Capitais Polacas – Cracóvia

Agosto, 2017 |

Dia 1 – Cracóvia

Chegamos à estação de Cracóvia antes da hora prevista. São 07:00 e a azáfama já é grande. A estação de autocarros fica pegada à estação de comboios, muito perto do centro da cidade. Deixamos as mochilas nuns cacifos e saímos para a rua. Mesmo cá fora já se vê muita gente e todos com um semblante mais fresco do que o nosso. Pudera! Depois de uma noite a tentar dormir sentados, estamos todos com cara de poucos amigos.

Vamos para o centro da cidade. Está fresco na rua e por isso decidimos ir até um McDonnalds para tomar uma bebida quente e também para descansarmos e restabelecermos energias. Agora, pela fresquinha damos um passeio por “Stare Masto”, o centro histórico da cidade. Entramos pela porta de São Floriano, a entrada principal da cidade, junto ao Barbican, a torre fortificada ligada às muralhas que circundam a cidade.

 

Visitamos uma secção do museu histórico da cidade de Cracóvia onde assistimos a uma exposição intitulada “Face to Face Auschwitz”. Esta exposição única apresenta-nos um retrato da história pouco conhecido, contado na primeira pessoa. Consiste em vários desenhos elaborados por antigos prisioneiros na clandestinidade dos campos de concentração. Na página oficial de Auschwitz pode ler-se:

“Art created in the horrible reality of Auschwitz is a unique document of the camp’s world, but also a testament to the prisoners’ struggle for their own humanity.”

É um ótimo cartão de visita para o que nos espera no dia seguinte.

Seguimos para a Universidade Jaguelónica, prestigiada instituição que acolheu estudantes tão ilustres como Nicolau Copernicus’s ou o papa João Paulo II. É a universidade mais antiga da Polónia e a segunda mais antiga da Europa central. Está repleta de turistas que visitam o pátio central, a biblioteca e as ruas adjacentes. O edifício de tijoleira sobressai entre a arquitetura da cidade e chama atenção de quem por ali passa, mesmo sem saber do que se trata.

Depois da universidade vamos até à praça central da cidade (Rynek Główny), onde está a decorrer o mercado central com várias barraquinhas. Diz-se por cá que esta é uma das maiores praças medievais da Europa. Ao centro, fica o hall dos panos, um edifício medieval que era usado para o comércio de tecidos (panos), peles, cera, sal, e outras especiarias exóticas, tais como a seda. Ao longo do corredor, no piso térreo, tem várias bancas e no teto estão pendurados vários brasões. É o edifício mais nobre da cidade, onde ainda hoje são recebidos altas figuras de estado e monarcas convidados.

Do lado oposto aquele em que entramos no hall dos panos, fica a basílica de Santa Maria que vai ser o início da nossa rota das igrejas. Segue-se a igreja de St. Bárbara e depois a igreja de S. Adalberto. Passamos também pelo claustro do dominicanos e na igreja de S. Francisco de Assis e o mosteiro da ordem dos franciscanos. Terminamos o trilho religioso na igreja de S. Pedro e S. Paulo, antes de seguirmos para o castelo.

O castelo Wawel, fica nas margens do rio Vistula, muito próximo do centro de Cracóvia e no topo do monte que lhe dá o nome. Do castelo fazem parte também a real basílica dos santos Stanislau e Wencislau. As filas para visitar o interior do castelo (basílica incluída) são muito grandes. Não temos tempo e por isso visitamos só as áreas exteriores, com os jardins extremamente cuidados e a vista fantástica para o rio e para uma das partes mais modernas da cidade.

Lemos algures que há por aquiuma estátua de um dragão que é famosa. Como estamos com um fervoroso adepto do FC Porto, não podemos ir embora sem ver o bicho. Acontece que a estátua fica lá em baixo junto ao rio e para lá chegar temos de dar uma volta enorme à volta do monte ou então descer diretamente num elevador de um dos miradouros do castelo. Claro optaríamos pela segunda opção, não fosse novamente uma fila enorme de pessoas que também querem ir ver o dragão de perto. Como não estamos para isso, avistamos a besta de cima. Mas também acabamos por chegar à conclusão que não merece a pena o trabalho para chegar perto dela. Daqui vê-se bem.

Depois do castelo partimos para outra zona da cidade, fora do centro histórico. Apanhamos o eléctrico para o antigo gueto judeu. Saímos na praça dos heróis onde está uma escultura com 33 cadeiras de ferro, um memorial à tragédia dos judeus polacos. Esta praça que em tempos fervilhava de gente em movimento, hoje é marcada por estas cadeiras inertes vazias.

 

Da praça vamos a pé até à antiga fábrica de Oscar Schindler, um antigo estabelecimento de industria do metal. Hoje é um museu que retrata a vida e o sofrimento dos judeus polacos durante a ocupação das tropas alemãs durante a II guerra mundial. Embora os seus feitos durante o período da guerra sejam reconhecidos por todos, convenhamos que Schindler deve muita da sua fama a Steven Spielberg que o imortalizou na obra “A lista de Schindler”.

Uma curiosidade interessante é que ao que tudo parece, essa lista nunca existiu. É apenas um mito que foi criado e alimentado pelo tempo. Schindler de facto salvou imensos judeus, mas o registo histórico não refere nenhuma lista. Refere isso sim, que o próprio tinha também interesses económicos em manter os judeus a trabalhar para si. Sem querer retirar qualquer mérito ao seu notável feito, não posso deixar de considerar este ponto para uma compreensão correta da história.

A fábrica alberga atualmente dois museus: o museu de arte contemporânea, que fica nas antigas oficinas e uma secção do museu histórico da cidade de Cracóvia. Visitamos apenas este último, o qual está muito bem construído e muito elucidativo. Percorremos as várias áreas da fábrica, passando por várias exposições temáticas. Numa delas estamos imersos na vida do gueto, ouvindo as conversas das pessoas e o ambiente da altura.

São muitas imagens e testemunhos de quem por obra do acaso viria a estar no local errado, no tempo errado, o pior da sua história. Entre os vários testemunhos, encontramos uma nota de um miúdo que tinha cerca de seis anos quando os alemães construíram o gueto. Parte da sua vida de criança foi tentar sobrevier até que com dez anos de idade consegue escapar. O seu nome é Roman Polanski, nome incontornável do cinema norte americano. Galardoado com o Óscar de melhor realizador em 2002, com o filme “O Pianista”, que relata precisamente a história de um pianista judeu polaco que luta pela sobrevivência durante a ocupação Nazi.

Só temos pena de estarmos tão cansados da viagem e por isso não conseguirmos desfrutar plenamente de todo o museu. Recomendo que se visite logo pela manhã e com tempo para absorver toda a história.

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