Portugal – Eleições legislativas 2019
O dia 6 de outubro de 2019 ficará para sempre marcado na história da política Portuguesa. Pela primeira vez na nossa democracia, nove forças políticas distintas estarão representadas na assembleia da república.
O ano de 2015 ficaria para sempre registado na história da democracia Portuguesa, após pela primeira vez, um partido que não fora o mais votado pelos eleitores, viria a formar Governo (um facto notável) e a conduzir os destinos do país nos quatro anos que se seguiram. Todos ficaram muito admirados, quer cá dentro, como também lá fora, de tal modo que outros tentaram seguir esse mesmo caminho, mas sem o mesmo sucesso.
Nesse mesmo ano, um recém criado partido dava entrada na assembleia da república. O PAN (Pessoas-Animais-Natureza) elegeu um deputado, mas como a atenção estava virada para a habilidade política que deu origem à chamada Geringonça, ninguém prestou muita atenção a este detalhe. Um voto de protesto, consideraram alguns, ou um incidente democrático que o tempo acabaria por desvanecer, como já aconteceu no passado.
E eis-nos chegados às eleições legislativas de 2019, onde pela primeira vez nas história da nossa democracia teremos 9 forças políticas distintas com representação parlamentar.
É preciso recuarmos até ao conturbado ano de 1975 para encontrarmos um parlamento com representação de 7 forças políticas. Mas ainda assim, dos 250 lugares disponíveis na altura, apenas um ficou reservado para uma associação não partidária (Associação para a Defesa dos Interesses de Macau). Todos os restantes estavam ocupados por deputados de partidos políticos, uns com mais expressão do que outros.
Nunca antes na história da nossa democracia se assistiu a algo assim, se não vejamos os registos históricos.
Na noite eleitoral de 2019, após confirmados os resultados expressos pelos Portugueses nas urnas, os partidos do arco da direita “lambem” as feridas deixadas pela feroz batalha política, enquanto os da esquerda festejam timidamente, já focados em encontrar uma nova solução, à semelhança da Geringonça, para levar o barco a bom porto por mais quatro anos. Há quem já lhe chame a Geringonça 2.0!
Mas o que os nossos politicos teimam em não reconhecer é o desgaste que eles próprios causaram no eleitorado nos últimos anos, levando a que por um lado quase metade dos eleitores (45,5%) nem se dê ao trabalho de ir votar, e por outro a perda generalizada de votos de quase todos os partidos com representação parlamentar nos últimos anos.
Sem querer tirar qualquer mérito ao PS (Partido Socialista) pela sua vitória técnica nestas eleições (foi quem obteve mais votos), não deixa de ser pertinente o facto de que ainda assim, o PS obteve menos votos que o PSD (Partido Social Democrata) nas últimas eleições de 2015 (36,83%). Convém lembrar aqui que na altura o PSD estava coligado com o CDS-Partido Popular. Ainda assim, a vitória do PS em 2019 não deixa de ficar aquém das aspirações políticas do partido.
Se compararmos os resultados de 2019 com os de 2015, constatamos que na sua globalidade, os 5 partidos de tradição parlamentar (PS, PSD, BE, CDU, BE, CDS-PP) perderam quase 5% de votos de 2015 para 2019.
Perante este cenário, é caso para dizer que não há muito motivo para festa e folia, pelo menos para estes. Há sim motivos que sobrem para celebrar o surgimento de novas alternativas políticas, numa altura em que cada vez mais os políticos caem em descrédito perante o eleitorado.
O PAN (Pessoas-Animais-Natureza) há quatro anos fez uma prova de conceito (PoC do inglês Proof of Concept) demonstrando que é possível a um movimento apartidário obter representação parlamentar em Portugal. Num país tão polarizado pela ideologia esquerda VS direita, foi um feito a que muitos não deram a devida importância. Hoje, outros lhes seguem os passos: Chega, Iniciativa Liberal e Livre.
Se em 2015 o PAN podia ser um incidente no panorama democrático Português, hoje é evidente que viramos uma página na democracia em Portugal. Não pretendo com este texto fazer um comentário político, apenas uma análise histórica. Não sei ao certo o que estes novos players irão trazer a jogo, talvez ninguém saiba, nem eles próprios! Mas só o facto de terem conseguido entrar no jogo dos grandes é de salutar e de congratular.
Parabéns ao PAN, ao Chega, à Iniciativa Liberal e ao Livre!!!