Vilnius, Lituânia

Agosto, 2018

Nota prévia: A visita à Lituânia não estava inicialmente no programa da nossa viagem. O plano original era para voarmos de Minsk para São Petersburgo, daí para Moscovo e regressar a Frankfurt.. A ideia era visitar apenas o estado Russo e a Bielorrússia. O que se passou foi que para entrar na Bielorrússia existe agora um visto de turista para cindo dias que pode ser pedido à chegada. Esse visto só pode ser emitido no aeroporto internacional de Minsk e é apenas para cidadãos de alguns países Europeus, pois é uma forma de potenciar o turismo no país, eliminando a burocracia dos vistos. Ora tudo muito bem, não fosse o nosso destino seguinte ser a Federação Russa. Depois de muitas tentativas de contacto com embaixadas e representações consulares (a representação mais próxima de Portugal fica em Paris), consegui finalmente esclarecer a minha dúvida. Assim, com o visto de turista de cinco dias, não é permitido passar da Bielorrússia para a Federação Russa, uma vez que não existe controlo de passaportes entre os aeroportos destes dois estados! O mais estranho de tudo isto é que eu tenho visto para entrar na Rússia e a Marisa não precisa, pois tem passaporte Sul Africano (sim, não perguntem porquê, mas os cidadão da África do Sul não necessitam de visto para a Federação Russa), mas não podemos sair de Minsk diretamente para São Petersburgo porque depois à chegada não há controlo de passaporte. Várias coisas poderiam ter acontecido se não tivéssemos conhecimento desta situação, mas lembro-me apenas de duas situações: i) se chegássemos a São Petersburgo talvez fossemos presos sem dó nem piedade; ii) nem sequer nos deixariam embarcar de Minsk.

Enfim, isto fez-me tremenda confusão mas lá percebi que não havia grande volta a dar. A única alternativa para fazer a passagem direta era pedir à priorium visto para a Bielorrússia, mas isso no tempo que tínhamos estava fora de questão e custaria certamente muito dinheiro. A solução mais simples é sair do país, obrigatoriamente pelo aeroporto internacional de Minsk, e depois entrar na Rússia a partir daí. Ora as cidades mais próximas para onde podemos voar de Minsk são Riga e Vilnius (ambas em estados da União Europeia). Optamos pela segunda e assim eis nos aqui…



Chegamos à capital da Lituânia de manhã bem cedo. O voo de Minsk dura apenas 35 minutos.

Apanhamos um autocarro no aeroporto e passados 15 minutos estamos no centro da cidade. O hotel fica mesmo à entrada do centro histórico de Vilnius. O quarto ainda não está pronto, mas deixamos as malas no hotel e vamos dar um passeio pela cidade.

Bairro Judeu e Universidade de Vilnius

A primeira paragem é na igreja de todos os santos, ali bem próximo. No lado oposto da rua uma ergue-se uma escultura de um grande ovo colorido. Passamos depois pela câmara municipal, situada no centro da cidade e numa das zonas mais movimentadas da capital. Como ainda é cedo, as lojas estão a começar a abrir e os restaurantes a preparam as esplanadas.

Depois visitamos o antigo gueto Judeu que estava dividido em 2 zonas.  A parte antiga que era onde viviam os descapacitados e a parte nova onde residiam os judeus mais “úteis”. Hoje nas estreitas ruas encontramos muitas lojas de linho, um produto tradicional local.

No emaranhado de ruas do bairro encontramos uma porta de canto com umas cobertas verdes pintada com flores que chamou a nossa atenção. Por cima da porta um painel, também verde, despertou ainda mais a curiosidade e para além disso havia gente a entrar e a saír. Espreitamos e vimos que era uma pastelaria. Veio mesmo a calhar, uma vez que ainda nem tínhamos tomado o pequeno almoço. Lá dentro a decoração estilo rococó e os bolos vistosos de regalar o olho, cativam logo os clientes. O difícil foi escolher, mas lá tivemos de decidir por alguma coisa: uma espécie de pastéis doces e cheesecakejá devem dar para recuperar alguma energia. Aproveitamos também para descansar um pouco.

Continuamos o passeio pelo gueto antigo até à Universidade de Vilnius. Junto a uma das grandes portas de bronze da universidade, um grupo de crianças houve a explicação detalhada da professora sobre um o significado dos vários painéis que compõem essa porta. A universidade é composta por um conjunto de edifício de estilo neoclássico que ocupam todo um quarteirão.

