Vietname – Cidade de Ho Chi Minh

Dia 1

Chegou o dia tão esperado à vários meses. Hoje vamos iniciar a nossa última viagem pelo Sudeste Asiático, que já saudosamente apelidamos de Farewell Tour. Esta viagem é especial por várias razões. Uma delas, a mais importante, é o facto de viajarmos acompanhados pela nossa amiga Davina que veio de Portugal para se juntar a nós neste périplo asiático e o facto de finalmente irmos conhecer o Vietname que está aqui tão perto (mas tão longe pela dificuldade dos vistos de entrada) e que já há muito que anda a despertar a nossa curiosidade.

A nossa primeira paragem no Vietname é a antiga cidade de Saigão, outrora capital do sul do Vietname, em tempos controlada pelos EUA. Depois da guerra do Vietname deram-lhe o nome do líder revolucionário comunista e mais tarde primeiro ministro Ho Chi Minh. De Phnom Penh à cidade de Ho Chi Minh são 5 horas de viagem, o que para nós nesta altura já é “canja”. A passagem da fronteira é tranquila. Temos de sair do autocarro e levar as malas pelo controlo fronteiriço mas tudo decorre dentro da normalidade. Chegamos a Ho Chi Minh, distrito 1, à zona de Pham Ngu Lao, o bairro backpacker da cidade. O hotel onde vamos ficar é logo ao virar da esquina num beco curioso. Apesar do aspeto do beco, o hotel surpreende-nos pela qualidade apesar de ali estar enfiado sem contemplação.

Fazemos um passeio pelo parque 23-9, onde ficava uma antiga estação de comboios da cidade. Passamos pelo mercado Ben Thanh e pelo palácio da independência antes de chegarmos ao museu War Remnants. Á nossa espera estão umas relíquias do exército americano capturadas durante a guerra do Vietname. Tanques, buldózeres, aviões, helicópteros, barcos e artilharia pesada à entrada dão-nos as boas vindas, mas tudo isto não passa de um aperitivo. 


As peças mais impressionantes encontram-se no interior do museu onde estão patentes várias exposições fotográficas que cobrem vários temas relacionados com a guerra, entre os quais, a resistência popular aos ataques dos EUA, a condenação por parte de nações estrangeiras à guerra do Vietname, exposição de fotografias artísticas em memória dos fotógrafos mortos durante a guerra, cartazes de propaganda política e aquela que é a parte mais difícil de digerir do museu que mostra os efeitos nefastos do Agent Orange, Napalm e outros químicos durante e no pôs guerra. Aqui vemos fotos chocantes de pessoas que nasceram com deficiências provocadas por estes elementos, algumas das quais bem recentes. Numa das salas do museu dedicada exclusivamente ao famoso “Agente” estão em exibição fetos danificados durante a fase de gestação! Uma das peças mais famosas do museu é o original de Nick Ut, uma foto de Kim Phuc a fugir de um ataque de napalm, galardoada com o World Press Photo of the Year de 1973. Os efeitos desta calamidade ainda são hoje bem presentes por todo o país. Apesar de interessante e elucidativo de alguns aspetos menos mediatizados da guerra, o museu acaba por ser um grande centro de propaganda política mostrando apenas uma face da guerra. Para complementar a história e a bem da verdade, falta o testemunho do outro lado da barricada.
Saímos do museu bastante impressionados e precisamos de apanhar um pouco de ar para restabelecer o cérebro. Caminhamos pelas ruas ordeiras da cidade até à catedral de Notre Dame. Não, não estamos em Paris. Continuamos em Ho Chi Minh que por sinal também tem uma catedral homónima da sua parente francesa, ou não fosse o Vietname uma sua ex-colónia. Do lado oposto da catedral fica a estação de correios central, um edifício colonial digno de registo. 

A catedral já estava fechada por isso seguimos para a estação onde visitamos umas pequenas lojas no interior. Dali partimos o museu da revolução onde um grupo ensaia um espetáculo de dança e música.


A seguir paramos num tasco onde aproveitamos para descansar e comer qualquer coisa. Comemos um petisco de tofu com noodles e uma espécie de couve frita em ovo. Saboroso! Depois do petisco arrancamos para o mercado noturno. Aqui o regateio é bastante agressivo ao contrário do Camboja e outros países da região. Os comerciantes chegam a ficar fulos se não compramos nada!

Terminamos o dia bem junto ao hotel, na rua Bui View, uma rua bastante movimentada com restaurantes e bares e muitas lojas onde fizemos algumas compras pelo caminho. Tomamos umas bebidas numa minúscula esplanada e voltamos ao hotel para descansar.
Dia 2

Depois do pequeno almoço no hotel fomos num tour para os túneis de Cù Chi, uma zona controlada pelos vietcongues durante a guerra do Vietnam. Pelo caminho visitamos uma organização de produção de artesanato que emprega pessoas deficientes devido aos efeitos do “Agent Orange”. Fazem peças em madeira lacere com acabamentos em madre pérola, casca de ovo ou pintura. As peças extraordinárias mas caras.

