Este projeto tem a duração de dois anos e o objetivo principal é tornar o ensino das ciências e da matemática mais relevante e significativo para os alunos, tendo em atenção o respeito, as crenças e a diversidade cultural. A contribuição mais relevante deste projeto será a integração das STEM no currículo escolar de uma forma holística.
Participam no projeto as seguintes escolas:
- Agrupamento de Escolas Drª Laura Ayres, Quarteira, PORTUGAL
- Yeniköy Ortaokulu, Döşemealtı/Antalya TURQUIA
- Osnovnouchiliste “Yordan Yovkov” – Varna, BULGÁRIA
- Juhanliivinim – Alatskivikeskkool, ESTONIA
- Osnovna Sola Frana Metelka – Skocjan, ESLOVENIA
O primeiro encontro internacional do projeto decorreu no passado mês de outubro no sul da Turquia, na cidade costeira de Antalya. O objetivo deste encontro, para além do primeiro contacto presencial da equipa transnacional, foi proporcionar um espaço de formação sobre a temática da integração das STEM no contexto educativo.
Aqui fica um registo de algumas notas pessoais recolhidas durante o intercâmbio.
Parte I
A organização do evento esteve a cargo dos colegas da escola Yeniköy Ortaokulu que fica na localidade de Döşemealtı, no distrito de Antalya. À chegada fomos recebidos pelo coordenador local do projeto que nos apresentou aos restantes parceiros, bem como ao diretor da escola local.
O primeiro dia de trabalhos foi reservado para as visitas às entidades oficiais da região. Assim, começamos a manhã no moderno edifício da câmara municipal de Döşemealtı, onde fomos recebidos pelo Sr. Presidente daquela edilidade. Juntou-se a nós também o diretor da escola local. Num ambiente descontraído e cortês, o Sr. Presidente agradeceu a nossa presença e a importância que o projeto releva para a sua cidade, e em particular para a escola Yeniköy Ortaokulu. Falou-nos sempre em Turco, auxiliado pela tradução para Inglês do responsável pelo pelouro da educação. Contou-nos um pouco sobre o papel da câmara no pelouro educativo e da região no geral. Seguindo o costume local, fomos convidados a tomar um chá, enquanto passamos às apresentações individuais. Depois de um espaço aberto a perguntas ao Sr. Presidente, seguiu-se um momento de cortesia de troca de lembranças. Da nossa parte levamos na bagagem um livro sobre o concelho de Loulé, gentilmente oferecido pela câmara municipal, assim como uma carteira de cortiça de fabrico local da nossa capital da cortiça, São Brás do Alportel. Tivemos ainda oportunidade de entregar uma carta de conforto da parte do presidente da câmara municipal de Loulé. Fomos depois presenteados com várias lembranças, de onde se destacam uma medalha comemorativa da cidade, uma caneca com o símbolo da cidade (a romã), um DVD de promoção da região, entre outros materiais de divulgação. Despedimo-nos deixando o convite para uma visita a Portugal, ao Algarve e ao concelho de Loulé em particular. Seguimos para a próxima visita oficial.
Apesar de não constar no programa, fomos solicitados a visitar o centro de coordenação metropolitana, um organismo que faz a ligação da gestão do distrito de Antalya com a gestão local de Döşemealtı. Fomos recebidos pelo diretor do centro, bem como por alguns elementos da comunidade local. Mais uma vez agradeceram a nossa presença salientando a importância que estes projetos têm para a comunidade local e garantindo aos responsáveis da escola local todo o apoio que necessitarem, o que deixou os nossos colegas turcos bastante agradados. Seguiu-se aquele momento típico da partilha do chá, após o que seguimos viagem.
