Era uma vez uma república onde os cidadãos viviam numa sociedade pacata e tranquila. Ali construíam as suas casas, produziam as suas bananas, trocavam as bananas uns com os outros, todos trabalhavam de alguma forma e a vida decorria normalmente. É certo que a vida corria melhor para aqueles que conseguiam crescer mais bananas e menos bem para os que não as tinham.
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Nessa sociedade coexistia também um grupo de símios que para além de não produzirem nada, decidiram armazenar as bananas dos cidadãos, não fossem elas faltar-lhes, aos símios, claro! Começaram por armazenar uma parte da produção, mas a dada altura quase que não deixaram bananas para ninguém. Guardavam tudo, e é claro, comiam bananas quando queriam e quando bem lhes apetecia. Houve um dia porém que os cidadãos se indignaram com tamanha injustiça e decidiram fazer frente aos símios. Houve alguma tenção na república, pois os símios tinham muito poder e controlavam toda a república e os seus cidadãos. Mas no final do dia, os cidadãos lá conseguiram tomar novamente o controlo da sua república. Os símios esses, foram enviados para fora da república, foram comer bananas para outras bandas. Alguns foram para o Brasil, parece que as bananas são mais gostosas por lá.
Depois de toda a agitação ter assentado, começaram a surgir na república, novos grupos de símios, macacos, chimpanzés, gorilas, babuínos, entre outras espécies. Mais sofisticados que os seus antecessores, organizaram-se em bandos e até escolheram cores e símbolos para se identificarem melhor, não fosse alguém confundi-los. A princípio os cidadãos até simpatizaram com eles e partilhavam as suas bananas com o bando com quem mais simpatizavam. Mas assim como os que os precederam, estes símios também não produziam nada, limitavam-se a consumir as bananas dos cidadãos. Os bandos andavam sempre insatisfeitos com as bananas a que conseguiam deitar mão e por isso começaram a digladiar-se. Alguns macacos passaram de uns bandos para os outros sempre com o intuito de conseguirem mais algumas bananas. Todas os bandos foram-se enchendo de bananas, uns mais do que outros como seria de esperar, e em tempos de boa colheita andavam felizes e contentes. Brincavam com tudo o que pudessem deitar mão, ele era bananas nas estradas e nas pontes, exposições megalómanas para mostrarem às outras repúblicas que a sua também era uma república moderna, estádios de futebol cheios de bananas para entreterem os cidadãos, bananas para industrias e empresas fictícias, bancos repletos de bananas (estas mais tarde viria a desobrir-se que estavam estragadas), submarinos e até bananas nos aviões. Tudo servia de brincadeira para a macacada enquanto os cidadãos, esses, continuavam na sua azáfama de produzir cada vez mais bananas. Como se isso não bastasse, ainda convidaram macacos do oriente para virem comer das bananas da republica.
E foi assim na república durante muito tempo. Os cidadãos a produzirem as bananas e os símios a comerem desenfreadamente que nem lordes. Algumas brincadeiras porém corriam mal (muito poucas) e de vez em quando, muito raramente, lá ia um macaco parar à jaula. Na maior parte das vezes, passado pouco tempo conseguia libertar-se e voltar ao bando para continuar a devorar ainda mais bananas. Os cidadãos ainda assim continuavam a apoiar os bandos e a dar-lhes mais bananas. Durante muitos anos, na sua maioria, os cidadãos apoiaram dois bandos alternadamente, cada um mais voraz que o outro.
Hoje essa república outrora florescente está praticamente sem bananas. Os símios expurgaram e destruíram tudo a que deitaram a mão nas suas brincadeiras. Ainda assim, alguns cidadãos (aproximadamente metade da república), ainda continuam a simpatizar com eles e chegam mesmo a pensar que a culpa do estado da república não é dos macacos mas deles próprios!
Finalmente, um dia, os cidadãos da república pensaram (coisa que não estavam muito habituados a fazer) e chegaram à seguinte conclusão: “Esta república é nossa e nós também gostamos de bananas! Porque é que nos hão de andar sempre a comer as nossas bananas?”
E assim todos a uma só voz gritaram:
– “CHEGA DE MACACADA!”.
Nota de autor: Esta texto é a minha versão pessoal da tão popular “República das Bananas” que pode ser onde quer que os homens o permitam. É uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Se dúvidas subsistirem, o último parágrafo atesta a vertente ficcional da obra.
Por Hugo Mártires