Pak Ou
Agora que os monges já estavam fornecidos, foi a nossa vez de nos alimentarmos. Paramos numa das várias barraquinhas da avenida Sisavangvong para tomar um batido e uma baguete. Depois descemos até a margem do rio Mekong para apanharmos um barco para ir visitar as cavernas Pak Ou. Lá negociamos o preço com um barco que passava já com vários passageiros e partimos de baixo de chuva, protegidos por uma lona amanhada numa estrutura artesanal de madeira. O barco rústico de madeira tem capacidade para 9 pessoas, incluindo o tripulante e pouco mais de 1m de boca (largura) e cerca de 10 m de comprimento de proa a popa. Os bancos, em filas de dois, são numa madeira tosca equipados com uma almofada para aliviar, com exceção dos dois bancos da frente que são dois bancos de automóvel. É a primeira classe! Começamos a cortar as águas castanhas do Mekong rio acima. A primeira paragem é para abastecer combustível. Num barco na margem do rio montaram uma bomba de gasolina, onde todos os barcos turísticos param para encherem o depósito antes da longa viagem rio acima. Aguardamos pela nossa vez pois o movimento é grande a esta hora da manhã. Depois de abastecidos retomamos o rumo.
A viagem é só por si uma experiência fantástica. Desde a cidade às cavernas demoramos duas horas e do rio avistam-se várias paisagens distintas e pessoas na margem a pescar ou em outros afazeres. Lembro-me dos filmes dos anos 90 sobre a guerra do Vietnam e das paisagens que os guerreiros americanos tinham de cruzar para encontrarem os vietcongs escondidos nas florestas. Apesar da distância para o Vietnam, o Laos também sofreu bastante com essa guerra mas hoje porém o ambiente é de uma serenidade invejável. Pelo caminho ainda paramos numa vila tradicional onde os habitantes locais fazem whisky artesanal de arroz e produtos têxteis. Logo à entrada da vila somos convidados a provar o famoso Lao whisky enquanto a bebida é preparada logo ali à nossa frente por métodos artesanais. Um tanque preto queimado pelo fogo em cima de uma fogueira vai soltando leves vapores de arroz enquanto o processo de destilação decorre. Não provamos da pinga, mas estamos certos que era potente. Seguimos pela vila pelas muitas lojinhas que vendem maioritariamente produtos têxteis, cascois, panos decorativos, carteiras, almofadas, enfim tudo o que se pode encontrar também no mercado em Luang Parbang. Voltamos ao barco e continuamos rio acima. Pouco depois de embarcarmos, encontramos junto à margem elefantes que se vem refrescar ao rio com os tratadores. Uma imagem fantástica e tão natural quanto possível. Apesar do turismo, o Laos ainda tem alguns locais onde podemos ver os elefantes no seu habitat natural. Continuamos rio acima. As cavernas já não estão muito longe. Finalmente, ao fim das anunciadas 2 horas chegamos à junção do rio Mekong com o rio Nam Ou onde se situam as cavernas Pak Ou.
Pak Ou é um local especial de peregrinação onde os devotos budistas vêm depositar as suas imagens (estátuas) de Buda. O local é composto por duas cavernas. Atracamos o barco num cais improvisado em bambu. Subimos por uma escadaria até à entrada da primeira caverna que é a mais pequena. As estátuas amontoam-se por todos os espaços possíveis. São na sua maioria feias em madeira e cobertas a folha de ouro, mas também há algumas de pedra. Desta caverna tem-se a melhor vista para o Mekong. Para chegarmos à caverna de cima continuamos por uma outra escadaria. A segunda caverna é guardada por um grande Buda que teve de ser recuperado depois de bombardeamentos na II guerra mundial. As enormes portas de madeira escancaradas deixam entrar alguma luz para o interior que no entanto não é suficiente para iluminar toda a caverna. Temos de recorrer à luz artificial para visitar as galerias mais recônditas. Mais uma vez as estátuas devaneios tamanhos amontoam-se por todo o lado. Qualquer espaço, por muito pequeno que seja, é suficiente para colocar mais uma estátua.
Terminada a visita as cavernas e depois de apreciarmos a paisagem do topo, voltamos ao cais para o regresso à cidade. A viagem de volta foi direta, sem paragens, e como descemos o rio, levamos metade do tempo.
