Iceland Road Trip – Golden Circle

Agosto 2022

Dia 2

No dia seguinte, de manhã regressamos ao aeroporto para ir levantar as duas caravanas. Desta vez decidimos ir de transportes públicos, pois vamos só dois condutores. O resto do grupo fica em Reiquejavique para aproveitar a manhã. Há sempre mais uma loja aqui e ali para ver e rever.

A empresa de aluguer de caravanas fica perto do aeroporto e só tem serviço de transfer a partir daí para os seus escritórios, por isso marcamos encontro no terminal das chegadas. A viagem de autocarro é demorada e temos de trocar de autocarro pelo caminho. Mas aproveitamos para conhecer os subúrbios da capital pelo caminho, apesar do mau tempo e da chuva.

Chegados à Kukucampers em Keflavík, tratamos dos procedimentos do aluguer e fazemos uma revisão cuidada às carrinhas para identificar todos os danos já presentes. Dizem-nos que a verificação é da nossa responsabilidade! Alugamos duas caravanas de dimensões/categorias diferentes: A Campervan – Dacia Dokker (2 pessoas); C Campervan – Renault Master high roof c/ aquecimento (4 pessoas). A Dacia é uma adaptação muito simples de um pequeno carro comercial com uma cama na parte de trás e um armário para utensílios de cozinha e arrumação.

A Renault Master tem uma cama grande tipo beliche e na parte de baixo uma sala com mesa que se transforma numa grande cama. Para além disso tem frigorífico e lava-loiça, para além de aquecimento. O staff da Kukucampers explica-nos todos os detalhes de cada uma das caravanas e como devemos acondicionar as coisas durante as viagens. Terminados todos os procedimentos deixamos Keflavík agora com as duas caravanas. Seguimos pela via rápida até à capital e marcamos encontro junto ao hotel para carregar as malas.

Agora já com o grupo todo junto e as “novas casas” arrumadas dentro do possível, começamos a viagem. A primeira paragem é no supermercado para atestarmos os mantimentos para os próximos dias. Como vamos deixar a zona da capital é melhor prevenirmos já com mantimentos para vários dias, pois não sabemos se pelo caminho vai haver muitos supermercados. Existe muita variedade de produtos, por isso não temos grande problema com a alimentação. O único problema são os preços que já percebemos não são nada simpáticos. Só a título de exemplo, meia dúzia de ovos custam cerca de 7€. É assim a vida na terra do gelo!

Como o tempo continua mau, com céu nublado e chuva, não podemos visitar o vulcão Fagradalsfjall como inicialmente tínhamos previsto. Aliás quando nos aproximamos do aeroporto para ir levantar as caravanas, recebemos logo um SMS das autoridades locais a informar que o local da erupção se encontrava encerrado hoje. Por isso seguimos para o Círculo Dourado (Golden Circle).

O Círculo Dourado é um dos percursos mais visitados na Islândia por duas razões: i) fica muito próximo de Reiquejavique; ii) concentra várias atrações turísticas de interesse. A nossa primeira paragem é no Parque Nacional Thingvellir. O tempo não dá tréguas, mas se vamos querer visitar este país, temos de nos acostumar à chuva e ao frio. Protegemo-nos da melhor maneira possível com casacos impermeáveis e/ou ponchos para a chuva. Nem sequer vale a pena usarmos chapéu de chuva. É coisa que aqui não dura muito por causa do vento forte.

O Parque Nacional Thingvellir é um dos lugares mais emblemáticos da história da Islândia e com razões que sobram: i) foi onde, por volta de 930 d.C., foi fundado o Alþingi, o primeiro parlamento do mundo que funcionou até 1798; ii) foi onde a Islândia adotou o cristianismo no ano 1000; iii) foi também onde nasceu a República da Islândia, no dia 17 de junho de 1944. O sítio é classificado como património UNESCO e para além da importância histórica, tem um interesse geológico particular. É um dos raros lugares do planeta onde se pode caminhar entre os continentes americano e europeu, porque o parque está localizado entre as placas tectónicas da América do Norte e da Eurásia, num vale cercado por montanhas e cordilheiras vulcânicas.

Do parque de estacionamento descemos por entre as cordilheiras até próximo do lago Þingvallavatn. Passamos pela igreja Þingvallakirkja e depois pelos passadiços que nos levam até à cascata Öxarárfoss. Esta é a primeira cascata que visitamos na Islândia e temos muitas mais no nosso roteiro. A vantagem de vir aqui num dia de chuva é que nem notamos a diferença ao passar junto à cascata. Já estávamos molhados e continuamos molhados. É um estado natural que vamos ter de aceitar durante esta viagem. Mas nem a chuva nos pode impedir de apreciar esta obra magnifica da natureza!

Continuamos a viagem pelo círculo até outra das paragens obrigatórias, o parque geotermal do Geiser. O cheiro intenso a enxofre característico não engana. No parque existem vários geiseres ativos com erupções termais regulares. O Litli-Geysir logo à entrada dá-nos as boas-vindas, mas a atração principal é o Strokkur, ou grande Geiser. Este tem erupções a cada 6-10 minutos (aproximadamente) e lança água a uma altura de 15 a 20 metros. A temperatura da água ronda os 80-100 gaus Celcius, mas no interior do solo pode atingir os 240 graus. É um fenómeno raro da natureza que aqui surge com alguma frequência.