De seguida fazemos uma visita guiada aos túneis. O guia foi explicando os vários pormenores sobre a vida nos túneis: vários tipos de armadilhas para aterrorizar psicologicamente o inimigo, respirações e chaminés afastados dos túneis para não chamar a atenção para os acessos reais, técnicas para despistar os cães usados pelo exército americano para tentarem encontrar vietcongues,  uniformes usados pelos soldados vietcongues, entre outros.



Uma das atrações do local é o campo de tiro onde os visitantes podem comprar munições para disparar armas reais, entre as quais Ak47, diversos modelos de espingardas, metralhadoras entre outras. As armas são a valer e o barulho ensurdecedor faz-nos pensar como seria num cenário de guerra real!

Chega o momento de percorrermos os túneis numa secção de 150 metros, a única aberta ao público. Os túneis estendem-se até à fronteira com o Camboja e só na zona de Cù Chi existiam 250 km de túneis. Os originais eram mais estreitos que os atuais, que sofreram um upgrade para poderem passar turistas, especialmente os de porte ocidental. Ainda assim são extremamente apertados. Temos de caminhar agachados e com uma humidade aproximada de 30%. A forma como avançamos faz-nos doer as pernas. Pelo caminho temos diversas saídas/entradas que podemos usar quando estivermos cansados mas decidimos ir até ao fim. Descemos vários níveis e passamos por uma parte bastante estreita na qual tivemos de rastejar. Passamos por um hospital e terminamos na cozinha onde um fogão a lenha estava acesso a lembrar outros tempos. Tudo isto debaixo de terra. O complexo tinha varias valências para além destas, como por exemplo um centro de controlo onde os vietcongues definiam as suas táticas de ataque. À superfície o exército inimigo só se atrevia a mandar gás para o subsolo, nunca se ousava a descer a um mundo para eles totalmente desconhecido e aterrorizador. Quando terminamos a caminhada pelos túneis tínhamos à nossa espera uma cortesia, uma amostra da alimentação base dos Vietcongues: chá e tapioca acompanhada de amendoim, sal e açúcar moídos. Voltamos ao autocarro, agora com a barriga cheia, e regressamos à cidade.
Chegados à cidade, passadas cerca de duas horas, a fome já apertava. Afinal a cortesia já lá ia. Fomos comer qualquer coisa a uma padaria/pastelaria em Pham Ngu Lao onde encontramos Portuguese Egg Tart. Já só havia uma e o gosto é semelhante às que comemos em Macau. Não tem nada a ver com os nossos para além do formato. Também aqui chegou a influência portuguesa e não foi só com pastéis de nata, mas para saber mais sobre esta assunto temos de pesquisar um pouco, pois na escola em Portugal nunca nos falaram sobre a presença portuguesa no Vietnam. Deixo esta curiosidade como sugestão ao leitor.

Fomos agora visitar o mercado Ben Thanh durante o dia. Na noite anterior andamos só por fora no mercado noturno. Seguimos pela avenida Le Loi até ao Ho Chi Minh City Hall em frente ao qual está uma estátua de Ho Chi Minh o herói da nação. Passamos pelo emblemático hotel continental, junto à casa da ópera numa das zonas mais chiques da cidade. Subimos ao 23 andar no hotel Sheraton no “sky view bar” para apreciar a vista da cidade. Descemos até à margem do rio Saigão onde ficam outros hotéis luxuosos da cidade. 

Começa a chover e abrigamo-nos na Bitexco Financial Tower, o edifício mais alto e vistoso da cidade e o terceiro mais alto do país, com uma plataforma no andar 52 que serve de heliporto. Na base da torre temos um shopping de quatro andares. Sentamo-nos na zona de comidas e esperamos que pare de chover. Quando a chuva abranda seguimos para o hotel. Passamos numa rua estreita onde encontramos um restaurante simpático. A cozinha e as mesas ficam em lados opostos de uma rua que não tem mais de 4m de largura. Enquanto esperamos pela refeição, a comida vai atravessando a rua. Comemos Pho, a tradicional sopa vietnamita e a panqueca típica Bánh xèo. No final do jantar voltamos ao hotel para apanhar as malas e seguir de táxi para o aeroporto.

Deixamos a cidade com a sensação de que apesar do desfecho da história recente, Ho Chi Minh é hoje uma cidade muito ocidentalizada, onde apesar de tudo se sentem ainda influências do que foi em tempos Saigão.

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