Palácio Real
De volta a Luang Prabang já da parte da tarde, fomos agora visitar o Palácio. O palácio, agora transformado em museu, era a antiga residência da família real, uma vez que Luang Prabang chegou em tempos a ser a cidade mais importante do país. Durante a época do colonialismo francês era aqui que vivia o rei. O museu tem várias salas que nos ajudam a compreender um pouco a história do país e guarda muitas relíquias de outros tempos. O complexo é composto pelo edifício principal, onde se encontram os aposentos reais e toda a coleção de arte do antigo reino, hoje propriedade da república. O templo Haw Pha Bang à entrada do palácio, guarda uma pequena estátua em ouro de Buda que é a relíquia religiosa mais preciosa da cidade. Para além destes ainda se pode visitar a garagem real, onde podemos apreciar alguns dos antigos veículos de estado. Todos eles oferecidos à família real. Os Estados Unidos da América ofereceram vários Lincoln’s. A França ofereceu, claro está um Citroen, que diga-se de passagem hoje está em muito mau estado e o Japão vá-se lá saber porquê ofereceu um Land Rover! Ainda se pode ver um pequeno barco de recreio usado pelo rei para passear pelo Mekong e alguns coches mais requintados para cerimônias religiosas. Para além de tudo isto, que não é muito grande, ainda temos o jardim.
Monte Phousi
Já quase ao final da tarde decidimos subir ao monte Phousi para vermos o por do sol. O monte fica no centro da cidade e do topo temos uma vista de 360 graus de Luang Prabang. A subida é dolorosa ainda por cima com o calor, mas uma vez no topo temos bastante tempo para descansar até ao por do sol. Lá em cima não há muito para ver. Tem um pequeno templo sem interesse especial e uma grande Stupa dourada que se avista de toda a cidade. Para mim o mais interessante é uma peça de artilharia localizada num ponto estratégico e a qual ainda está em bom estado. Claro que os dispositivos de fogo foram removidos mas a estrutura está quase intacta. Mas a principal atração do monte é a vista e o por do sol. Enquanto aguardamos pelo por do sol conhecemos mais um grupo de brasileiras que andam a viajar pelo sudeste Asiático. Estivemos à conversa até ao por do sol. Entretanto o monte foi enchendo de gente que vinha para o mesmo. Até que o sol lá se pôs… mas nada de especial. Tivemos pouca sorte com o dia pois o sol encobriu-se atrás de umas nuvens antes. Tirou-se umas fotografias, apreciamos a paisagem e descemos de volta ao centro. Quando chegamos cá abaixo já estava o mercado montado. De os uma volta pelas barracas e fomos jantar.
No dia seguinte, por volta das 8:30, sai da guesthouse para dar uma corrida até à estação de autocarros. Faço um pouco de exercício e aproveito para comprar os bilhetes para o regresso a Viantiane no autocarro da noite, não vão os bilhetes esgotar. A estação sul fica a cerca de 3 km fora da cidade e é um bom exercício, não fosse o calor infernal que já se sente a esta hora da manhã. Aqui para se conseguir fazer exercício fisico em condições, temos de começar o mais tardar às 6:00, mas quem é que se quer levantar a essas horas!? Mas pronto, lá fui…
De volta à cidade fomos agora conhecer o lado oposto ao rio Mekong. O monte Phousi divide a cidade ao meio a até aqui temos concentrado praticamente no lado do Mekong. Fomos até ao museu etnográfico onde aproveitamos para fazer uma Geocahe que se esconde num jardim por detrás do museu. Mais tarde atravessamos o rio Nam Khan por uma ponte de bambu que só dura 6 meses. Assim que vem a altura das chuvas, a força do rio destrói a ponte e na época seca voltam a construi-la. Para ajudar na construção, a família encarregue da obra, cobra uma “portagem” simbólica de 5 000 Kip (cerca de 0,60 $) para atravessarmos. Do outro lado visitamos uma loja de bijutaria artesanal o “Garden of Eden” onde dão cursos para aprender a fazer todos os tipos de bijutarias. Do lado oposto o restaurante Dyen Sabai tem umas vistas fabulosas sobre o rio. Deste lado do rio tem também uma série de templos, menos proeminentes que os do centro da cidade, mas que acabam por não estar tão “abafados”. Um deles, no topo da encosta com o rio tem uma das mais belas paisagens de Luang Prabang. Vê-se toda a península da cidade, entre o Mekong e o Nam Khan e mais uma ponte de bambu onde os dois rios se juntam. Vale a visita só pela paisagem. Depois do passeio pelas margens do rio Nam Khan, voltamos ao centro.
