Minsk, Bielorússia

Agosto, 2018

Acordamos na capital da Bielorússia com uma vista fabulosa do nosso apartamento para o rio Svislach. Do lado poente fica o parque da vitória, um dos espaços verdes mais nobres da cidade. O sol desponta na pequena ilha das lágrimas, um pedaço de terra que ficou esquecido numa das partes onde o curso do rio alarga de tal forma que parece formar um lago.

Ilha das lágrimas e bairro da Trindade

Descemos até à avenida, junto ao rio e atravessamos a ponte que dá acesso à ilha das lágrimas que alberga um conjunto de vários monumentos alusivos aos falecidos durante a guerra de nove anos (1979 – 1988) que as tropas da então União Soviética enfrentaram no Afeganistão. À entrada a pequena escultura do “Son of the Fatherland” dá as boas vindas aos visitantes. É aqui que muitos trazem coroas de flores como homenagem aos que pereceram. Um dos principais monumentos é uma torre rodeada por enormes esculturas de mulheres, viúvas, irmãs e mães que enlutarem durante esse período, todas elas  de cerviz carregado. Na cúpula interior da torre podemos observar várias pinturas alusivas à guerra, como armas e helicópteros, bem como os nomes de mais de 700 soldados que pereceram durante esse período.

Mas o que dá o nome à ilha é uma estátua de um jovem anjo da guarda que continua literalmente a verter lágrimas por todos aqueles que continuam a perder a sua vida nos vários conflitos espalhados pelo mundo.

Depois deste momento de reflexão seguimos para o bairro da Trindade, uma zona histórica da cidade. Visitamos um museu de história local e um museu de ferros de engomar …, sim, daqueles para “passar a roupa a ferro”. É um tema curioso para fazer um museu, mas como acabamos por descobrir há muita história para contar à volta deste pequeno utensílio doméstico. Visitamos também várias lojas de artesanato local enquanto explorávamos as várias ruas do bairro, antes de passarmos para a outra margem do rio.

Catedral do Espírito Santo e antiga Câmara Municipal

Do lado oposto começamos por visitar a Catedral do Espírito Santo, com a sua cúpula verde. No interior decorria uma cerimónia fúnebre. Não podíamos ter escolhido melhor altura! Mas os visitantes não deixaram de entrar e ninguém se sentiu incomodado. Como se trata de uma igreja ortodoxa, a cerimónia é um pouco estranha para nós.

Subimos pela rua adjacente à catedral até ao edifício da antiga câmara municipal. Na praça central há várias cabanas de madeira com lojinhas de souvenirs em frente ao mosteiro basiliano. Mas o que chama a atenção dos visitantes é uma escultura de bronze de uma carruagem à escala do presidente da câmara. Local de paragem obrigatória para fotografias.

Depois decidimos explorar as estreitas ruas desta parte da cidade, na outra margem do rio Svislach. Passamos pela igreja católica de São José, por uma antiga casa de maçons e por um museu de arte moderna, onde um velho piano colorido na rua faz a delícia dos mais pequenos.

Praça de Outubro

Esta zona da cidade é o coração cultural da capital e por isso um pouco mais à frente encontramos o palácio da cultura (Палац культуры прафсаюзаў em Bielorrusso), um imponente edifício de arquitetura soviética clássica, inspirado na arquitetura Helénica. Encontramos uma porta aberta e vamos entrando. Não há  ninguém para nos receber, nem à porta, nem no interior! Descemos umas escadas que nos levam até a um museu de miniaturas , onde finalmente encontramos algumas pessoas. Visitamos uma pequena exposição de uma casa típica e também a loja do museu.

 

No lado oposto do palácio da cultura, fica o palácio da república (Палац Рэспублікі em Bielorrusso), uma enorme sala de espetáculos de arquitetura moderna, por onde já passaram entre outros, Shakira ou Cesária Évora. Apesar do seu tamanho, ainda assim não chega para ocupar toda a área da Praça de Outubro (Кастрычніцкая плошча em Bielorrusso). Esta é uma das maiores praças da capital, onde para além dos já referidos se encontram também o museu da grande guerra patriota, a casa do presidente, o circo de Minsk entre outros edifícios emblemáticos não só da cidade, mas da nação Bielorussa.

Rua Nemiga

Da praça seguimos até à rua Nemiga, uma das principais artérias da cidade e onde se encontram várias lojas internacionais. Num dos lados da rua encontramos um supermercado que decidimos visitar para ver que tipo de produtos que se consomem por aqui. A parte que achamos mais curiosa é a zona do peixe. Aqui vende-se peixe fresco, mas também peixes vivos que se encontram em grandes tanques. Parecem os tanques de algumas marisqueiras em Portugal. Mas para além disso vendem também muito peixe seco de diferentes espécies, cores e tamanhos. Para nós que só conhecemos o bacalhau seco, tudo isto se configura como um grande um mistério!

Depois passamos por uma loja de artes, onde a Marisa não pode deixar de fazer umas compras. A loja vende todo o tipo de material para pintura e artesanato simples e organiza workshops artísticos. Enquanto a Marisa “vasculha” os materiais num das secções da loja, eu vou até à outra seção onde estão umas senhoras a pintar e outras a construir pequenos artefactos de madeira.

