Capitais Imperiais 2017 – Budapeste 2/2

Dia 2 & 3

Dia 2

Apanhamos o metro em Oktogon e hoje optamos por comprar o bilhete para o dia todo para podermos andar de transportes à vontade. O primeiro ponto do dia é o grande mercado central, onde já tínhamos passado na noite anterior. Hoje está aberto, mas o movimento é acima de tudo de turistas. É o maior mercado fechado da Hungria, mas ao contrário do que pensávamos está “montado” essencialmente para os turistas. 

É certo que tem muitas bancas a vender vegetais e frutas, talhos e até algumas peixarias. No andar subterrâneo tem muitas bancas a vender pickles. Aí não se veem tantos turistas, mas mais locais. Assim que descemos as escadas vem um odor a vinagre que até arrepia a espinha. De resto é só bancas a vender bugigangas para os turistas. A parte mais interessante, quanto a mim, é a zona de comidas no piso superior. O espaço é curto e mal se consegue passar com tanta gente a comer nos pequenos quiosques. Há especialidades para todos os gostos e o cheiro aqui é bem mais agradável.

Depois passamos a ponte da liberdade para o lado de Buda, mas hoje vamos de eléctrico. Saímos em frente ao hotel Gellért que também têm um dos mais famosos banhos termais da cidade. Mas guardamos os banhos mais para o fim do dia. Seguimos para o monte Gellért e a primeira paragem é na igreja da caverna, uma pequena  igreja construída numa caverna na parte mais baixa do monte. A igreja data de 1926 e passou por várias remodelações. 
Entre 1951 e 1989 o regime soviético cobriu a entrada da caverna com um grande muro de cimento para impedir a proliferação da fé Cristã. Hoje é possível ver um resto desse muro à entrada da caverna. O interior é fresco e adornado com várias relíquias que se espalham por várias salas. Entre elas estão várias ofertas da Polónia, que têm uma sala para celebrar a amizade entre os dois povos, e também um altar dedicado à nossa senhora de Fátima com uma sua estátua.

Subimos o monte até ao topo onde se encontra a cidadela e a grande estátua da liberdade. Dai temos uma vista fabulosa para a cidade. Há muitos turistas que vêm autocarro até cá acima e a praça da estátua está apinhada de gente. Damos uma volta pelas barracas de madeira que vendem alguns produtos artesanais e comes & bebes e voltamos para baixo. Por detrás dos banhos Gellért ainda conseguimos fazer uma geocache, a primeira na Hungria.

Depois encontramo-nos com o nosso amigo Adrian, que mora em Timisoara, na Roménia. Ele veio de férias à Áustria e combinamos passar uns dias juntos em Budapeste, que fica a cerca de 200 km de sua casa. Combinamos ir visitar o Memento park, um parque onde foram realojadas todas as estátuas do antigo regime soviético que existiam na cidade. 



O parque fica fora da cidade e para lá chegarmos temos de ir de elétrico e depois de autocarro. À entrada somos recebidos por sua grandes estátuas de Lenin, Marx e Engels. Do lado oposto estão umas enormes botas de Staline, que são uma réplica de uma antiga estátua. O parque é espetacular porque podemos ver espécies raras, já extintas e ao mesmo tempo sabemos que elas já não fazem mal a ninguém. Já não há muitos lugares do mundo onde ainda se possa ver tamanha propaganda ao comunismo e é por isso que o parque é especial, nada mais.


Voltamos ao centro de Budapeste. O Adrian e a família vão descansar, enquanto nós vamos aos tão desejados banhos. Não é que ainda não tivéssemos tomado banho, mas estes são especiais, assim esperamos. Budapeste é conhecida como a cidade termal. Do seu solo emergem centenas de nascentes termais de vários tipos que podem ser aplicados em prol da saúde. Há muitos complexos termais espalhados por toda a cidade. Poderíamos ter vindo a Budapeste só para isso é já teria sido uma viagem bem interessante. Escolhemos os banhos Széchenyi porque são os mais antigos da cidade e também os maiores. Ficam localizados no coração do parque da cidade na parte de Pest. Passamos pela praça dos heróis onde estão colocadas várias estátuas dos heróis da revolução húngara. À hora que chegamos está repleta de asiáticos que tiram fotografias de todas as formas e feitios. 

