
Continuamos pela avenida na direção do rio até à Basílica de St. Estêvão, a maior igreja do país. À porta principal é toda coberta por esculturas em ferro dos 12 apóstolos que propositadamente permanece fechada. Entramos por uma porta secundaria. No interior está a decorrer a missa de domingo mas podemos visitar desde que mantenhamos o silêncio e não se interrompa o serviço. As cúpulas no interior são compostas por frescos e ornamentações romanas bem ao estilo católico. Cá fora a grande praça que dá acesso à igreja está repleta de gente que tentam captar as melhores fotos da fachada.
Seguimos em direção ao Danúbio até à ponte das correntes, mas continuamos na margem de Peste que é a parte mais moderna da cidade. Mais tarde iremos à outra margem, a Buda, a parte medieval da cidade. Budapeste nasceu da junção destas duas antigas cidades e de uma outra de nome Obuda. Na margem onde nos encontramos, Pest, estão vários barcos compridos atracados que fazem cruzeiros no Danúbio. Continuamos pelo passeio paralelos ao rio. Chegamos a um estranho memorial composto por vários sapatos em ferro à beira do rio. Claro que a Marisa não podia perder uma coisa destas. Ele há sapatos de vários tamanho e feitios! Alguns estão ornamentados com rebuçados, moedas e outros com pequenas bandeiras Israelitas. Trata-se na verdade de um monumento em memória dos vários judeus que aqui foram atirados ao rio para morrer. Segundo consta na história, atavam um grupo de pessoas umas às outras, davam um tiro em apenas uma delas e empurravam o grupo para o rio. Os que fazem mais impressão são os sapatos de criança. É uma triste lembrança do horror a que os homens se deixam levar e do sofrimento que conseguem infligir nos seus semelhantes.
Do lado oposto da estrada encontra-se o edifício do parlamento. Um dos maiores e mais majestosos da cidade. A fila para entrar já é longa, mas não fazemos intenções de entrar porque para isso teríamos de gastar o resto do dia e ainda queremos ver muitas coisas. A praça envolvente ao parlamento está guardada por duas enormes estátuas de cavaleiros e está impecavelmente arranjada a combinar com os guardas que fazem sentinela ao edifício. Conseguem ficar inertes à passagem dos visitantes e mesmo ao “assalto” à privacidade que sofrem ao serem constantemente fotografados.
Junto ao parlamento encontramos uma estrutura de ferro ferrugento com buracos de balas com a inscrição “Em memória, 23 de outubro 1956”. Descemos uma escadaria para uma zona subterrânea onde encontramos outro memorial. Desta vez diz respeito a um dia trágico da história da Hungria. O memorial é um centro interpretativo que explica os acontecimentos desse dia. No referido dia, durante o período do regime soviético, houve uma insurreição de muitos populares contra o regime que se concentraram nesta praça para se manifestarem de forma pacífica por um país livre. Do outro lado da “barricada” as forças leais ao regime mantiveram-se sobre tensão. Sem se perceber como, alguém deu um primeiro tiro que desencadeou uma trágica sequência de eventos que levaram à morte centenas de pessoas e deixaram outros tantos feridos. Ainda hoje não é claro o que aconteceu e ninguém conseguiu apurar a realidade dos factos que desencadearam esta tragédia. Mais tarde, milhares de pessoas, opositoras ao regime, viriam a morrer por alegadamente estarem ligadas a estes eventos. A tentativa de libertar a Hungria do regime soviético durou de outubro a novembro, mas acabaria por fracassar com o apoio da União Soviética ao governo Húngaro.
Seguimos com a mente carregada de tristes memórias pelo Danúbio até à ponte Margit que liga ambas as margens do rio (Buda e Pest) e ainda a pequena ilha que dá o nome à ponte. Do lado de Buda é onde se obtêm as melhores vistas da cidade sendo o parlamento a estrela maior. Da ponte Margit seguimos até à ponte das correntes pela margem. Dai subimos até ao monte do castelo. Há um pequeno funicular que faz a subida mas como não é longa e ainda por cima está fila para subir, optamos por ir a pé.
Chegamos ao topo que é a parte antiga da cidade com uma arquitetura tipicamente medieval. A área deve o nome ao castelo da cidade que em tempos se situou aqui. Hoje restam apenas algumas ruínas e partes da muralha que contornava toda a cidade. Esta é uma das zonas mais turísticas de Budapeste, onde estão os principais museus e marcos históricos da cidade e está classificada como património mundial da UNESCO. Passamos por um pequeno mercado de artesanato. Pelo que percebi os produtos mais típicos são uns panos em renda e especiarias à base de paprica, onde se Incluem malaguetas, molhos e pastas de barrar. O resto é só quinquilharia “para turista ver” e claro comprar.Um dos locais mais concorridos do castelo é o bastião dos pescadores um complexo de muros, torres e escadarias onde em tempos os pescadores descarregavam o peixe. Daqui tiram-se as melhores fotografias da cidade (do lado de Pest) e podemos comer num dos vários restaurantes à mesa com vista para o Danúbio e para a cidade. Junto ao bastião encontra-se o templo de Mátyás e no lado oposto o hotel Hilton.