Á conversa com um monge
Como ainda temos algum tempo, decidimos ir agora explorar a parte ocidental da cidade. Enquanto caminhávamos pelas ruas ouvimos música de percussão que vinha de uma das Vat’s da cidade. Seguimos o som e fomos até à Vat Tat Luang, onde um grupo de jovens monges estavam numa torre a tocar no enorme tambor alternadamente. O arranjo era complementado com o som dos pratos que um dos jovens tocava a contratempo. Enquanto eles tocavam nós fomos passeado pela Vat mas claro que a música foi a grande atração, até porque ainda não tínhamos ouvido isto em mais nenhum templo. Todos as Vat’s tem uma torre com um ou vários tambores, mas geralmente está fechada. Quando terminaram os monges desceram da torre e voltaram aos seus afazeres. No entanto, um dos jovens ficou para trás, veio ter connosco e meteu conversa. Ficamos muito admirados pois não é suposto dirigirmo-nos aos monges, mas neste caso foi ele que veio falar connosco e obviamente não recusamos trocar dois dedos de conversa. Num inglês perfeito apresentou-se e perguntou-nos os nossos nomes e de onde éramos. Nesta altura ainda estávamos com a nossa amiga brasileira e ficamos agradavelmente surpreendidos pela abordagem deste rapaz. Explicou-nos que hoje era dia de lua cheia e que estavam a comemorar o aniversário de Buda que calhava algures numa terça-feira do mês de maio, de acordo com a tradição. Aproveitamos para fazer algumas perguntas para entendermos melhor a vida na Vat. Contou-nos que tinha vindo para o templo com 12 anos para estudar. Para além dos estudos religiosos na Vat, estuda numa escola pública e numa escola americana tem aulas de Inglês. Hoje com 18 anos gosta de computadores e de programação. Para o ano vai para o Canadá estudar com uma bolsa que ganhou. Depois espera ir para o MIT nos EUA estudar informática. O sonho dele é trabalhar na Google! Curiosos, perguntamos se o facto de estar na Vat não pressupunha que ele seguisse a “carreira” de monge. Ele explicou-nos que no budismo existem 4 diferentes correntes. No budismo Theravada, aquele que é praticado no sudeste Asiático, não existe obrigatoriedade de os monges permanecerem para sempre nos templos. Podem aprender a religião budista nas Vat’s e mais tarde, se decidirem, podem seguir outra carreira sem prejudicar a sua crença e aprendizagem religiosa. Podíamos ter ficado ali a conversar por várias horas mas ainda temos uma longa viagem pela frente o nosso novo amigo certamente que também tem que fazer. Trocamos contactos e despedimo-nos não só do monge, mas de Luang Prabang. E que melhor maneira podíamos ter para nos despedirmos desta cidade fantástica!
De novo em Vientiane
Depois de mais 12 horas de viagem desde Luang Prabang chegamos novamente à capital. Ainda é cedo para apanhar o voo e por isso vamos até ao centro para fazer tempo. Quando chegamos no Tuk Tuk ao centro, junto de uma das Vat’s vimos aquilo que esperávamos ter visto em Luang Prabang. Paramos rapidamente e pusemo-nos à estrada a pé para não perder o momento. Uma procissão de monges percorria as ruas no mesmo ritual que segundo o que tínhamos lido só acontece em Luang Prabang. As pessoas sentam-se nos passeios à espera que os monges passem para distribuírem os géneros alimentícios. Aqui ao contrário do que vimos anteriormente só estamos nós e mais um estrangeiro que provavelmente também esbarrou na cena. Os monges são mais velhos e no fim de recolherem os alimentos perfilam-se todos e entoam cânticos de agradecimento aos fiéis. Agora sim, o ritual parece fazer sentido e este certamente que não é para “inglês ver”. Felizmente que conseguimos presenciar este momento ou então teríamos ficado com uma imagem muito negativa da famosa “Tak Bata” ou “Alms giving”. Depois da cerimónia fomos até um café próximo tomar um batido e descansar um pouco até que chegou a hora e seguimos para o aeroporto para regressar a casa.
No fim do dia, o Laos foi uma agradável surpresa e depois do que vi teria ficado muito aborrecido se por aqui não tivesse passado.
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