Capitais Imperiais 2017 – Praga 1/3

Agosto, 2017

Dia 1

Chegamos à estação central de Praga e a primeira coisa que fomos fazer trocar dinheiro. Desta vez de Euros para coroas Checas. Trocamos numa casa de câmbios dentro da estação que nos cobraram 13% de cidade missão, um especial favor porque trocamos 100€. Se trocássemos menos, a comissão seria maior. No final ainda nos deram um folheto para termos um desconto numa próxima vez. Achei que fui enganado, pois nunca paguei uma comissão de câmbio tão alta. Bem vindos a Praga, a cidade mais turística da Europa!

Compramos o bilhete de três dias para os transportes públicos e fomos até ao apartamento onde vamos ficar durante a nossa estadia na cidade. O apartamento fica numa zona residencial a cerca de 10 minutos de elétrico ou autocarro do centro. Junto à entrada temos um supermercado, o que nos vai dar imenso jeito para os próximos dias.

Depois de nos instalarmos e comprarmos alguns mantimentos para o dia, apanhamos o autocarro para a praça da república, no centro. Aí está a decorrer uma feira com barraquinhas a vender petiscos. É mesmo isso que estamos a precisar. Num dos “estabelecimentos” está uma fila enorme, o que desperta a nossa curiosidade. Para além disso há um aroma intenso no ar que parece ser proveniente desse mesmo local. Vamos investigar e descobrimos que é uma venda de Trdelnik, uma espécie de arfada tradicional. A massa é colocada num espeto e depois vai cozinhando na brasa, como se de um frango se tratasse. Forma uma espécie de cone que pode ser comido simples, só com canela, ou recheado com chocolate, entre outras alternativas mais sofisticadas. Já tínhamos visto esta iguaria em Budapeste, mas na altura não prestamos muita atenção porque estávamos mais interessados no Lángos e também porque em Budapeste a banca estava cheia de abelhas por todo o lado. Na altura achamos aquilo estranho, pouco higiénico diria mesmo. Mas afinal parece que as abelhas não eram parvas. Desta vez tivemos de provar o Trdelnik e acabadinho de sair das brasas! Escolhemos um simples para não complicar muito as coisas. Ui………. o que nós fomos fazer ……. Com um toque estaladiço, de paladar doce “qb”, derrete-se na boca e não nas mãos. Afortunados todos aqueles que os degustam. Vai ser certamente um dos nossos companheiros durante a estadia em Praga.

Da praça seguimos a pé para “Staré Mesto”, a parte antiga da cidade. Passamos pela “State house”, um espaço de espetáculos e entramos pela torre da porta da pólvora (powder gate tower), uma das muitas torres de Praga, conhecida também como a cidade das 100 torres. Percorremos as ruas apinhadas de gente e de carros clássicos, isto é …, a imitar os clássicos. Trata-se de veículos de turismo, para fazer aqueles passeios pela cidade, que foram construídos para o efeito a imitar os descapotáveis dos anos 40 e 50. Pelos vistos os turistas acha, piada. Nós também …. ao início, porque depois são tantos que perde a piada.

Chegamos à igreja de nossa senhora de Tyn, numa das praças mais movimentadas da cidade. É nesta praça que encontramos também o monumento a Jan Hus, o líder da reforma protestante uterista. Esta praça tem aliás uma grande importância histórica na reforma protestante, pois aqui foram decapitados num só dia 27 mártires junto ao edifício da câmara municipal, no centro da praça. Esse momento está marcado de forma modesta numa área onde foram colocadas 27 estrelas no chão e que são facilmente ignoradas por quem por ali passa.

De um dos lados do edifício da câmara municipal, numa torre, está o relógio astronómico que concentra grande parte das atenções da praça, os visitantes estão sempre à espera da hora certa para ver o folclore que vai acontecer. Não temos paciência e continuamos a passear pela praça onde existe muita animação de rua. Um grupo todo pomposo, vestido a rigor, canta e dança música tradicional. Vários indivíduos apresentam as suas habilidades para ver quem consegue mais público. Um que nos chama mais a atenção, é um senhor idoso que toca saxofone. O som não é por aí além porque a idade também já não lhe dá mais fôlego. Ainda assim vai concentrando um bom grupo à sua volta.

O velhote (vamos carinhosamente chamar-lhe assim) não só toca, mas também canta. Volta e meia descansa o saxofone e saca da sua voz já meio trêmula. Longe de ser um tenor irresistível ao ouvido, capta a atenção com os clássicos Italianos. De repente um grupo de jovens que por ali passa junta-se à multidão e começam a acompanhar o velhote. A dada altura ocorre um momento mágico! Estamos a ouvir o “Sole mio” de Luciano Pavaroti num arranjo entre a voz trêmula do velhote e um dos jovens que na sua língua nativa canta como peixe na água. Depois desta várias outras se seguiram. O velhote sacou do reportório transalpino e os jovens foram acompanhando e cada vez se junta mais gente. Hoje, a praça é do velhote. Depois de várias árias com os jovens, o velhote mete-se também com uma senhora que o escuta atentamente. Esta, do meio do nada e sem ninguém esperar o que ali vinha, saca de um alto soprano e acompanha o velhote no que resta de uma canção. E assim termina a ópera inesperada. Que momento …

Seguimos pelas ruas empedradas e repletas de gente, sempre com o cheiro dos Trdelnik’s a perseguirem-nos. Sim, porque aqui eles compram-se literalmente em todas as esquinas. E o problema é que é difícil resistir-lhes. Passamos pelo Hard Rock Café e pelo museu da Apple. Quem diria que a marca de Cupertino ia ter um museu em Praga. Hoje não, mas não posso deixar Praga sem visitar o museu.Seguimos o passeio pela famosa rua Karlova. Agora começo a perceber que afinal não fui assim tão enganado na troca de dinheiro. Um dos negócios que mais se vê pela cidade, para além dos Trdelnik’s, são casas de câmbio e estas cobram comissões que em alguns casos chegam aos 20%. É um disparate brutal que nunca pensei ainda existir. Mas aqui é um verdadeiro negócio. Talvez por isso também a República Checa não tenha entrado no Euro.

Depois fomos jantar ao U Parlamentu, uma das recomendações do TripAdvisor escolhido pelo Rika. Afinal, ele é o nosso guia gastronómico nesta viagem. A comida tradicional Checa estava muito gostosa. Foi uma boa escolha. Depois do jantar fomos até à ponte Charles, à ponte mais famosa de Praga. Também conhecida como a ponte da contrarreforma, está enfeitada com muitas estátuas de heróis católicos para fazerem frente aos reformistas cada vez mais proeminentes. Mas hoje pouca gente lhes liga importância. O que prende mais a atenção dos visitantes são os vários vendedores e os artistas de rua que enchem a ponte. Tem um ambiente simpático, ainda que por vezes os aglomerados de gente dificultem a passagem. E lá estão as estátuas dos heróis católicos impávidos e serenos enquanto as multidões vão e vêm de um lado para o outro.

Do lado de lá da ponte continua a rua Karlova até passar para a rua Mostecká na zona de Malá Strana, onde também há muito movimento. Aí não resistimos e tivemos de comer mais um Trdelnik. Desta vez foi de strudel de maçã. Com o aroma constante nas ruas é impossível. Mais tarde ou mais cedo temos de comer e como as variedades são tantas não dá para enjoar.

Regressamos à Staré Město (cidade antiga) e fazemos todo o caminho de volta até à praça da república, onde apanhamos o autocarro de regresso a casa.

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