Fevereiro, Março 2022
Kilimajuu, Matemwe, Kiwengwa
No caminho de Nungwi para sul, vimos uma placa a anunciar umas ruínas portuguesas. Damos a volta no carro e entramos pela selva de bananeiras num caminho de terra. Chegamos a umas ruínas e claro que somos logo recebidos por um grupo de locais de forma entusiasta. Informam-nos que podemos visitar as ruínas e mais uma caverna submersa onde podemos nadar que fica ali perto. Nós explicamos que apenas queremos visitar o antigo forte português de Fukuchani. Lá regateamos o preço e na verdade nem sabemos se são oficiais do estado ou se apenas porteiros de circunstância. Vá lá saber-se…
Acabam por nos deixar fazer a visita por 1/5 do valor inicial que nos pediram e até temos direito a um guia. É um jovem estudante de turismo na universidade em Stone Town, que nos faz a contextualização histórica do forte. Ao que parece o irmão, o que nos cobrou o bilhete, é professor numa escola aqui em Fukuchani, por isso o rapaz está bem informado. Para alem da breve história dos portugueses relacionada com a construção deste forte, a única coisa que conhece da nossa história é o Cristiano Ronaldo. Talvez seja por isso que dizem que vai ficar para a história!
O forte em ruínas está protegido por uma estrutura em ferro e coberto com um telhado de zinco. O rapaz conta-nos que recentemente o governo fez uma intervenção no forte. Cimentou o chão que ainda estava em terra e reforçou algumas paredes. As paredes originais foram construídas com conchas e até pedaços de coral que ainda são visíveis nas paredes, numa mistura de argamassa que perdura até hoje. Foi muito engraçado encontrar mais um pouco da nossa história neste pedaço de terra tão distante.
Seguimos viagem para a costa este até Kilimajuu, onde fica o nosso hotel para as próximas duas noites. A costa este da ilha é mais tranquila em termos de movimento turístico. As praias são mais extensas, mas também são mais ventosas.
O hotel fica na linha da praia, junto à pequena aldeia de Kilimajuu. Somos recebidos pela proprietária, uma italiana com origens em Roma, que vive em Zanzibar há 10 anos. Depois do check-in vamos à praia do outro lado da rua. Para tomar banho nestas praias é preciso estar atentos às horas da maré, porque quando a maré está baixa é preciso andar uma longa distância até encontrar um sítio para nos molharmos em condições. Por sorte esta tarde a maré está alta e por isso é tudo muito mais fácil. Como já referi, esta zona da ilha é quase sempre ventosa, dai ser o “spot” preferido dos praticantes de Kit surf. Apesar do vento, a água parece-me um pouco mais quente que no Norte. Mas na realidade não faz grande diferença.
Depois do banho da praxe, caminhamos um pouco pela praia. Aqui não há barraquinhas a vender bugigangas para turistas, para desilusão da Marisa. Há é muitas estruturas de madeira com algas penduradas, como que a secar, espalhadas ao longo da praia. Ao que parece é algo que cultivam aqui dentro do mar e depois trazem para a praia para secar.
Regressamos ao hotel. Vamos um pouco para a piscina e para o relax. O ambiente do hotel é bastante convidativo. Conhecemos um casal de alemães reformados que vêm aqui passar 90 dias, pois é o limite que o visto de turista permite. Passam o dia no hotel, ora na piscina, ora no quarto. Não gostam muito da praia porque a areia é um pouco picosa devido à quantidade de conchas e corais, e a do hotel é mais lisinha.
Depois de uns dedos de conversa, saímos para jantar. O restaurante que escolhemos é o que tem melhor classificação no Tripadvisor aqui na zona, o Bin Jabir. Todos os restaurantes aqui estão na linha de praia e normalmente o acesso faz-se pelo areal. Mas isso só se aplica para quem está alojado perto desses restaurantes. Perto do nosso hotel também há alguns restaurantes, todos pertencentes aos hotéis. Mas nós optamos por ir conhecer este que fica mais longe e por isso temos de ir de carro, o que acabou por se tornar numa aventura. Os caminhos nesta zona são todos de terra batida ou areia de praia e cheios de buracos. O que nos vale é que o RAV4 está habituado a estas andanças.
Para além disso há outra dificuldade que é encontrarmos o carreiro certo para chegar ao destino. Nem o GPS se orienta nesta confusão de carreiros e caminhos empoeirados. Depois de alguma insistência lá conseguimos chegar ao final de um caminho, onde encontramos uma placa com a indicação do nome do restaurante. O prolema é que na escuridão da noite (aqui não há iluminação urbana) não fazemos ideia por onde nos estamos a meter. Entramos num corredor entre muros de cimento iluminados apenas pela luz do telemóvel. A única coisa que sabemos é que estamos a caminhar em direção ao mar. Quando chegamos à areia da praia, lá está o Bin Jabir. Uma estrutura coberta com folha de palma com meia dúzia de mesas no interior que ficam mesmo na areia da praia. Ainda tem algumas mesas no exterior, para quem queira estar ainda mais perto do mar. Já estão vários clientes, todos estrangeiros. Pedimos peixe do dia grelhado. Antes de nos servirem os pratos, trazem uma tigela grande em loiça e um bule com agua quente para lavarmos as mãos antes de comer. É cultural dizem eles. O peixe levou algum tempo a preparar, mas estava delicioso e vinha todo limpinho por dentro sem tripas e a pele toda raspada sem escamas. Sem dúvida o melhor que já comemos aqui em Zanzibar. Um serviço simples, autêntico e comida deliciosa.