O tempo continua de chuva e frio e como já estamos cansados de tanta adversidade climatérica decidimos parar por hoje para recarregar baterias e na esperança de um dia melhor. Junto ao parque do Geiser há um parque de campismo, mas não nos agrada muito, por isso seguimos um pouco mais para a frente e pernoitamos no Skjól Camping. Apesar de estarmos de autocaravana, na Islândia não é permitido pernoitar em qualquer local. Temos sempre de ficar num parque de campismo. O conceito destes parques é diferente do que estamos habituados num parque de campismo. Aqui é apenas um local para estacionar as autocaravanas e um apoio de casa de banho e lava-loiça, como possibilidade de abastecimento de água na caravana. Para descansar é o que chega. O que mais precisamos agora é de um bom banho de água quente, pois o nosso dia foi um “banho” constante de água fria. Depois dos banhos tomamos a nossa primeira refeição em família na caravana grande e fazemos um balanço do primeiro dia na estrada. Escusado será dizer que a moral está um pouco em baixo por causa do tempo, mas vamos ter de ser resilientes, para não deixar que a Islândia leve a melhor de nós.

Dia 3

No verão, os dias na Islândia são muito grandes. O nascer do sol é por volta das 04:00 e o pôr do sol por volta das 22:30. A claridade entra pela caravana logo cedo pela manhã. Acordamos com a esperança de um dia melhor, mas continua a chover. Tomamos o pequeno-almoço e seguimos viagem.

A próxima paragem, ainda no Círculo Dourado, é a Gullfoss, uma das cascatas mais imponentes da Islândia. Uma das suas particularidades deve-se ao facto de a mesma ficar precisamente entre as placas tectónicas da América do Norte e da Eurásia. Tem uma altura de 32 m e uma largura de 70 m num desfiladeiro do Rio Hvítá. Ver esta massa de água tremenda tão próxima mete muito respeito e é um espetáculo único da natureza. Podemos ver duas perspetivas diferentes, já que existem um percurso por baixo junto ao caudal do rio e outro por cima com vistas mais amplas ao longo do rio.

Descemos agora do Círculo Dourado para junto à costa Sul da ilha para seguirmos o nosso roteiro. Hoje ainda vamos visitar mais duas cascatas. A próxima é a Seljalandsfoss, uma cascata com uma altura de 60 metros que tem a particularidade de podermos andar por trás da mesma. Abrigados pelo enorme penhasco, passamos por trás num trilho movimentado. Afinal toda a gente quer ter esta experiência. O percurso é húmido e escorregadio, como seria de esperar, mas permite-nos ter uma visão completamente diferente da cascata.

Ali perto fica a Gljufrabui, uma outra cascata que fica dentro de um desfiladeiro. Chegamos à entrada do desfiladeiro, mas como o caminho estava todo submerso, não nos apeteceu entrar para ver mais esta.

A cascata seguinte fica um pouco mais para este, em Skogar. A Skógafoss tem uma altura de 60 m e uma largura de 25 m, e transporta a água do rio Skógaá proveniente dos glaciares Eyjafjallajökull e Mýrdalsjökull. É possível visitar a parte de baixo, onde apanhamos uma grande molha, mas também o topo da escarpa, acessível através de uma enorme escadaria. Optamos por subir primeiro e deixar a molha para o fim. Lá em cima as vistas são fantásticas a partir de um miradouro criado para o efeito. Mas para alem das vistas é possível também percorrer um trilho que acompanha o curso de rio e nos leva por várias outras cascatas. Passamos algum tempo ali no topo da montanha a desfrutar da bela paisagem e à medida que continuamos há sempre mais uma cascata para ver. Parece que não tem fim.

Na verdade este percurso faz parte de um percurso maior de cerca de 20 Km que liga Skógafoss a Thorsmork  (Þórsmerkurvegur). Claro que não fizemos o percurso completo, mas vontade não faltou. Depois de quatro cascatas no percurso, voltamos para trás. Já cá em baixo, só eu e a Marisa é que tivemos a ousadia de ir mesmo até junto à cascata. Os restantes ficaram a ver de longe, pois já não estavam com disposição para mais um banho. Nós já estamos por tudo…

Seguimos pela N1, a principal estada da Islândia, também conhecida como “Ring Road” até Vik. Antes de chegarmos a Vik, porém, vamos visitar o farol de Dyrhólaey. Fica no topo de uma escarpa acessível de carro por uma estrada de alcatrão e tem umas vistas fenomenais para as praias de Dyrhólaey e Kirkjufjara. Quando chegamos ao topo, no parque de estacionamento, o vento intenso abana a carrinha com uma violência tremenda. Saio da caravana com a Nikky para irmos até ao farol, mas o vento dificulta-nos a progressão de tal forma que quase não conseguimos andar. Para a Nikky é uma brincadeira, mas eu começo a ficar assustado com tamanha violência e antes que as coisas piorem, decido voltar ao carro e sair dali rapidamente. Li sobre outros viajantes que tiveram acidentes provocados pelos fortes ventos, e nesse momento lembrei-me desses relatos.

Descemos então para a cidade de Vik. O parque de campismo fica bem no centro junto ao mar. O vento continua forte e por isso estacionamos entre outras caravanas, pois sempre ficamos um pouco mais protegidos. O parque está muito movimentado e na receção um jovem espanhol vai fazendo o check-in dos campistas, tanto em castelhano como em inglês. Há por aqui muitos espanhóis também. O parque de campismo de Vik tem uma zona comum de cozinha interior com fogões, lava-loiças e mesas, onde podemos preparar a refeição e comer mais abrigados e mais à larga do que na autocaravana. O local ideal para prepararmos o nosso banquete do final do dia. Lá fora continua a chuva e o vento forte, assim como a esperança de um dia melhor.

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  1. Pingback: Iceland Road Trip – Hugo Martires' Scriptorium

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