Agosto 2018
Dia 1 – Da Praça Vermelha ao Espaço (lá em cima)
À chegada …
Chegamos ao aeroporto SVO ao início da noite e apanhamos um táxi diretamente para o hotel. O aeroporto têm um comboio rápido que vai para a cidade (Airexpress), mas como somos duas pessoas os preços dos bilhetes, mais o que vamos gastar no metro fica quase o mesmo que o preço do táxi. Optámos então pela via mais cômoda, o táxi. A viagem até ao centro de Moscovo dura cerca de 45 minutos e pelo caminho começamos a aperceber-nos da enormidade da capital Russa. Os subúrbios da cidade são povoados por enormes arranha-céus de outros tempos soviéticos, que devem alojar milhares de pessoas. Para além de serem altos, são muito largos. Para tentar contabilizar o número de apartamentos de cada um, seria necessária muita precisão e paciência. Não temos nem uma coisa, nem outra.
Outro detalhe que se nota logo à saída do aeroporto é o consumismo desmedido que se reflete nos vários shopingsque passamos pelo caminho. São estruturas massivas que ocupam quarteirões inteiros. Nem precisamos de entrar para saber o que lá vai dentro, pois as lojas anunciam-se em grandes lettringspor toda a fachada. São as “suspeitas” do costume, pois a cultura do consumo, essa é igual em todo o mundo.
Por fim entramos na cidade e a selva urbana adensa-se com mais edifícios grandiosos dos tempos de Estaline. Aliás, Moscovo tem um conjunto de arranha-céus a que deram o nome das 7 irmãs. São prédios com a mesma arquitetura que segundo dizem, foram mandados construir por Estaline. Ao que parece o senhor não se dava muito à criatividade e então cá vai disto, ou então gostou tanto do modelo que não quis experimentar mais nada. Tive um colega que era assim. Certa altura gostou tanto de uma lasanha num restaurante em Paris, que andou a semana inteira a comer a mesma lasanha nesse mesmo restaurante. Enfim, são gostos …
Antes de chegarmos ao hotel, passamos ainda por um quarteirão de arranha-céus todos modernos. Parece que demos um salto da União Soviética para Hong-Kong! E assim é Moscovo, uma cidade de contrastes.
O nosso hotel fica junto à estação Kievskaya, num num edifício também moderno, mas um pouco mais modesto. Para entrar no hotel temos de passar dois controles de segurança e um detetor de metais. As malas são revistadas antes de podermos chegar à receção, que fica no 5 andar. O quarto fica no 12 andar e para lá chegarmos percorremos um pequeno labirinto de corredores.
Dia 1
Saímos do hotel pela manhã e o metro fica precisamente do lado oposto da rua (Kievskaya). Compramos o bilhete para 3 dias para podermos andar à vontade. Na véspera estudamos o mapa do metro, pois este é bem maior do que o de São Petersburgo e mais confuso. Há linhas circulares e ligações pedestres entre várias estações. A segurança é muito apertada à semelhança de São Petersburgo.
Seguimos para a Praça Vermelha, a primeira paragem da visita de hoje. Descemos do metro na estação mais próxima e ainda temos de andar um bom bocado no subsolo para lá chegar. As saídas estão bem sinalizadas com informações tanto em Russo como em Inglês e com mapas. Esta é a zona mais turística da cidade, por isso não é de admirar.
Regressamos ao exterior mesmo junto ao museu de história nacional que também é uma das entradas principais da praça. O movimento de gente é tremendo e muitos turistas por todo o lado, especialmente asiáticos.
Quando entramos na praça fico particularmente desanimado! Estão a instalar uma enorme estrutura de bancadas precisamente no centro da praça para um festival internacional de tatoos militares que vai decorrer no final do mês. Ora aquele que é um dos principais símbolos da cidade e do país está completamente “contaminado” com trujiada para um “folclore da tropa”. Com todo o respeito que tenho por esta arte, que por sinal até aprecio bastante. Mas não havia outro sítio para montarem o estaminé!? Bastava um pouco mais abaixo, mais perto do rio e já não incomodava ninguém. Sim, porque até o Lenine foram chatear! O homem não pode estar descansado no seu mausoléu que o recinto das bancadas até aí chegou, de maneira que nem esse importante monumento nacional se pode visitar. Vá se lá entender isto…
A outra paragem obrigatória na praça vermelha é a famosa Catedral de São Basílio, também carinhosamente conhecida como a igreja dos rebuçados, devido às suas cúpulas vistosas e coloridas. É semelhante à Catedral do Sangue Derramado em São Petersburgo, mas esta é a mais famosa. Ora bem, este edifício é muitas vezes confundido com o Kremlin, mas isso é uma imprecisão. Eu próprio tinha essa ideia errada.
O que se passa é que a catedral fica mesmo junto aos muros do Kremlin e como é o ícone da cidade, nas imagens que estamos habituados a ver do Kremlin, lá aparecem os rebuçados nas cúpulas. Os leitores da minha geração certamente se recordam das famosas crónicas do enviado especial da RTP em Moscovo, Carlos Fino, nos idos anos 90.