A próxima paragem foi na direção regional de educação. Fomos recebidos pelo Sr. diretor que nos deu as boas vindas e apresentou alguns dados do contexto educativo local, assim como as bases estruturais do sistema educativo na Turquia. Abordaram-se essencialmente aspetos organizacionais e processuais e não tanto aspetos pedagógicos, o que de certa forma se compreende a este nível de organização. O Sr. diretor mostrou-se bastante curioso em perceber o funcionamento dos nossos sistemas educativos, tendo solicitado que partilhássemos alguma informação acerca da nossa realidade.
Gerou-se uma agradável conversa (com a respectiva tradução pelo meio) na qual ficamos a saber por exemplo, que o sistema educativo público na Turquia é totalmente centralizado ao nível dos conteúdos. É o governo central que decide o currículo e a direção regional garante o seu cumprimento nas escolas da região. Já no que diz respeito aos recursos, a escola recorre à autarquia. A autonomia das escolas é pois bastante limitada, se é que ela existe mesmo. O corpo docente, por outro lado, é da responsabilidade da direção local de cada escola. A acompanhar este momento de conversa e como por esta altura já se adivinhava, veio mais uma rodada de chá. Alguns colegas menos adeptos das ervas do oriente, começaram por esta altura a recusar de forma educada. Nós os portugueses não quisemos fazer essa desfeita. Afinal de contas fomos nós que no séc. XVI trouxemos este hábito do oriente!
A direção regional de educação de Döşemealtı fica precisamente ao lado da nossa escola de acolhimento. É para lá que vamos a seguir, onde somos recebidos por um grupo de alunos vestidos com trajes tradicionais. À chegada oferecem-nos os tradicionais “Turkish delights”. No grande pátio é o alvoroço a que estamos acostumados nas nossas escolas básicas. Alguns pais vêm à escola buscar os filhos para o almoço, enquanto outros almoçam mesmo por ali no pátio com as crianças. Somos convidados a entrar num edifício lateral da escola, uma espécie de polivalente com um palco e muitas cadeiras. Num canto temos várias mesas corridas com o almoço que foi preparado pelos pais dos alunos. Antes da refeição assistimos a um número de danças tradicionais apresentado pelos alunos nos seus trajes. Depois, a professora de inglês dá-nos as boas vindas.
Após a receção formal, somos convidados para o almoço bufete. Cada um serve-se do que quiser. O desafio é tentar decifrar a gastronomia local. Para nos ajudar, explicam-nos onde estão as sobremesas e os pratos principais … e basicamente é isso. O resto estamos por “nossa conta e risco”. Não que a qualidade oferecida esteja em causa, mas conhecendo eu alguma da comida local, certamente que alguns dos pratos têm uma quantidade generosa de especiarias. Isto pode ser um problema para o paladar estrangeiro, mas no final ninguém se queixou, seja por delicadeza ou não. Claro que não podia faltar o chá e outra das bebidas preferida dos turcos: ayran. Basicamente consiste em iogurte líquido salgado. Os turcos comem iogurte com tudo e como se isso não bastasse, ainda fazem bebida dele. Eu pessoalmente aprecio bastante. Nas sobremesas também não podiam faltar as baclavas, entre outras iguarias indecifráveis.
O almoço foi muito informal num ambiente extremamente acolhedor, bem à moda da Turquia. É como se fizéssemos parte da “casa”. Seguiu-se a visita a algumas salas de aula. Começamos pelo jardim de infância, num dos edifícios anexos à escola, onde os pequenos brincam alegremente e nos mostram os seus trabalhos com a ajuda das educadoras. À medida que nos deslocamos pelo recinto da escola, somos acompanhados por uma avalanche de crianças que timidamente tentam entrar em contacto connosco. Para a maior parte deles é a primeira vez que veem estrangeiros por aqui e não resistem a lançar para o ar algumas palavras em Inglês (“Hello” é a mais comum). No edifício principal da escola somos divididos em dois grupos para visitarmos alguma das salas. À medida que vamos passando pelas salas, somos apresentados pelos colegas Turcos e os alunos fazem-nos algumas perguntas. Umas preparadas, outras espontâneas. Vamos vendo os trabalhos que estão a fazer e falamos um pouco sobre o nosso país para saciar a curiosidade dos alunos. Alguns pedem-nos para ensinarmos palavras em Português. Numa das turmas ensinamos os alunos a contarem até 10 na língua de Camões. Acabamos por ter alguns momentos de interação muito interessantes com as crianças. Afinal de contas, o professor é sempre professor independentemente da língua a que recorre para comunicar com os seus alunos.
