava um grupo de brasileiros em amena cavaqueira a falarem de futebol. Não quisemos interromper o grupo, mas ficamos curiosos em saber o que trouxe até aqui está gente de além mar.

Depois do jantar que custou cerca de 4€ para os dois, continuamos a passear pela cidade. Quase à chegada ao hotel encontramos uma barraquinha de indianos a venderem uma espécie de crepes. Ele era crepes para todo o gosto e feitio, doces e salgados, com fruta, com molhos, … Tivemos de experimentar, claro, para a sobremesa. Aí metemos conversa com uns rapazes que falavam em castelhano. Dois eram do Chile e um do Brasil. Começamos então a falar em Português. Dissemos que já tínhamos encontrado outros brasileiros ao jantar e ele então contou-nos que estavam cá todos a jogar futebol nos clubes locais. Foram contratados no Brasil para virem jogar no campeonato do Laos, uma liga “fantástica” que só tem dois clubes de fora da capital. Os restantes clubes da liga são todos de Vientiane. Isto aqui há derbis todas as semanas! Agora está explicada a razão de tantos brasileiros aqui na cidade. Uns vão para as grandes ligas europeias, outros vêem para o Laos. Enfim, tem de se começar por algum lado.

No segundo dia no Laos fomos conhecer a cidade de Vientiane. Vínhamos com a ideia de encontrar qualquer coisa parecida com o Camboja, menos desenvolvida até em certos aspetos. Não foi preciso muito tempo para perceber que a nossa expectativa estava completamente errada. Só para referir alguns aspetos em que considero este país mais desenvolvido do que o Camboja: as ruas são limpas, os passeios são transitáveis (a pé não de mota), o trânsito é ordeiro, não se houve barulho excessivo na rua e vêem-se claros sinais de uma classe média, como por exemplo o parque automóvel com muitos carros de gama média novos. Não tenho dúvidas de que o Camboja é o país menos desenvolvido do Sudeste Asiático.

Deixemos as comparações, pois não foi para isso que aqui viemos, e passemos à descoberta da cidade. O primeiro sítio que visitamos foi a That Dum Stupa, uma estrutura que resistiu às invasões do império de Sião no séc. XVIII. É a estrutura mais antiga da cidade e parte da razão para esta resiliência é que os locais acreditam que dentro da Stupa habita uma nega com 7 cabeças. Por isso ninguém se atreve a destruir esta estrutura histórica nem se quer fazer obras de restauração para não incomodar o bicho.

Seguimos pela moderna avenida Lane Xang até ao arco do triunfo. O Patuxa, um arco que comemora a libertação de Vientiane, ergue-se imponentemente no topo da avenida. Do topo avista-se toda a cidade. Assim como o seu congénere francês este também serve de rotunda e é uma das principais atrações da cidade. Este no entanto nunca foi acabado e quando avistado de perto é apenas um bloco massivo de cimento. Ainda assim tem alguns detalhes que ajudam a compor o conjunto arquitectónico.

Descemos agora pela mesma avenida e antes de continuarmos a visita à cidade vamos comprar os bilhetes de autocarro para o próximo destino. Aqui não se pode deixar para a última hora pois corremos o risco de o autocarro estar cheio. Assim como no Camboja aqui também não há transporte ferroviário, logo tudo funciona à base de autocarros.
Na margem do rio Mekong visitamos uma exposição já esquecida de esculturas na areia. O vento fraco é suficiente para elevar as várias bandeiras dispostas nos mastros. Aqui a bandeira do Laos surge sempre acompanhada pela bandeira do partido comunista. A foice e o martelo para lembrar o povo de que nada se consegue sem trabalho e suor. Das várias esculturas da exposição a que melhor resistiu é um elefante à escala real. As outras como stupas e nagas apresentam já sinais de erosão. Despedimo-nos do elefante com a Tailândia mesmo ali ao lado e partimos.