Parte da visita ao monte do castelo passa por percorrer as suas várias ruas que têm um ambiente muito tranquilo e acolhedor e descobrir os seus becos mais recônditos. Foi numa dessas investidas que descobrimos uma livraria muito simpática. Está localizada numa pequena estrutura envidraçada a lembrar uma estufa e tem meia dúzia de mesas. A clientela parece-me ser essencialmente gente local e de alguma idade que confraternizam enquanto tomam um café ou um chá. Não é preciso entender Húngaro para saber que estão essencialmente a pôr a conversa em dia. Não se vê praticamente estrangeiros aqui o que nos dá a sensação de estarmos num espaço genuíno. Mas quem sabe posso estar enganado.Na continuação do passeio passamos por uma igreja evangélica que está fechada e por vários museus, como o museu militar, que não fazemos intenção de visitar. Passamos pela torre Buda recentemente reaberta ao público. É o edifício mais alto desta parte da cidade que esteve em reparações é só foi reaberto já este ano. Em frente à entrada da torre vemos uma réplica do manto real construída em latão por um artista local. A obra foi instalada em abril de 2017.
A seguir visitamos um local curioso da cidade que se chama Labirinto. Já tínhamos visto publicidade no lado de Pest. Trata-se de um conjunto de túneis subterrâneos onde segundo a história esteve preso Vlad, o famoso príncipe romeno da Transilvânia que foi imortalizado pela personagem do conde Drácula. Segundo parece, Vlad foi capturado por um rei Húngaro e esteve aqui em Buda a passar uns tempos até ser mais tarde liberto. Percorremos cerca de 1 km de túneis por várias galerias enfeitadas com manequins trajados a rigor com fatiotas cedidas pela casa da ópera, cedidas para uma exibição temporária. Também encontramos algumas instalações alusivas à fábula do conde Drácula como um conjunto de cabeças empaladas no espeto. Parece que era uma das especialidades do homem! O passeio é muito engraçado porque há zonas completamente escuras onde só temos um corrimão para nos guiar, ou outras em que a humidade do ar e as luzes formam um nevoeiro tenebroso que não nos deixa ver quase nada. Tirando estas áreas pontuais, a maioria do labirinto percorre-se de forma bem tranquila. A dificuldade mesmo é encontrar a saída. Não fosse pelas placas com indicações que volta e meia aparecem, a esta hora estaria provavelmente a escrever de baixo da terra.
Voltamos à parte central do castelo onde se situa o museu nacional e a galeria nacional. Passamos por uma passadeira com grandes vistas para o rio e para Pest e descemos por uma enorme escadaria até aos jardins do castelo. Cá em baixo voltamos à ponte das correntes desta vez atravessamos a pé para o lado de Pest. Na praça Vorosmarty, uma das mais movimentadas da cidade comemos um Langos tradicional numa das “barracas” de rua junto ao Hard Rock Café Budapest. É uma espécie de crepe típico frito e “enfeitado” com alho e queijo ralado. Também pode levar carne, mas optamos pela versão mais simples.
Com o estômago aconchegado seguimos pela rua Váci, uma das principais vias de comércio da cidade. Claro que não podíamos passar sem fazer algumas compras … O que vale é que já não temos muitos Forins. Ah! mas aqui aceitam Euros em todo o lado. As lojas fecham às 20:00 e como estamos em cima da hora somos corridos literalmente. Aqui não fecham a porta e esperam que os clientes saiam. Correm logo com eles.
Seguimos até ao final da rua Váci que termina no grande mercado central (Nagyvásárcsarnok), que é o maior e mais antigo mercado fechado da Hungria. A esta hora já está fechado, mas no exterior, o edifício é imponente. Voltaremos no dia seguinte para ver o comércio a vibrar.
Junto ao mercado fica à ponte da liberdade que está agora fechada ao trânsito e transformada numa praça de convívio ao ar livre. A noite está agradável e as pessoas espalham-se pela ponte em grupos a beber, a conversar, a jogar ou a assistir a números de entretenimento de rua. O ambiente é espetacular. Algumas pessoas trazem hammocks para se deitarem. Um palhaço apresenta um número de rua, enquanto na extremidade oposta da ponte (do lado de Buda) as pessoas se amontoam a assistir a um concerto de um grupo rock. O grupo tem amplificação alimentada por um gerador e até um técnico de som. Não é apenas uma “street performance” convencional. Por detrás do palco improvisado, a polícia assiste a tudo de forma serena. Tudo isto cria um ambiente surreal e ao mesmo tempo magnífico sobre as águas do rio Danúbio, sem que este se dê conta de tamanha profanação que lhe estão a fazer.
Regressamos a casa, isto é, à casa que temos por uns dias em Budapeste. Pelo caminho ainda passamos pela sinagoga judia, “Dohány Street Synagogue”. É a maior sinagoga da Europa e a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da sinagoga de Nova Iorque. Tem uma lotação de 3000 pessoas. Claro que já está tudo fechado mas pelo menos ficamos com uma ideia deste edifício emblemático do judaísmo e da história da Hungria.
O dia foi longo e cansativo, pois fizemos todo o percurso a pé. O centro de Budapeste não é muito grande, mas andamos muito e subimos e descemos algumas colinas. Desta forma sentimos o pulso à cidade e aprendemos a nos orientar entre os vários pontos de interesse. Agora é hora do merecido descanso.