No final do jantar, ainda temos de voltar pelo corredor assustador até chegarmos ao carro. Depois regressamos ao hotel por entre os solavancos do caminho, que já se tornam habituais.
Ficamos duas noites em Kilimajuu, pois seria uma pena passar apenas uma noite num hotel como este. Após o pequeno-almoço converso mais um pouco com a proprietária Georgia, que me dá umas dicas de alguns locais que podemos visitar aqui pela zona.
Hoje a maré está baixa da parte da manhã e aproveitamos para ir até à praia ver este fenómeno. Na realidade já conseguimos ver da varanda do quarto, que o mar está bem recuado. Na maré baixa, o mar recua centenas de metros até um recife que faz de barreira natural. Não dá para tomar banho, a não ser que nos façamos ao caminho até bem ao fundo. O problema é que pelo caminho tem muitas algas e plantações. As senhoras espalham-se pelas inúmeras plantações de algas, atando-as em fila, como se estivessem a amanhar um canteiro numa horta. Só que aqui estão dentro de água. É curioso que só se vê senhoras de volta das algas. Depois mais ao fundo vemos muitos homens com água pelo joelho a caminhar devagar, como se estivessem a procurar alguma coisa. Certamente andam a ver se apanham peixe ou chocos, que é muito comum por aqui.
O trabalho está muito bem distribuído. As senhoras mais junto ao areal a tratar das “hortas” de algas. Os senhores mais ao fundo de volta do peixe. Elas, volta e meia vêm até à areia com os molhos de algas para secar. No fundo o mar é o principal meio de subsistência destas aldeias.
Seguimos pela praia numa caminhada de cerca de 4 quilómetros para sul. Com a maré baixa é muito fácil caminhar e é uma das atividades mais comuns por aqui. Vamos passando pelos vários hotéis/restaurantes na praia e cruzando-nos com os “fake” massai que estão sempre a tentar meter conversa. No fim do passeio, regressamos ao hotel para descansar um pouco e para mais uma “temporada” de piscina.
Durante a tarde pegamos no carro e fomos até Kiwengwa, uma aldeia mais a sul que é mais turística. A viagem faz-se em 15 minutos porque é quase tudo por estrada de alcatrão. Deixamos o carro junto à praia, de acordo com o GPS, e procuramos um acesso ao areal. A maré agora já está a subir, o que quer dizer que já se pode tomar banho novamente. Kiwengwa é uma zona de muitos hotéis e resorts, por isso a praia tem mais movimento. Como é uma zona de maior fluxo de turismo, para além dos hotéis e esplanadas, está cheia de barraquinhas a vender “tralhas”. Mas não se trata de barracas quaisquer, aqui é tudo alta-costura e outras marcas bem conhecidas. É a Gucci de Zanzibar, a Channel, mas também a Zara, e até há o IKEA. Vale tudo para atrair a atenção dos turistas. Aqui optaram por colocar umas placas com nomes de marcas conhecidas nos telhados das barraquinhas e nem se importam de repetir os nomes, por isso se não entrarmos na primeira Gucci (pode sempre haver fila), podemos sempre encontrar outra mais à frente. Uma delas chama-se LIDL de Zanzibar, vejam bem ao que isto pode chegar!
À medida que vamos passando nos “campos elísios” de Zanzibar, todos nos convidam para entrar. É uma afluência de simpatia que até aborrece. Lá vamos espreitando aqui e ali, mas se fossemos a ver todas ainda lá estávamos a esta hora. Claro que em alguma havemos de comprar.
Fazemos mais uma caminhada pela praia até ao Melia de Zanzibar, aquele que é provavelmente o maior resort de toda a ilha. Já tínhamos passado pela estrada por várias das suas entradas que se estendiam por alguns quilómetros.
Ao final da tarde decidimos embarcar em nova aventura para ir jantar. Hoje saímos um pouco mais cedo para chegarmos ainda de dia ao restaurante e porque segundo li é um local fantástico para ver o por do sol. Este chama-se Matemwe Rock Restaurant, e como se depreende do nome, fica em cima duma rocha na praia. O caminho para este restaurante ainda é pior do que o anterior. A dada altura temos de abandonar o roteiro sugerido pelo GPS porque já estamos a conduzir sobre pedregulhos. É que aqui no GPS estes caminhos (neste caso diria mesmo trilhos) aparecem marcados como estradas. Assim que conseguimos fazemos uma cortada para a estrada principal. Andamos um pouco para a frente e depois voltamos atrás por outro caminho menos acidentado. Depois de alguma navegação à vista, lá encontramos o resort onde também fica o restaurante. O resort tem um grande portão e assim que começamos a olhar para ver se era mesmo ali, o porteiro abre o portão e convida-nos a entrar.
Descemos um caminho até ao resort onde estacionamos o carro. O restaurante fica mesmo em cima de uma das poucas rochas que se veem nesta costa. A vista é realmente fantástica e temos o restaurante praticamente só para nós. Um ambiente completamente diferente da noite anterior. Em baixo na praia joga-se à bola agora pela fresca. Comemos uma salada de atum fresco com sésamo, acompanhados de sumos de fruta. Serviço de qualidade e comida bem confecionada, para fechar a nossa passagem pelo Nordeste de Zanzibar.