Chegamos a Bandung pela manhã provenientes de Kuala Lumpur, a nossa segunda casa aqui no Sudeste Asiático, tantas são as vezes que por lá passamos e que lá ficamos. O aeroporto é minúsculo e as infraestruturas bastante básicas. Parece que estamos a chegar a uma aldeia que por acaso têm uma pista de aterragem. Sim, o aeroporto resume-se praticamente à pista e ainda é partilhado com a aviação militar. Parece que é comum a aviação civil partilhar os mesmos aeroportos que a aviação militar. A presença militar na Indonésia é forte e com um território tão vasto, acabam por estar espalhados por todas as ilhas. Assim o aeroporto de Bandung, como tantos outros, é uma mescla de base militar com um aeroporto civil. Esta simbiose, no entanto, não afeta em nada o normal funcionamento do aeroporto. Descemos do avião diretamente para a pista e temos de caminhar até ao edifício das chegadas. Á chegada somos recebidos por duas grandes figuras da história mundial que o destino decidiu juntar precisamente nesta cidade a alguns anos atrás. O general Suharto e Nelson Mandela figuram no enorme cartaz alusivo às celebrações dos 60 anos da conferência Asia-Africa 2015 que se vai realizar em abril de 2015. A primeira conferência Asia-Africa teve lugar em 1955 e foi marcante para os futuros processos de independência de vários países Africanos e Asiáticos. Nunca os dois continentes estiveram tão próximos e desde então a conferência tem-se realizado regularmente e acabaria por catapultar Bandung para a história da política internacional.
Depois de passada a imigração apanhamos um táxi para o hotel situado na rua Asia-Africa, uma das principais artérias da cidade, que deve o nome também à famosa conferência já referida. O táxi tem um preço fixo. Num quiosque do aeroporto dizemos o nosso destino e dão-nos um bilhete com a tarifa já definida. Depois é só seguirmos para o táxi e embarcarmos. Se não fosse assim isto era capaz de ser uma selvajaria para os taxistas. Pelo caminho encontramos cartazes alusivos à mesma por todo o lado. É um grande evento talvez por isso vermos tantas obras nas estradas e passeios públicos. Afinal Bandung é a terceira maior cidade da Indonésia, depois de Jakarta e Surabaya, e quer estar no seu melhor para receber os seus convidados.
Fizemos o check-in no hotel e pedimos na receção que nos informassem de como ir até ao vulcão Tangkuban Perahu. As rececionistas são muito amigáveis e explicam-nos que podemos apanhar um táxi direto ou então ir de Angkot, o meio de transporte local mais comum. Para irmos de Angkot temos de mudar diversas vezes no percurso mas elas escrevem-nos detalhadamente todos os locais onde temos de trocar.
Os Angkots são um meio de transporte típico na Indonésia, onde os tuk tuk’s não são comuns. Trata-se de umas carrinhas velhas, normalmente a caírem de podres onde se enfiam passageiros até não haver mais espaço. Os Angkots são diferentes de cidade para cidade, mas o conceito é o mesmo. Em Bandung são carrinhas minúsculas de várias cores, tipo as pequenas Piaggio que se veem de vez em quando em Portugal, que fazem determinados percursos. Apesar do aspeto descuidado, o serviço é organizado e as carrinhas têm cores diferentes e indicações dependendo do percurso que fazem. A tarifa depende da distância que percorremos e é fixa (não para os estrangeiros, claro) e bastante económica quando comparado com os táxis. Não há nada que enganar! Apanhamos o primeiro a uns metros de distância do hotel. Não há paragens por isso basta fazermos sinal e entrar. A porta está sempre aberta. Maravilha!!! Durante o percurso de vez em quando entram uns trovadores com cavaquinhos para nos dar musica. Seguem viagem connosco até ao próximo cruzamento. Em viagens mais longas podem aparecer vários e alguns até que têm boas vozes.
O Tangkuban Perahu (https://en.wikipedia.org/wiki/Tangkuban_Perahu) fica bastante afastado da cidade e para lá chegar de Angkot é uma verdadeira aventura. Temos de mudar algumas vezes e ter a certeza de que vamos para o sítio certo, o que não é fácil, pois pouca gente fala Inglês por aqui. Quando já estávamos perto de chegar, apanhamos um condutor chico esperto que nos queria levar mesmo até ao topo do vulcão, mas ao preço de turista claro. Rejeitamos porque queremos o transporte só até à entrada do parque. Depois o resto fazemos por nossa conta. Saímos do Angkot e apanhamos o próximo. Finalmente lá chegamos à entrada do parque. O tempo está meio embrulhado com uns borrifos ameaçadores. Quando vamos comprar o bilhete ficamos abismados com a discriminação que fazem com os estrangeiros. O preço da entrada para os locais é 30 000 IDR enquanto para os estrangeiros é 300 000 IDR É uma vergonha como se pode cobrar 10x mais só por sermos estrangeiros. Para dar uma ideia do absurdo do valor, estamos a pagar por uma noite no hotel Ibis 299 376 IDR com direito a pequeno-almoço. Dá vontade de voltarmos costas e irmos embora, mas depois do trabalho para aqui chegar e como sabemos que é um dos locais mais espetaculares para visitar na zona, decidimos abrir os cordões à bolsa. Eles também sabem disso por isso é que praticam estes preços ridículos. Se os estrangeiros deixassem de aqui vir, se calhar tinham de repensar a política.