O complexo termal Széchenyi está aberto até às 22:00. São cerca da 19:00 quando entramos por isso deve dar tempo suficiente para relaxarmos. As grandes piscinas exteriores deixaram de ser apenas uma visão de vários folhetos e imagens na Internet e passaram a fazer parte da realidade presente. Com águas com temperaturas a variar entre os 36 e 38 graus C, pode-se apenas ter uma pequena ideia do relaxamento terapêutico daí resultante.
Alguns dos espaços interiores já estão fechados, mas ainda conseguimos ir à sauna e um banho de balde de água gelada, tal Ice Bucket chalenge, para ativar a circulação sanguínea. Num dos edifícios laterais, descobrimos que alguns banhos interiores ainda estão abertos. Aqui temos uma variedade de piscinas com águas de temperaturas desde os 18 graus C e os 40 graus C. É o ideal para fazer a terapia dos banhos quentes e banhos frios, haja coragem para tal. Acabamos por recorrer a essa terapia pois já não aguentamos tanto calor. Ficamos no interior até escurecer completamente por volta das 21:00. Quando voltamos às piscinas exteriores, a iluminação do complexo dá-lhe uma beleza ainda maior. As suas fontes e estátuas estilo barroco transformam-se num espetáculo decorativo digno das mais nobres cortes reais. Por aqui ficamos até ao apito final. Não. Não se trata de uma figura de estilo, porque o staff do complexo recorre ao uso do apito por volta das 21:45 para mandar o pessoal embora. E assim fomos … muito melhor do que quando chegamos.

Os banhos deram-nos uma moleza tremenda mas também nos abriram o apetite. Ligamos ao Adrien para combinarmos ir jantar com ele perto do seu hotel. Depois de nos encontramos na estação de metro acabamos por ir comer a uma hamburgueria na praça onde ele fiou. Os hambúrgueres foram épicos, não só de nome (a casa chama-se Épic Burger) mas também de quantidade e sabor. Assim foi uma grande barrigada para terminar o dia, em grande companhia.

Dia 3

No último dia em Budapeste decidi levantar cedo e dar uma corrida pela cidade. Passei pela estação de comboio Budapest-Keleti para confirmar os horários dos comboios para Viena. Vamos depois do almoço. Da estação continuei pelo parque da cidade e no castelo de Vajdahunyad fiz mais uma geocache. Passei também pela praça dos heróis onde fiz outra. Como cheguei cedo à praça, tenho a vista só para mim e aproveito para tirar fotografias “limpinhas” de gente. No dia anterior nunca pensei que isso fosse possível.

Hoje vamos visitar a casa do terror, um museu sobre as polícias secretas do regime fascista e do regime soviético. O edifício que alberga a exposição foi usado por ambos os poderes como centro de inteligência, centro de interrogatório, prisão e mesmo como centro de execução de prisioneiros. Na rua junto ao edifício está um pedaço do muro de Berlim e uma escultura em ferro alusiva à então conhecida como “cortina de ferro”. 

O espaço interior está altamente decorado e muito bem documentado. Vale por cada minuto da visita. Somos recebidos logo ao início po um enorme tanque de guerra. Percorremos os vários pisos de cima abaixo onde aprendemos cronologicamente sobre vários eventos da história menos feliz da Hungria e do seu povo. Cada sala seguinte desperta mais curiosidade do que a imediatamente anterior. Passamos pelas celas e pela zona de execução dos prisioneiros na parte inferior do edifício. 

Os nomes dos falecidos às mãos dos brutais regimes estão escritos num memorial nas paredes e a exposição termina com fotografias de todos os que aqui trabalharam e foram responsáveis por este terror. Assim que nunca nos esqueçamos desses que para sempre irão carregar esta tragédia nos seus ombros. Primeiro foram os Nazis a implementar um sistema implacável de repressão, depois seguiram-se os soviéticos a espalhar o terror. Pelo meio ficaram aqueles que entretanto foram virando a casaca ao sabor do regime mais favorável. Entre todos, ora venha o diabo e escolha.


O Adrien e a família vieram ao nosso encontro para nos despedirmos. Elas seguem para casa em Timisoara, nós seguimos para Viena. Foi bom termos revisto os amigos, ainda que não tivéssemos muito tempo para estarmos juntos. Ao Adrien pouco interessa a história do comunismo, pois ele já viveu esses tempos num passado não muito distante e o seu avô também passou mal às mãos dos soviéticos. Na Roménia, o regime brutal de Ceaușescu só terminou em 1989 com a execução pública do ditador. Nessa altura o Adrien já sabia bem o que era a vida. Despedímo-nos com um até breve.

Fomos então para a estação Budapest-keleti para apanhar o comboio. Junto fica a praça Gabor onde comemos o tradicional Lengos antes de embarcar para Viena.

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