Continuamos pelo parque. Passamos pela estátua de Chao Anouvong a olhar para o Mekong antes de chegarmos à Vat* Sisaket,  o templo mais importante da cidade e principal atração turística da capital do Laos. O templo foi erguido por um antigo príncipe no séc. XVIII para su lugar de adoração. A obra teve início em 1819 e viera a terminar uns anos depois. A estrutura do templo é semelhante à tantos outros que já visitamos mas o interior tem algumas particularidades. A parte superior das paredes está coberta com pequenos nichos com pequenos budas. As pinturas nas paredes, apesar de já muito gastas, são diferentes das habituais. Estas são mais trabalhadas e menos folclóricas. O interior de templo está muito degradado e já está sobre um projecto de recuperação financiado pela embaixada da Alemanha. No exterior, o templo e rodeado por alpendres onde estão imensas estátuas de budas e com as paredes cheias de nichos, cada um com dois buddhas. 
Adjacente ao templo ficam as casas onde os jovens monges habitam e também o centro de instrução, um edifício interessante com imensos detalhes trabalhados no exterior.
Na continuação do passeio passamos ainda pelo museu nacional e pelo imponente “National Cultural Hall”. Ainda tivemos tempo de ir ao “morning market” onde os locais compram e vendem de tudo à semelhança dos mercados no Camboja, mas mais uma vez muito mais limpo e organizado. Visitamos praticamente tudo o que há para ver em Vientiane. Existem mais locais de interesse mas esses são já fora da cidade. Descansamos as pernas e comemos um gelado na “Sports guesthouse”  antes de embarcarmos para o próximo destino.

Próximo destino …

A próxima cidade que vamos conhecer é Luang Prabang, uma cidade classificada pela UNESCO como patrimônio mundial da humanidade. A viagem leva 12 horas de autocarro e por isso optamos para ir no “VIP sleeping bus”. Foram-nos buscar ao hotel de Jumbo que são umas pequenas carrinhas de caixa aberta que levam os passageiros como na Europa se transporta o gado. Lá fomos apanhando passageiros pela cidade até a estação norte de Vientiane de onde saem os autocarros para o norte do país. Chegamos à estação faltava 1 hora para o autocarro sair. Esta gente está sempre com medo de chegar atrasada. Na estação fui comprar umas coisas para comer-mos na viagem e aí conheci uma rapariga Brasileira (moça em português do Brasil) que também se estava a abastecer. Metemos conversa e ficamos a saber que íamos para a mesma cidade. Ela está a viajar sozinha pelo sudeste asiático. Este é durante um ano a trabalhar na Austrália e agora vai regressar ao Brasil mas com muitas paragens pelo caminho. Depois da Ásia ainda vai ao médio oriente e depois para a Europa. Enquanto esperamos ficamos a conversar e a conhecermo-nos uns aos outros. Foi um encontro agradável na Língua de Camões e assim o tempo também se passou num instante.

Chegada a hora lá nos deixaram entrar para o autocarro, nem um minuto antes, apesar do calor infernal que estava na estação. O autocarro é um conceito interessante é que faz todo o sentido para estas viagens “infindáveis”. Seis camas por fila, dos lados e ao centro e em dois níveis. As camas são beliches. O autocarro e todo almofadado e temos de nos descalçar à entrada. Cada das tem uma manta, uma água e um snack para a viagem.Tudo ok à exceção de um pequeno detalhe: os pés vão enfiados num buraco que fica na cabeceira da cadeira da frente e por isso o buraco não tem altura suficiente para os pés, a não ser que se calce até ao número 30. Para além disso se tivermos mais do que 1,80 m já não nos podemos esticar completamente. Bom mas isto são apenas detalhes. Um pouco encolhido e com os pés de lado lá consegui arranjar uma posição para dormir. Eu e a Marisa ficamos nas camas de baixo. A nossa amiga Brasileira ficou no “andar” de cima que dizem que é do melhor para o enjoo. Sim porque o caminho para norte é estimada de montanha com muita curva. E lá vamos nós até Luang Prabang … a dormir.

Nota:
* No Laos os complexos religiosos designam-se por Vat’s. Referem-se ao mesmo que as Wat’s no Camboja e em outros países do sudeste Asiático. No texto optei por usar a designação local, logo sempre que surgir Vat, refiro-me ao que normalmente conhecemos por Wat.

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