Praça da Independência e Portas da Cidade

Depois de algum tempo na loja, voltamos para a rua e vamos visitar a igreja do Santo Simão e da Santa Helena (Касцёл святых Сымона і Алены em Bielorrusso). Também conhecida como a Igreja Vermelha (Чырвоны касцёл em Bielorrusso) é uma igreja católica que que fica localizada na Praça da Independência e que a principal característica é a cor da sua construção. Desenhada por arquitetos polacos, é toda construída com tijolos e telhas, daí a cor avermelhada. Em frente à igreja foi erigida uma escultura de 4,5 metros do arcanjo Miguel com uma enorme lança a perfurar uma serpente. Um pouco mais à frente encontramos um monumento a Lenine. Ao contrário de outras cidades por onde já passamos na Europa, aqui decidiram preservar estas memórias do comunismo.

A Praça da Independência têm umas grandes claraboias que surgem do chão, o que desperta a nossa curiosidade. Quando vamos espreitar para ver o que vêm debaixo descobrimos que é um centro comercial totalmente subterrâneo. Aproveitamos para comprar alguns snacks para entretermos o estômago enquanto continuamos o passeio.

Agora seguimos até às Portas da Cidade (Вароты Мінска  em Bielorrusso), duas grandes torres simétricas de arquitetura Estalinista clássica que são um dos símbolos da capital Bielorrussa. Ficam precisamente do lado oposto à estação de comboios e à paragem de autocarro onde saímos no dia anterior. Como seria de esperar, é uma zona movimentada da cidade. Passamos pelo shopping Galileo, onde encontramos algumas lojas em saldos. Sim aqui também há saldos e uma loucura de gente a desarrumar as lojas, à procura, vá se lá saber do quê. Demos uma volta por esta zona de Minsk, que são os bairros mais nobres da cidade com muitos restaurantes e passamos também pelo casino Shangri La.

Depois apanhamos o metro para a biblioteca nacional, que fica já longe do centro.

Biblioteca Nacional

A Biblioteca Nacional da Bielorússia (Нацыянальная бібліятэка Беларусі em Bielorrusso) é um dos edifícios mas vistosos da cidade, devido à sua forma arquitectónica. No dia anterior, quando viemos do aeroporto para a cidade, já tínhamos passado por ele, o qual despertou de imediato a nossa curiosidade. Fica localizado numa zona nova da cidade. A biblioteca foi construída num parque na margem de um rio, que vai ligar ao jardim botânico. Do lado oposto fica um conjunto de blocos de prédios habitacionais modernos ainda em construção. O edifício da biblioteca tem a forma de um rombicuboctaedro (um sólido de Arquimedes para os matemáticos mais curiosos) e uma altura de aproximadamente 74 metros, 23 andares, todos envidraçados. Com uma lotação para 2000 leitores, tem ainda uma sala de conferencias que pode sentar 500 pessoas. É uma verdadeira obra de arte, só ao alcance de orçamentos de estado menos comedidos e a gostos mais arrojados.

Para visitarmos a biblioteca é necessário fazermos um registo como leitor temporário e pagar uma pequena quantia de rublos. Mas ainda que não tenhamos muito interesse em consultar o catálogo de obras disponíveis (que segundo consta tem mais de dois milhões de registos), temos de visitar o interior do edifício. O público tem acesso a três pisos com diversas salas de leitura, salas temáticas, salas de trabalho e de conferencias, um café, entre outras, que se localizam de forma circular à volta do edifício no seu ponto com maior diâmetro. Ao longo das salas não se encontram muitos livros, porque a maior parte do catálogo está armazenada nos pisos superiores, onde o diâmetro é mais reduzido. O acesso é feito de forma automática através de carris que transportam os livros pedidos pelo edifício. Ao contrário das bibliotecas mais convencionais, aqui a maioria dos livros não estão visíveis, pois estão armazenados em repositórios construídos para o efeito.

Para mim um passeio na biblioteca é sempre uma experiência agradável. Gosto do ambiente silencioso e da quietude que os livros transmitem. Neste caso ainda temos a possibilidade de apreciar o engenho humano expresso na estrutura que alberga todo o edifício.

A biblioteca tem ainda outra atração, para além do que está reservado aos leitores. Tem um observatório exterior no 23º andar, que pode ser acedido pelas traseiras do edifício através de um elevador. Num dia soalheiro como o de hoje, do topo conseguimos ver toda a cidade de Minsk. No piso abaixo do observatório há ainda um simpático café que tem também uma exposição de pintura.

No lado oposto à biblioteca fica o Shopping Dana, mesmo ao lado do metro, onde temos de fazer uma paragem “obrigatória”. Regressamos de metro ao centro e assim descemos do céu à terra em menos de nada, ou melhor, a baixo da terra. Saímos na estação de Nemiga onde há imenso movimento. Antes de andarmos no metro tínhamos mesmo comentado que não se veem multidões na rua, como é normal em qualquer capital. Mas aqui parece que anda mais gente debaixo da terra do que à superfície. Agora vamos procurar um local para descansar e comer qualquer coisa, que o dia já vai longo.

Na zona perto da antiga câmara municipal, acabamos por ficar no Vogue Café. Depois de jantar, regressamos ao nosso apartamento, numa caminhada tranquila pelas margens do rio Svislach. Deixamos a ilha das lágrimas para trás, com as suas mulheres a recordarem um triste passado. Em Minsk aprendemos que mais importante do que olhar para trás, é estarmos preparados para o que vamos encontrar pela frente.

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