Subimos a pé pela estrada no meio da floresta tropical enquanto o tempo continuava a ameaçar com chuva. Da entrada até ao parque dos autocarros ainda são uns quantos quilómetros sempre a subir. O que nos vale é que a carteira está agora menos recheada, depois de pagarmos a entrada, e mais leve, se não, não sei se conseguiríamos subir. Afinal esta gente só quer o nosso bem! No parque apanhamos um mini-bus até ao topo onde estão as crateras. O parque é composto por dois vulcões ainda em atividade. Quando chegamos ao topo está nevoeiro e continuam os aguaceiros. A beleza natural é irrompida pela quantidade absurda de barracas a venderem toda a espécie de bugigangas e pequenos restaurantes improvisados. Por momentos somos levados para uma qualquer medina em Marrocos. O caminho que circunda a cratera principal é todo ele preenchido por barracas de ambos os lados. Cavalos para passear os turistas e vendedores ambulantes de toda a espécie complementam o panorama. É preciso abstrairmo-nos de tudo isto para conseguirmos desfrutar da beleza natural que nos fez vir aqui.
Apesar do nevoeiro, quando nos aproximamos da cratera principal temos uma boa vista. Na base da cratera vê-se o enxofre a ser expelido do interior em pequenas porções, como que a avisar que aquela terra está viva. Só para que saibamos… O céu começa a limpar e as vistas são fantásticas. O cinzento da montanha contrasta com os pequenos lagos azul-turquesa no interior da cratera e as cores da areia. Seguimos à volta da cratera parando nos vários miradouros para disfrutar das várias vistas. O cenário é digno de registo. Á medida que vamos andando, o cheiro a enxofre intensifica-se. Seguimos até à segunda cratera que é a maior do parque, mas descobrimos que o acesso está fechado porque a atividade desta é mais intensa. O guarda explica-nos que fecharam o acesso a alguns anos porque os visitantes teimavam em descer até à base da cratera e depois ficavam intoxicados com os gazes. Seguimos pelo caminho na floresta até um bunker debaixo de umas rochas que foi usado durante a II guerra mundial mas sem muito interesse. No regresso, quando voltamos a passar pelo guarda, ele convida-nos para nos mostrar a cratera fechada! Nós aceitamos de pronto e pelo caminho ele explica-nos que tem pena dos estrangeiros que pagam tanto para entrarem no parque e depois não têm acesso a esta parte. Em conversa contamos de onde somos e mais uma vez de Portugal, só o Cristian Ronaldo. Ele conta-nos um pouco sobre a sua família. Tem dois filhos e já trabalha no parque há alguns anos para sustentar a família. Passamos por uma ponte de madeira bem degradada antes de chegarmos ao topo de onde podemos avistar a cratera e um lago. Ele aponta para umas pedras lá em baixo e diz-nos que as pessoas gostavam de ir lá abaixo deixar coisas escritas com pedras. Agora por questões de segurança não se pode descer. A paisagem é bonita do topo e conseguimos umas boas fotos. Voltamos à casa do guarda e a cancela de acesso volta a ser encerrada. Para além de nós os três, ninguém sabe que estivemos ali. Agradecemos a amabilidade e voltamos enquanto ele se prepara para fechar o dia. O parque encerra às 17:00 e já não temos muito tempo.
Voltamos para apanhar o mini-bus de regresso e enquanto esperamos um jovem mete conversa connosco num inglês fluente. Ele é de Jakarta e está a passear por Bandung com um grupo de amigos. Estudou na Malásia e agora trabalha na capital apesar de não gostar da cidade. Diz que é uma grande confusão de trânsito e de gente sem muito interesse mas é onde há mais trabalho na Indonésia e por isso tem de viver ali. Pergunta-nos de onde somos e claro está, o futebol tem de vir sempre à baila. Mas desta vez é diferente… o rapaz é mesmo apreciador de futebol e não só conhece o Cristiano Ronaldo, mas também o Luís Figo, o Rui Costa e até mesmo o Eusébio! É a primeira vez na Ásia que ouvimos referências a estas velhas glórias do desporto rei! Seguimos juntos no mini-bus até ao parque dos autocarros onde ele e o grupo seguem num autocarro e nós a pé até à entrada do parque. Ai apanhamos um Angkot e lá começa a aventura por entre o trânsito caótico até chegarmos ao centro da cidade.
Chegamos ao centro já noite dentro. Passamos pela praça Alum Alum que está repleta de gente. É um dos pontos centrais da cidade onde os locais se juntam a conversar, a beber e a passar o tempo. O movimento é grande não só na praça mas em todas as ruas das redondezas. Para muita gente a noite está prestes a começar e as entourages começam a preparar-se para sair. Passamos ainda pela mesquita Il Asia-Afrika e fomos jantar na famosa rua Jalan Braga, onde existe a maior oferta de restauração da cidade. Acabamos por comer umas pastas italianas acompanhadas por um grupo de Mariachis improvisados que cantavam música latina para deleite da clientela. Um ambiente deveras internacional!