Mas para que fique claro, a Catedral de São Basílio não é o palácio do Kremlin. São edifícios distintos com finalidades também elas distintas. No primeiro é Deus que governa (ou assim o dizem …). Já no último é algum comum mortal que o povo designa para os governar (ou assim o dizem …). Isso não impede que de quando em vez, alguns que passam pelo último se julguem Deuses, mas para isso têm de ir para o edifício do lado (… o tal dos rebuçados).
Ora como a catedral é provavelmente a principal atração da cidade, os Moscovitas não vão de modas e cobram 1000 rublos para entrar! Ao câmbio atual são cerca de 13€, um exagero até para os padrões da Europa central. Não me vejo a pagar tanto dinheiro para visitar uma igreja, ainda para mais quando estamos claramente perante um atentado aos turistas. Ficamo-nos pela visita exterior. Para além disso já visitamos o interior da Catedral do Sangue Derramado em São Petersburgo, que essa sim é bem interessante com os seus painéis de mosaico (ai a entrada foi 300 rublos).
Saímos da confusão da praça vermelha e vamos visitar os jardins de Alexandrovsky. Na entrada encontra-se um memorial ao soldado desconhecido, uma chama permanente guardada por dois militares rigorosamente aperaltados. Tenho pena dos rapazes, pois está um calor tremendo e eles nem pestanear podem. Há um terceiro militar que marcha à volta do recinto e volta e meia vai verificar se os seus camaradas estão em sentido. Ficam cara a cara num momento de tensão e se tudo estiver em ordem, cada um segue com a sua vida (que basicamente não passa disso).
Passeamos um pouco pelo jardim onde também está a bilheteira para o Kremlim com filas enormes. Havemos de voltar ao Kremlin noutro dia.
Voltamos à praça vermelha, desta vez às famosas galerias GUM. Este edifico histórico é composto por vários andares, onde estão algumas das lojas mais chiques da cidade. Dizem que tem mais de 100 marcas mundialmente famosas e a galeria teve início em 1893! Vemos muita gente a comer uns gelados pequenos de cone e reparamos que em várias das entradas da galeria há pequenos quiosques a vender esses gelados. Ao que parece trata-se de um produto tradicional e lá fomos experimentar. É bom, mas come-se rápido, ainda para mais com o calor que está! O gelado acabou por ser a única coisa que compramos na galeria, ainda que houvessem muitas coisas interessantes.
Em frente a uma das entradas da galeria, fica a Catedral de Cazã de Moscovo, uma igreja ortodoxa Russa. O edifício atual é uma reconstrução do original, que foi destruído por indicação do então Secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, Josef Stálin, em 1936. A igreja é pequena mas merece uma visita. As suas cúpulas douradas misturam-se com o rosa o azul celeste das janelas dando um ar da sua graça.
Depois seguimos pela rua Nikilskaya onde paramos para almoçar. Seguimos para a praça da revolução, onde está uma feira de produtos artesanais numa barraquinhas muito engraçadas. Mas parece que o movimento aqui é mais à noite. Também está muito calor para vir à feira. Encontramos um carrossel tradicional que faz as delícias dos mais pequenos.
Um pouco mas abaixo está à fonte de Vitali, que aqui foi construída em 1835. É considerada a fonte mais antiga da cidade e originalmente chamava-se fonte de Petrovskiy. Mas tarde recuperou o nome do seu criador, Ivan Vitali. Na base da fonte está uma escultura com quatro ninfas, que representam a poesia, a tragédia, a comédia e a música. Portanto, tudo o que precisamos para ser felizes.
Quem não sei se está muito feliz com a volta que este país deu é o Sr. Karl Marx, lembrado aqui numa grande estátua no centro da praça da revolução. Para mim ele está com cara de poucos amigos! Pudera, os seus camaradas bolcheviques acabaram por se render ao capitalismo! Depois de tanto trabalho que ele e outros tiveram para revolucionar a Rússia, hoje resta-lhe assistir do seu pedestal inerte aos ventos de mudança que entretanto sopraram para estes lados. Pelo menos deixaram-no ficar aqui! Sei de outros que se livraram de todas as estátuas desse tempo. Aqui talvez ainda haja algum sentido de agradecimento, quem sabe!
Do outro lado da rua fica o famoso teatro Bolshoi, onde apanhamos o metro.
Seguimos para o museu dos cosmonautas. O museu é também a base de um memorial que tem o monumento dos conquistadores do espaço. Trata-se de uma enorme escultura em forma de foguetão que se lança nos céus e que se vê ao longe. A escultura só por si justifica a visita. O museu é uma paragem obrigatória para apreciadores de tecnologia e em particular da industria espacial. A coleção é vasta e marca a história da União Soviética como potencia mundial na exploração do espaço. Tem várias exposições relacionadas com a exploração do espaço, incluindo modelos de satélites, cápsulas, fatos espaciais, foguetões e muita documentação. O Sputnik 1 (primeiro satélite artificial da terra) é uma das atrações mais esperadas. Foi lançado pela União Soviética em 4 de outubro de 1957.