Terminamos a visita à escola no gabinete do diretor, onde partilhamos algumas ideias sobre as nossas escolas e trocamos algumas lembranças. Como não podia deixar de ser bebemos mais um chá ou café Turco. Por esta altura alguns colegas já não conseguiam beber mais chá e como é indelicado não beber nada, optaram pelo café. Terminou assim a nossa visita à escola Yeniköy Ortaokulu, uma escola bastante humilde, onde os recursos educativos se limitam praticamente às mesas e às cadeiras. A comunidade envolvente à escola é de um estrato social baixo e os apoios não são muitos. Os nossos colegas fazem o que podem em salas com mais de 30 alunos, com mesas onde não há espaço para mais do que o caderno diário. Nas aulas de desenho, por exemplo, as folhas sobrepõe-se umas às outras. Na mesma mesa, dois alunos não conseguem trabalhar ao mesmo tempo. Não se veem projetores nem quadros interativos, apenas os velhinhos quadros de giz. Num ambiente tão “hostil” como este é necessária extrema criatividade para conseguir ensinar o que quer que seja. Ser professor é isso mesmo. É de louvar o trabalho destes nossos colegas. Um corpo docente relativamente jovem que tenta remar contra as circunstâncias, para proporcionar um mundo melhor às gerações futuras.
Parte II
Nos dois dias seguintes, estivemos reunidos em Antalya para iniciarmos os trabalhos do projeto. No primeiro dia assistimos a uma apresentação sobre o paradigma de ensino STEM que nos foi apresentado pelo nosso colega da Turquia.
Ele já trabalha nesta área à algum tempo e neste momento está a terminar uma investigação para a sua tese de doutoramento. Depois realizamos algumas atividades práticas, como exemplo de ideias para implementar o ensino das STEM de forma criativa. Uma delas foi a construção de um carro com materiais comestíveis e a outra a construção de um rocket de papel e esponja para ser lançado com a pressão do ar de uma garrafa. Os produtos finais alcançados foram diversos e curiosos.
Uns mais eficazes do que outros. Mas o mais importante neste tipo de ensino não é o produto em si, mas o processo para o alcançar. É aqui que reside a maior valia do ensino STEM, no desenvolver de várias competências transversais a todos os ramos com recurso a uma metodologia de trabalho. No nosso caso recor
remos à metodologia de desenho da engenharia. Quando chegamos ao produto final, há que testar, avaliar e refazer o produto até o resultado ser satisfatório.
No segundo dia foram convidados dois professores universitários para nos falarem também da temática do projeto. Abordou-se a argumentação como uma ferramenta fundamental para explorar e fixar conceitos científicos e realizamos também algumas atividades com recurso ao raciocínio lógico/matemático. Tivemos ainda oportunidade de apresentar a disciplina de Cineciência e alguma da prática letiva que já temos no agrupamento nesta área. Os nossos colegas ficaram muito curiosos sobre esta abordagem, pois o cinema geralmente não faz parte dos currículos escolares. Mostramos algumas das atividades que realizamos nos últimos anos e partilhamos alguns materiais.
Este encontro permitiu-nos estabelecer o enquadramento teórico e empírico no qual está assente o projeto, assim como conhecer os parceiros envolvidos no mesmo. Houve tempo ainda para esclarecer as atividades planeadas, e definir o calendário dos vários encontros internacionais.
Agora, como se depreende do título do projeto, é “por as mãos na massa” e deixar a ciência fluir.