Uma viagem tranquila apesar de pouco ergonómica e 12 horas depois chegamos à estação sul de Luang Prabang ás 7:00 am. Juntamo-nos a um grupo de estrangeiros num Tuk Tuk para o centro da cidade. Antes, claro, tivemos de negociar o preço em grupo. Pelo caminho descobrimos que são polacos e que estamos na mesma guesthouse. A nossa nova amiga Brasileira, a Susanne, está numa outra guesthouse numa rua paralela à nossa. Conseguimos fazer o check-in logo à hora que chegamos o que é muito simpático da parte da guesthouse. Assim tomamos um banho para refrescar da viagem e partimos à descoberta.
Os templos
Luang Prabang está classificada como patrimônio mundial desde 1995 e não precisamos de muito tempo na cidade para perceber porquê. Os templos espalham-se pela cidade em cada quarteirão. São mais de 40 templos, uns mais pequenos outros maiores, nesta pequena cidade. Foi a cidade que já vimos em todo sudeste asiático com mais templos. Se notarmos que os templos estão sempre inseridos em comunidades com várias estruturas de apoio entre casas de habitação e escolas estamos então perante uma cidade com uma forte presença budista. Luang Prabang perseverou também a influência colonial durante o domínio francês e em vez das magoas desses tempos, ficaram as fantásticas casas hoje convertidas em “boutique hotels”, as padarias e os nomes das ruas todos com a tradução em francês. Tudo isto em completa harmonia com a natureza do meio envolvente deram à cidade o tão prestigiado galardão da UNESCO.
Um dos principais templos da cidade é a Vat Xiengthong que fica na ponta da península, onde o rio Nam Khan se encontra com o Mekong. Este é um dos complexos mais bonitos não só pelo interior dos templos mas principalmente pelo exterior de templo principal no qual se encontra um mosaico de vidro com a árvore da vida na parte traseira. Enquanto visitamos a Vat um carpinteiro está a fazer reparações num dos barcos compridos que todas as Vat’s têm. Talvez a preparar a embarcação para a próxima celebração no Mekong.
Kuang Si
A beleza não se esgota na cidade mas estende-se por toda a província. Uma das principais atrações da região são as quedas de água Kuang Si a uma hora de viagem de Luang Prabang. Depois de vários convites dos condutores de Jumbo por toda a cidade, lá negociamos um bom preço e combinamos apanhar-nos no hotel ao meio dia. Um Jumbo é uma pequena carrinha de caixa aberta como que um upgrade de um Tuk Tuk. É um meio de transporte bastante comum na cidade. Á hora combinada lá apareceu o Jumbo com mais um casal de italianos e lá seguimos viagem. Pelo caminho paramos para comprar um saco de sumo de cana do açúcar, ou como se diz no Brasil, “caudo de cana”. As quedas de água ficam na povoação de Ban Thapene. Á entrada fica o centro de conservação de ursos que são uma espécie ameaçada no Laos. O centro é um agradável ponto de contacto com os ursos e com os problemas que a espécie enfrenta. No entanto esta não é a principal atração do local e a maior parte dos turistas faz uma passagem muito breve pelo centro apressando-se para as várias lagoas. A grande queda de água e o desnível do local criaram várias áreas com lagoas onde turistas e locais se deliciam na água fresca, coisa rara nesta região. As águas azul turquesa são particularmente convidativas, especialmente quando a humidade do ar está acima de 80% e a temperatura acima dos 30 graus. Junto às lagoas existem mesas de piquenique onde os visitantes descansam dos banhos e se refrescam com cerveja.
Continuamos a subir de lagoa em lagoa até chegarmos à grande queda de água, uma parede de 60 m de onde a água se precipita numa enorme lagoa. Por cima da lagoa há uma ponte de madeira de onde podemos assistir a todo o espetáculo “in loco”. Do outro lado da ponte há um trilho que vai até ao topo da queda de água. O trilho é íngreme e escorregadio depois de ter chovido na manhã e já estamos apertados de tempo, mas mesmo assim decidimos subir. Cerca de 20 – 30 minutos depois chegamos ao topo onde podemos andar no topo em cima de bambus mal amanhados e rochas escorregadias. A vista não é particularmente interessante porque é floresta é densa e a beira do precipício está vedada … com umas canas de bambu. Os visitantes são aconselhados a manterem-se afastados não vá alguém lá parar abaixo. Descemos em bom ritmo desde o topo até à grande lagoa e depois de contemplarmos uma última vez a beleza desta obra da natureza voltamos ao Jumbo.
