Road trip nos Balcãs, dia 1

Dezembro 2019, Janeiro 2020

Introdução

No verão de 2013 viajei pela primeira vez aos Balcãs, onde levei a cabo uma “expedição” de 16 dias, a qual contou com passagens pela Sérvia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Eslovénia. O relato dessa viagem começa aqui. Nessa altura ainda houve tempo para dar um salto à Roménia para visitar um amigo em Timișoara. Voltaria mais tarde à Eslovénia, por diversas vezes, mas em trabalho.

Chegados agora ao final do ano 2019, decidimos vir conhecer o países que nos faltavam dos Balcãs, a saber, a Albânia, Kosovo e Macedónia do Norte. Os dois últimos faziam parte da antiga República Socialista Federativa da Jugoslávia.

Dia 1 – Tirana, Albânia

Chegamos na véspera à noite ao aeroporto internacional Madre Teresa da capital Albanesa. Levantamos o carro no aeroporto e seguimos para o hotel no centro da cidade. A viajem levou cerca de 15 minutos. Não há trânsito a esta hora e a estrada do aeroporto até à cidade é boa. Depois de instalados no hotel vamos tentar encontrar algum sitio para comer, mas à hora tardia (22:00) está quase tudo fechado. Encontramos uma pastelaria/padaria que está aberta 24h e para já é essa que nos vale. Compramos o tradicional Burek (pastel de massa recheada) e uns pães com salsicha e chouriço. Aqui a carne é toda halal  (lícita, autorizada pela religião muçulmana) e não se consome carne de porco. 

No dia seguinte pela manhã tomamos o pequeno almoço no restaurante LE VIN, na rua Frederik Shiroka, que pertence ao dono do hotel. Um espaço muito agradável e bem decorado com comida caseira.

Deixamos o hotel e seguimos para o centro da cidade. Deixamos o carro num parque subterrâneo e voltamos à superfície a pé para conhecermos o centro. Depois de levantarmos dinheiro numa caixa atm no moderno shopping center Toptani, o primeiro sitio que vamos visitar é o Bunk’Art 2 .

A Albânia tem um extraordinário complexo de cerca de 750 000 bunkers espalhados por todo o país. Ao que parece, o líder socialista Enver Hoxha que governou o país durante quarenta décadas, tinha uma paranoia constante de ser atacado.

Bunk’Art 2 é um destes complexos que fica no centro de Tirana. Foi em tempos utilizado pelas forças opressoras do regime, chegando mesmo a ser uma prisão. Á entrada, ainda à superfície, somos recebidos por um conjunto de fotografias de vítimas que aqui pereceram. Hoje é uma exposição que atravessa vários períodos da história da Albânia, desde a independência até à queda do regime comunista, passando pelo período fascista (1913 a 1991).  O complexo é constituído por várias salas obscuras onde podemos ver algumas exposições históricas, assim como algumas instalações artísticas. É portanto um acervo rico da história recente deste conturbado país. 

A seguir passamos pela grande catedral da Igreja Ortodoxa da Albânia, um dos edifícios religiosos mais importantes e imponentes da cidade.

Em frente a este fica a Casa das Folhas (House of Leaves), um museu histórico no edifício outrora ocupado pela Sigurimi, o departamento de segurança do estado durante o regime comunista. Este departamento integrava a segurança, a inteligência e a polícia secreta, numa combinação musculada de opressão política e social do regime. O museu é “dedicado a todos os inocentes que foram espiados, presos, perseguidos, condenados e executados durante o regime”. O edifício de dois andares foi construído em 1931 e alberga o museu desde 2017. Atualmente está fechado para recuperação e por isso só podemos ver a fachada exterior que contem vários desenhos ilustrativos.

Seguimos na senda do antigo regime até ao Checkpoint Postblock, um outro bunker do outro lado do rio Lana. Este bunker está estrategicamente localizado para guardar a entrada no bairro Blloku, onde residia a elite social do regime, entre os quais o próprio Enver Hoxha que aqui fixou a sua residência oficial. Junto ao bunker está instalado um pedaço do muro de Berlim, como que a celebrar a queda do regime.

