O cais de desembarque em Koh Toch Beach é de madeira com umas tábuas mal amanhadas e nem sequer tem umas escadas decentes para sairmos do barco. É preciso alguma ginástica! Logo a entrada da ilha, ainda no cais, está o Dive Center, uma das principais atividades nas várias ilhas.
A beleza da ilha não se esgota nas praias, mas em todo o envolvente natural com a selva a querer precipitar-se no mar. São várias as praias espalhadas pela ilha, algumas de difícil acesso por terra. De facto a exploração descuidada da ilha tira-lhe grande parte da beleza e principalmente o imenso lixo que parece não incomodar ninguém por aqui. Mas ainda assim, quando nos afastamos do centro o ambiente melhora um pouco. Decidimos explorar outras partes mais remotas da praia. Passamos por uma zona de pedras, seguidas de um trilho pela floresta até encontrarmos uma outra praia quase deserta onde a areia é mais branca e as águas mais transparentes. Passamos por um grupo de três jovens, também estrangeiras, que se apoderaram de um velho barco, encalhado entre a praia e a floresta, e ali fizeram o seu poiso. Afastamo-nos um pouco mais e ficamos com a praia só para nós. Ás águas transparentes são irresistíveis e a vista para uma pequena ilha ao fundo completa o cenário. Sem esquecer que a temperatura da água está sempre à temperatura do ar. Atrás de nós a floresta e um pequeno lago com manguezais. Por ali ficamos a gozar o nosso pedaço de praia até nos fartarmos.
Voltamos à zona do nosso bangalô e ainda demos uns mergulhos por ali até ao por do sol.
A ilha começa a ter mais movimento e outro tipo de animação à noite. Os restaurantes preparam as mesas para o jantar na areia e os seus barbecue típicos na ilha e começam a ouvir-se vários tipos de musica por todo o lado. Decidimos ir provar o barbeque do Island Boys, um dos mais concorridos da noite. Hoje é dia de música dos anos 90 e o barbeque tem um aspeto fabuloso. Os preços variam pouco, apesar da concorrência. Pagamos 5$ por um prato completo, incluíndo pão de alho, salada e bebida. Jantamos à beira mar, quase dentro de água enquanto ouvimos Roxette e outras pérolas dos anos 90. E desta forma nostálgica terminamos a noite na ilha.
No dia seguinte acordamos cedo para nos encontrarmos às 7:00 para o pequeno almoço. Bebemos um batido de fruta que custa apenas 1$ independentemente das frutas que quisermos e uma baguete. Por volta das 8:00 partimos para uma caminhada pela selva para atravessarmos a ilha até chegarmos a Long Beach, na extremidade oposta. O trilho é bastante acessível e agradável. Caminhamos durante uma hora por entre cajueiros e outras árvores tropicais. Pelo caminho só nos cruzamos com umas formigas gigantes que se atravessam à nossa frente. Metem respeito e por isso temos muita cautela para não as incomodar à nossa passagem.
A parte final do trilho é a mais interessante, uma vez que temos de descer por umas pedras com o auxilio de umas cordas mal amanhadas. Do topo começamos a avistar as águas turquesa de Long Beach mas ainda temos alguma descida pela frente. Quando finalmente chegamos cá abaixo deparamo-nos logo com uma grande construção. Estão a construir um cais, uma estrada e estruturas de apoio. Não admira que muita gente recomende visitar a ilha rapidamente antes que esta fique “desfigurada”. Afastamo-nos rapidamente da confusão e seguimos para a praia.Assim que tocamos a areia ficamos sem palavras. Estamos perante um paraíso até à pouco tempo desconhecido. As águas são incrivelmente claras e estendem-se no horizonte num degradê de turquesas e azuis. A areia é a mais branca que vimos até então e estende-se por 7 quilómetros. Parece açúcar ou leite em pó e dá vontade de provarmos. O mar, agora virado para o golfo da Tailândia, tem umas minúsculas ondas que parecem nos querer embalar mas sem força suficiente.
É de facto um paraíso perdido, manchado no entanto pelo lixo no areal. Algum trazido pelas correntes mas outro lixo é deixado pelos locais que aqui vem trabalhar na construção. Esta gente não sabe a preciosidade que aqui tem e deixam lixo à deriva como se estivessem no meio urbano. Foi assim que foram habituados e vai ser difícil mudarem. Mas votamos o olhar ao mar e à beleza natural. O sol queima e mesmo à sombra o calor é insuportável, por isso o melhor é estarmos dentro de água. Passamos assim a maior parte da manhã dentro de água. Fazemos uma caminhada à beira mar em direção aos resorts de luxo perto da vila Sokian, na outra extremidade da praia. Não chegamos a percorrer toda a extensão do areal, mas no pequeno percurso que fizemos vimos mais algumas construções a surgirem mesmo em cima da praia. Não tardará muito para transformar este paraíso na Koh Samui do Camboja. A informação que corre é que a ilha já foi entregue a um grupo privado para exploração e que existem já planos para fazer estradas e até um aeroporto. Sinto que estou num ambiente que se irá perder num futuro muito próximo e por isso também o local ser tão especial.
Depois de passarmos a manhã literalmente dentro de água decidimos voltar a Koh Toch. É claro que agora ninguém tem vontade de fazer mais uma hora de trecking pela selva por isso tentamos fazer a viagem de regresso num dos barcos que estão ancorados na praia. O barco chegou de manhã com turistas, quase todos Khmers, e regressa ao fim da manhã. Pedem-nos 2$ por pessoa mas nós tentamos negociar para 1,25$ (em moeda local são 3000 riels de diferença). Afinal o barco já cá está deste lado e sempre consegue fazer um dinheiro extra. Insistem nos 2$ mas quando começam a embarcar o pessoal vêm-nos chamar e levam-nos pelo valor que oferecemos. Levam-nos a nós e a quem mais estiver na praia e queira uma boleia para Koh Toch. O serviço é de 5 estrelas. Mochilas e malas à cabeça lá vamos nós mar adentro para apanharmos o barco. Depois de todos instalados levantamos ferro e seguimos viagem. Eu vou sentado à proa, qual Tom Sawyer a cruzar o Mississipi. O barco de madeira tem duas hélices que mais parecem varinhas mágicas. Uma de cada bordo, são propulsionadas por motores convencionais de automóvel amanhados numas tábuas no convés. O nosso capitão desce as varinhas mágicas com mestria para a água e agarra-se ao leme e lá vamos nós. A viagem dura cerca de 30 minutos até Koh Toch.
No último dia na ilha aproveitamos a manhã para relaxar na praia. Antes porém vamos beber um batido de frutas para o pequeno almoço. A Rithya entretanto já está à conversa com o pessoal local. Ela tem uma facilidade tremenda em conhecer gente e fala com as pessoas como se fossem velhos amigos. É um dom extraordinário! Graças às rápidas amizades dela ficamos a sempre a saber algumas coisas interessantes. Hoje, por exemplo, soubemos que a empresa que gere os barcos rápidos e o centro de mergulho, tem também um restaurante no cais e patrocina os estudos das crianças da vila. Algum do staff internacional vai também dar aulas de inglês na escola.