Depois temos também dois cães embalsamados! A União Soviética usou durante os anos 50 e 60 vários cães no seu programa espacial. A Laika foi o mais famoso dos canídeos, pois tratou-se do primeiro ser vivo em órbita a bordo do Sputnik 2 no dia 3 de novembro de 1957. Mas não sei por quê, hoje ela não está cá. Quem está é Belka e Strelka que passaram um dia no espaço a bordo do Sputnik 5 no dia 19 de agosto de 1960 antes de regressarem à terra. Aqui estão eles contentes da vida. A viagem correu bem, presume-se!
Outra parte interessante do museu é uma exposição de fatos espaciais, onde mostra a evolução dos fatos ao longo dos anos até aos dias de hoje e explica como os astronautas vivem no espaço.
Temos também um módulo à escala da antiga estação espacial MIR e alguns veículos de exploração lunar. Como não podia deixar de ser, em destaque está uma escultura e várias fotografias de Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço em 12 de abril de 1961.
No final estão em exposição um conjunto de cartazes de propaganda soviéticos alusivos à conquista do espaço. Aqui o proletariado e as foices e martelo fundem-se com foguetões, estrelas e satélites, acompanhadas por vezes de frases de propaganda política. São autênticas obras de arte do passado soviético! Saímos do museu encantados.
Numa avenida próxima do museu vimos um grande movimento de gente e depois de andarmos um bocado vimos um grande arco que faz lembrar o acro do triunfo em Paris. Achamos curioso e decidimos ir espreitar. Trata-se de uma construção colossal que tem no topo uma estátua de um casal a segurar um feixe de trigo, toda em bronze. Passamos por o arco e do lado de dentro é uma espécie de um parque de exposições com pavilhões enormes todos novos, alguns ainda em fase de construção.
Trata-se do Centro Panrusso de Exposições com vários jardins e fontes irrepreensivelmente cuidados e muita gente por ali a passear. É curioso que todos os grandes edifícios de estilo romano, estão ornamentados com motivos tradicionalmente soviéticos, o que acaba por ser paradoxal!
Então mas esta não é a Rússia que se quer modernizar, um estado capitalista que criou um apetite voraz por dinheiro nos seus cidadãos!? Começo a ficar baralhado! Pensei que esses tempos de regime totalitário e igualitário já tivessem passado. Aliás, tudo o que vi na Rússia até aqui assim se levava a crer. Vê-se muita riqueza nas ruas e até mesmo ostentação. O parque automóvel é disso exemplo. Mas agora aqui parece que voltamos atrás no tempo. Enfim, coisa estranha! Pode ser que ainda venha a entender isto nos dias que vamos passar por aqui.
Continuamos a passear pelo parque, surpreendidos por aquela arquitetura e toda a simbologia soviética. O parque é enorme e depois de passarmos vários quarteirões encontramos numa grande praça vários pavilhões com museus. Um museu de história da Rússia, um museu do espaço (mais um), um pavilhão com um labirinto de espelhos e ainda o centro de comércio e exposições.
Mas o melhor está no centro da praça! Em vez de uma enorme fonte como é costume no centro das praças, aqui está um foguetão verdadeiro numa rampa de lançamento. É o Vostok Rocket. É simplesmente deslumbrante! Podemos passar por baixo do foguetão e apreciar este engenho da mente humana que no transporta para outa dimensão.
Á volta do foguetão estão ainda um avião Su-27, um helicóptero Mi-8T semelhante ao que vimos em São Petersburgo, mas uma versão militar, e ainda um enorme avião Yak-42 que se pode visitar. Tudo isto é orgulhosamente de fabrico Russo, daí estar aqui em exposição. É uma oportunidade única de ver tanta engenharia Russa ao viso no mesmo local. Fantástico, sim senhor.
Saímos do parque ainda surpreendidos com o que acabamos de ver e apanhamos um metro de superfície.
Vamos até à Catedral de Cristo Salvador, a mais alta catedral da cidade. As suas cúpulas douradas veem-se ao longe. Chegamos já ao por do sol, o que faz um efeito ainda mais brilhante nas cúpulas. A igreja é muito bonita, construída em blocos e com várias estátuas a adornar as paredes exteriores. À hora a que chegamos já está fechada, por isso só podemos ver por fora. Nas traseiras da igreja está uma ponte pedonal sobre o rio Moscovo. Da ponte tem-se uma vista memorável da catedral, mas também do palácio do Kremlin que se vê ao longe.
Subimos depois pela avenida Gogolevsky que tem um jardim no centro onde decorre uma espécie de feira medieval. Há barracas para praticar arco e flecha, vendedores de espadas e outros artefactos medievais. No jardim encontramos também uma escultura curiosa, umas cabeças de cavalos de bronze a saírem do chão, como se estivessem a atravessar um rio. São muitos e alguns com um ar aflito!
Chegamos por fim à rua Arbatskaya, uma das ruas mais movimentadas da cidade. Há muita música na rua com vários artistas e também vários caricaturistas, muitos restaurantes e explanadas. Seguimos por ai até à próxima estação de metro.
Depois voltamos ao hotel. Por hoje já chega!