A seguir passamos pela Pirâmide de Tirana, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade que viria a cair em desgraça. Foi construído em 1988, ainda no tempo da ditadura comunista, como um museu dedicado à memória de Enver Hoxha (falecido em 1985). Diz-se que foi desenhado em coautoria com a sua filha e que terá sido o edifício mais caro alguma vez construído no país. Depois da queda do comunismo, em 1991 passou a ser utilizado como centro de conferencias. Durante a guerra do Kosovo em 1999 foi utilizado como quartel general da NATO e outras organizações humanitárias. Desde 2001 que parte da pirâmide foi utilizada por estações de TV e rádio, mas hoje está praticamente ao abandono. Nem sequer pode ser visitado, pois está fechado com grades a toda a sua volta. Também é por vezes conhecido como o mausoléu de Enver Hoxha. Apesar de nunca ter tido essa função oficial, não deixa de estar associado ao ditador e talvez por isso esteja neste estado de depreciação.

Voltamos a passar o rio Lana para visitar a Galeria de Arte Nacional. No jardim circundante passamos pela instalação “A Nuvém” (REJA – The Cloud) do arquiteto Japonês Sou Fujimoto. Trata-se de uma estrutura feita de metal e plástico que foi constuída para as Serpentine Galleries em Kensington Gardens e Hyde Park em Londres, e mais tarde colocada em Tirana. Podemos subir até ao topo das estrutura ou sentar no interior. É um vislumbre de arquitetura moderna que se enquadra na tendência da cidade.

Já a Galeria de Arte Nacional está toda coberta com sacas de serapilheira gigantes. Entramos para visitar uma exposição de telas escondidas! É uma exposição temporária que cobre os quadros com uma tela branca que vai alternando ao longo dos dias. Assim, só conseguimos ver alguns dos quadros disponíveis no dia de hoje, já que a maioria das obras estão cobertas, tal como o edifício. É uma exposição curiosa, mas que não deixa de ser interessante!

Depois  passamos pela Fortaleza Justiniana de Tirana, onde também ficava o Castelo, que foi transformada num moderno centro de restauração e convívio, com muitas esplanadas e lojas de artesanato. Do castelo já pouco se vê e os visitantes estão mais interessados em provar um bom vinho do que apreciar a história.

Descemos até à Praça de Skanderbeg onde está uma enorme feira de natal com varias barraquinhas de comes e bebes e algumas diversões para os mais pequenos. Por momentos somos teletransportados até a Alemanha, onde certamente se inspiraram para montar esta feira. Aqui a principal atração são os petiscos e até há vinho quente!

O edifício do Palácio da Cultura quase que passa despercebido aos transeuntes. Talvez por já estarem habituados a este, já que a feira é que é novidade! Do lado oposto o grande mosaico que ornamenta o Museu de História Natural continua a chamar atenção dos visitantes. É um dos ícones da cidade, presente em todos os postais de Tirana.

Deixamos da Praça de Skanderbeg pelo lado da Torre do Relógio de Tirana e a Mesquita Et’hem Bej que está em obras, rumo ao parque de estacionamento. Saímos do centro e o já há muito trânsito para sair da cidade. As rotundas são caóticas e formam filas enormes. 

O nosso próximo destino é a cidade de Shkoder no norte da Albânia. A viagem dura cerca de três horas. Primeiro em autoestrada, à saída da capital, passando depois para estrada nacional com apenas uma faixa de rodagem para cada sentido. Chegamos a Shkoder já à noite e desta vez ficamos num hotel num parque de campismo. Depois de instalados vamos até ao centro da cidade passear.

As ruas no bairro Gjuhadol estão bem animadas com lojas e restaurantes. Ainda conseguimos fazer algumas compras e vamos jantar ao restaurante PURI, comida local para os locais. Somos os únicos estrangeiros. A comida caseira está deliciosa! No final do jantar passamos pela escultura da Madre Teresa e regressamos ao hotel para descansar.

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