Seguimos de volta para a cidade mas pelo caminho ainda paramos na vila tradicional Ban Xom onde os habitantes locais vendem os seus têxteis artesanais. Á hora a que chegamos, ao final da tarde, já não está muita gente na vila e muitos dos “estabelecimentos” ao longo do caminho de cimento que circunda a vila já estão fechados. Á chegada porém, uma simpática criança que mal se equilibra junto à barraquinha do pai, vem ter connosco e começa a dar-nos carteiras da sua banca. A arte do negócio desde cedo! Continuamos pela vila e nota-se perfeitamente que é um local turístico, mas quando saímos do caminho principal para a a terra batida, podemos ter um vislumbre do que é a vida no campo. As casas de madeira e telhados de colmo e algumas crianças a carregarem baldes de água fazem parte do verdadeiro cenário da vila.
O mercado
De volta a Luang Prabang fomos até ao centro da cidade onde já o “night market” fervilhava na rua do palácio. A rua Sisavangvong fica completamente fechada ao trânsito e repleta de barraquinhas vermelhas e azuis, a cor da bandeira nacional. No mercado encontra-se de tudo e mais alguma coisa, mas principalmente têxteis: roupas, carteiras tecidos, sacos e bolsas, … Cruzamos o mercado e a meio caminho, numa esquina com outra rua estava montado um restaurante, ou melhor dizendo, uma tasca com um bufete vegetariano. A comida tinha acabado de chegar, o dono ainda estava a abrir o estabelecimento quando já os fregueses espreitavam as várias iguarias. E foi ali mesmo que jantamos. Pagamos 10 000 kip (cerca de 1.22$) por um prato e depois podemos servir o que quisermos do bufete, desde que caiba no prato. Provamos de tudo um pouco enquanto conversamos com uns canadianos e coreanos que nos acompanharam no repasto. Depois de jantar ainda continuamos pelas barraquinhas do mercado e depois de algumas compras voltamos ao hotel para descansar.
Os monges
No dia seguinte, acordamos ás 5:30 da manhã para assistirmos a um evento religioso que dizem só ainda acontece em Luang Prabang. Trata-se de uma peregrinação matinal que os monges das várias Vat’s fazem pela cidade para recolher alimentos. Os fiéis juntam-se pelos passeios da cidade para fazerem os seus donativos que podem ser desde arroz, fruta ou mesmo bolachas. É um ritual religioso onde as pessoas buscam a bênção dos monges e estes por sua vez recebem a providência diária. O que acontece porém é que os turistas têm estragado o ritual que era suposto ser solene. Alinham-se quase em cima dos monges para tirarem fotografias e alguns chegam mesmo a “participar” na cerimônia, muito por culpa de alguns oportunistas locais que fazem negócio com a venda de géneros para a oferenda aos monges. A bem da verdade é de realçar que em todos os templos tem uma ou mais placas a explicar este ritual e qual é a forma correta de o apreciar. Apesar disso as pessoas não querem saber, principalmente os locais.

A nossa experiência com a procissão dos monges não correspondeu às expectativas que tínhamos. Chegamos às 6:00 à rua principal conforme nos indicaram no hotel. Pontualmente apareceu uma fila de monges na rua. Eram todos rapazes novos! Assim que chegamos à rua, uma senhora perguntou-nos se não queríamos alimentar os monges. Já estava um grupo de gente no passeio com as suas oferendas. Nós dissemos que não é ficamos do outro lado da rua conforme as instruções para aqueles que não tomam parte da cerimônia para não interferirmos. Assim que os monges passaram, algumas das pessoas que fizeram as oferendas foram “trocadas” por outras que estavam com a tal senhora! Os monges deram meia volta e tornaram a passar no mesmo sítio para recolher as novas oferendas. Percebemos que se tratavam de turistas e que a senhora tem o negócio bem montado e os monges fazem parte dele. É de lamentar como tornam uma tradição e um cerimonial religioso numa atração turística. Mas o que é facto é que nós, os estrangeiros, somos os maiores culpados. A verdade é que estávamos à espera de ver muitos mais monges pela cidade e não apenas este grupo que pouco passava de uma dezena. E eles lá foram de volta para a Vat.
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