Do lado oposto da universidade fica o gabinete oficial do presidente da República da Lituânia e palácio presidencial. Em frente ao edifício está a hashtag#LT100 comemorativa dos 100 anos da independência do país.

 

Catedral, Castelo e Igreja de São Pedro e São Paulo

Descemos até à praça da grande catedral, passando no caminho pelo famoso hotel Kempinski, onde vemos um imponente Ford Mustang de cor laranja estacionado à porta. Ele há gostos para tudo … A praça da catedral com a sua torre do relógio é um espaço amplo por onde se pode passear à vontade. Entretanto começa a chover e refugiamo-nos por momentos no interior da catedral, assim como tantos outros crentes. Aproveitamos para tirar umas fotografias e apreciar o órgão de tubos irrepreensivelmente cuidado. As cúpulas são todas esculpidas com figuras com detalhe e algumas pinturas. 

 

 

Quando a chuva acalma seguimos para o palácio dos duques, logo ali ao lado. Um relógio de sol numa das fachadas tenta dar as horas, mas com este tempo não me parece que isso seja possível. Visitamos apenas o pátio do palácio, pois não temos tempo para visitar o interior e seguimos para o monte do castelo Gediminas. O castelo atualmente é composto apenas por uma torre em tijolo no cimo do monte e uma pequena muralha de pedra. O monte coberto de verde com uns laivos de cinza da pedra, parece que foi cuidadosamente construído para o efeito.

 

Contornamos o monte pelo parque da cidade até uma pequena ponte que passa sobre um afluente do rio rio Neris. Daí seguimos a pé por cerca de 1 quilómetro até à igreja de São Pedro e São Paulo. Esta igreja tem outra curiosidade para além do facto de ser bicéfala de pároco. Contém cerca de 2000 figuras religiosas esculpidas nas paredes no interior do edifício, o que faz dela uma das principais atrações da cidade. De facto estão vários autocarros estacionados junto à igreja e lá dentro a azáfama é grande. Os visitantes tentam identificar as várias esculturas todas elas esculpidas com grande detalhe. Deixamos os apóstolos Pedro e Paulo e voltamos ao centro da cidade. Passamos novamente pela praça da catedral e entramos pela famosa Piles street. É uma rua sem trânsito onde se concentram muitos restaurantes e lojas de produtos locais e souvenirs. Está animada com muitas esplanadas e movimento de gente.

 

Igreja de Santa Ana e República Užupis


Depois passamos pela Igreja de Santa Ana. É uma igreja construída toda em tijolo e talvez uma das mais vistosas da cidade, quanto a mim. No interior, pendurado de uma das cúpulas está uma estrutura de um coração com vários origamis em forma de pássaros pendurados. Para além disso encontramos também uma estátua do Santo António com uma criança ao colo.

Ao lado da igreja fica o monumento de Adomas Mickevičius, um famoso poeta que é reclamado por várias nações. Tradicionalmente é considerado de origem Polaca, mas há quem diga que era Lituano, e ainda há os que argumentam que é bielorrusso, baseando-se no seu lugar de nascimento. Mickiewicz foi criado na cultura da união polaco-lituana, um estado multicultural que tinha ocupado a maioria do que hoje são vários estados independentes (Polónia, Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia), daí a confusão. O monumento é uma escultura em pedra com uma altura de 4,5 metros, junto à qual estão também seis baixos relevos no chão.


Seguimos depois para o Bairro Užupis, ou república Užupis, um centro de arte urbana que fica nas margens do rio Vilnia. Esta zona muito interessante é na realidade uma incubadora de ideias artísticas, com muitas esculturas espalhadas pelas margens do rio, Grafittis e lojas de arte.
Mas o que mais prende a minha atenção é uma coleção de pianos esquecidos pelo tempo. É o maior aglomerado de pianos que alguma vez já encontrei no exterior. Todos eles gastos pelo tempo e pela história, num memorial patente ao ar livre. Encostados ao alto a uma parede, ou nas pedras junto ao rio, alguns ainda soltam uma nota de tempos outrora melodiosos. Não resisto e por momentos sinto-me num conto de notas musicais.

Nota: Podem ver uma galeria de imagens dos pianos aqui.

Gates of Dawn

Voltamos ao centro histórico. No caminho para as portas da cidade, eis que encontramos um restaurante português, o “Galo do Porto”. Fica mesmo em frente a um dos mais famosos restaurantes locais, o Medininkai, onde se podem provar as melhores iguarias Lituanas. Mas convenhamos …, quem vai comer Cepelinai ou Burokėlių Sriuba quando pode optar por uns belos pastéis de bacalhau, ou um saudoso bacalhau com natas. Pois … nós nem uma coisa nem outra. Ainda não estamos há tempo suficiente fora de Portugal para termos saudades da nossa gastronomia e também não temos apetite porque temos andado a petiscar aqui e ali.

Chegamos às “Gates of Dawn” (Aušros vartai em Lituano), uma das portas mais antigas da cidade do século XVI e um dos locais religiosos mais importante da cidade. A capela nas portas, tem uma estátua da virgem Maria e no topo uma torre com um sino e a cruz do cristianismo a reluzir de cor dourada. No telhado em forma de V está uma escultura, também ela dourada, com o símbolo do olho da providência dentro de um triângulo com a inscrição “Mater Misericordia”.

Passamos pela porta para o exterior do centro histórico e vamos a um mercado local onde se vende roupas, frutas, vegetais, para além de vários talhos. Compramos um cesto com umas amoras gigantes por  1,5€! Tiramos a barriga de miséria que em Portugal, para além de serem mais caras, não são tão grandes nem tão gostosas. Vamos comendo no regresso ao hotel. Fazemos o check-in e descansamos um pouco antes de sairmos para jantar.

À noite em Vilnius

O jantar é ali perto do hotel num pub de nome Snekutis, um franchisado de pubs Lituanos com comida tradicional e muita cerveja. Nós dispensamos a cerveja e ficamo-nos pelos pratos tradicionais. Na parede tem um quadro com pins onde os visitantes marcam a sua cidade. Não encontramos nenhum de Faro e por isso o rapaz no balcão dá-me um martelo para eu pregar mais um pin no mapa. Comemos um belo bife, um panqueca de batata e umas “batatas fritas” de pão (Kepta Duona em Lituano). Ainda tive de provar uma sopa local e no final comemos que nem uns abades. Agora temos de ir dar mais um passeio.

Voltamos ao gueto judeu e depois passamos para a avenida Volkietti com restaurantes mais finos e um ambiente mais seleto. Exceção feita ao museu do cinema, um espaço mais irreverente com pessoas mais jovens a sociabilizar numa esplanada montada nas traseiras do edifício. Na entrada, um grupo de 5 rapazes joga Hacky sack. Uma parede velha de um outro edifício ali em frente foi transformada em galeria de graffiti. “Estampados” em placas de aglomerado de madeira, vão de Hitchcock a Marilyn Monroe, com várias figuras icónicas em exposição.

Depois passamos para a avenida Gedimino, a principal artéria da cidade, que liga o parlamento à praça da catedral. Aqui encontramos as lojas de alta costura e os restaurantes mais finos da cidade. A meio da avenida o museu do KGB apresenta relatos da ocupação soviética em grandes painéis no exterior. A Lituânia declarou a sua independência em 1918. Em 1940 a União Soviética invadiu o país e prendeu muitos dos políticos da altura que tinham lutado pela independência. Muitos viriam mesmo a ser assassinatos pelo KGB, enquanto que outros simplesmente desapareçam. Em 1990 quando os Lituanos voltaram a ser donos dos seus destinos (após a queda do regime soviético) restauraram o decreto de independência, como se este nunca tivesse perdido o seu valor. E assim se mantém até hoje, precisamente no aniversário dos 100 anos da independência do país. É por essa razão que encontramos por toda a cidade várias instalações artísticas e a hashtag #LT100. Na verdade foi apenas durante metade desse tempo que o pais foi independente (1940-1950 sobre domínio soviético), mas os Lituanos contam como se nunca tivessem ficados privados do seu país.

No final da noite passamos mais uma vez pela praça da catedral e voltamos a subir a Pilies street repleta de gente nos bares e nas esplanadas. Resta saber se por aqui ainda alguém se lembra que os Lituanos nem sempre foram donos do seu próprio destino.

A Lituânia é mais um dos países que já visitamos, que em tempos esteve sobre o domínio soviético. Em muitos desses países, as memórias desse tempo não são as melhores. Mas a verdade é que nunca estivemos do outro lado, isto é, do lado opressor, para conhecer essa história in loco.  Pois é para lá que vamos amanhã!

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